O ministro de Estado da Segurança do Reino Unido, Tom Tugendhat, quer extraditar o pirata informático português Diogo Santos Coelho para os Estados Unidos, onde o jovem de 24 anos arrisca uma pena de mais de 50 anos de prisão, ao invés de dar primazia ao pedido de extradição português.

A informação foi avançada pela CNN Portugal que, esta sexta-feira, deu conta de que o juiz britânico que avaliou o pedido português, realizado em fevereiro, decretou a extradição de Diogo Santos Coelho para Portugal, que deveria acontecer no prazo máximo de dez dias. No entanto, e perante a existência de dois pedidos concorrentes, o Ministério Público britânico reencaminhou o caso para o ministro, que tem autoridade para tomar a decisão final.

A defesa do ‘hacker’ tem, agora, três meses para recorrer da decisão junto do tribunal superior britânico, o High Court of Justice, o que poderá ditar a suspensão da deliberação, segundo o mesmo canal.

O jovem foi detido a 31 de janeiro de 2022 no aeroporto de Gatwick, no Reino Unido, quando ia visitar a mãe. No verão passado, a justiça britânica aceitou o pedido de extradição para os Estados Unidos, algo que a defesa recorreu, alegando que "foi diagnosticado com autismo e que corre o risco de pôr fim à sua própria vida caso seja enviado para cumprir sentença numa prisão americana".

Diogo Santos Coelho argumentou ter sido aliciado por adultos desde os 14 anos para cometer os alegados crimes, que estão relacionados com a página RaidForums, da qual é acusado de criar e administrar. O site foi descrito em tribunal como sendo “um mercado para indivíduos comprarem e venderem bases de dados roubadas”, tendo acumulado cerca de 10 mil milhões de registos roubados.

“Tenho medo de que o sistema dos Estados Unidos procure vingança, enquanto vejo os sistemas europeus, mesmo o do Reino Unido e de Portugal, mais inclinados a reabilitar alguém e a reconhecer que era menor de idade, e que fui explorado por adultos. O Ministério do Interior acredita que foi esse o caso”, confessou o jovem, que foi diagnosticado com autismo em 2022, em declarações ao The Guardian.

E continuou: “Muitas vezes fico acordado a noite toda a pensar: 'O que aconteceria se fosse para a América? E se cumprir uma pena longa e sair velho?' Não terei perspetivas de futuro. Isso faz-me pensar qual é o sentido de viver, quando não vou ter vida na prisão, ou se conseguirei passar pela sentença e sair em liberdade. Não vejo uma vida ao ir para a América – seria apenas uma perda de tempo.”

O jovem conto ainda que, alguns anos depois de se mudar para o Reino Unido, o pai comprou-lhe o primeiro computador portátil, aos 11 anos. Como não tinha outros interesses nem amigos, uma vez que não falava inglês e era vítima de bullying, passava muito tempo ao computador.

“Não tinha ninguém com quem conversar, não tinha ninguém na escola porque quase não tinha amigos e a minha única saída era a Internet. O meu pai não me supervisionava; os meus pais não sabem nada de informática”, complementou.

O ‘hacker’ foi mais longe, tendo assegurado que não está a tentar “fugir à Justiça”, mas sim a tentar “ter uma vida e corrigir os erros”.

“Era muito jovem e impressionável [quando ocorreu o alegado crime]. Fui muito ingénuo”, disse.

A defesa de Diogo Santos Coelho considerou que, em Portugal, o jovem provavelmente seria libertado sob fiança. Já nos Estados Unidos, onde é acusado de crimes de conspiração, fraude no acesso a dispositivos e roubo de identidade agravado, passaria meses em prisão preventiva com cuidados de saúde mental inadequados.

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