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Escritor defende que democracia tem de deixar "governo legítimo governar"

O escritor e ensaísta Helder Macedo defende que "um sistema democrático deveria permitir - deve exigir -- que um governo legítimo possa governar", numa das suas crónicas, agora reunidas em livro no volume "Pretextos", a apresentar na terça-feira.

Escritor defende que democracia tem de deixar "governo legítimo governar"
Notícias ao Minuto

19:21 - 23/02/24 por Lusa

Cultura Helder Macedo

Lisboa, 23 fev 2024 (Lusa) -- O escritor e ensaísta Helder Macedo defende que "um sistema democrático deveria permitir - deve exigir -- que um governo legítimo possa governar", numa das suas crónicas, agora reunidas em livro no volume "Pretextos", a apresentar na terça-feira.

"Chegou o tempo de arrumar as estantes. Fui espreitar os arquivos no computador e encontrei estas crónicas e textos afins escritos de 2006 a 2023", escreve o autor, que decidiu dar à estampa esta coletânea pela Editorial Caminho.

Todos os textos coligidos foram publicados no Jornal de Letras, Artes e Ideias (JL), mas Helder Macedo questionou o editor da Caminho, Zeferino Coelho, "se achava que valia a pena, e ele disse que sim".

Entre as crónicas, Macedo incluiu um comentário sobre a poesia de Sophia de Mello Breyner Andresen e a pintura de Menez, publicado em novembro de 2019 num catálogo da Galeria Ratton, em Lisboa, que julga integrar-se no espírito deste livro.

O texto intitula-se "Sophia e Menez: Branco e Vermelho" e, nele, Macedo refere que "o metafórico vai e vem entre a viagem e o retorno, o sonho e o real, a noite o dia, representados nas imagens de Menez, tem significativas correspondências na poesia de Sophia".

"A poeta Sophia de Mello Breyner Andresen e a pintora Menez habitaram um espaço ambíguo entre a memória e o desejo", argumenta Helder Macedo, segundo o qual, "embora correspondendo a tempos, circunstâncias e perceções diferentes, há poemas de Sophia que evocam pinturas de Menez e pinturas de Menez que sugerem poemas de Sophia", embora "não por influência mútua".

O livro "Pretextos", de Helder Macedo, é apresentado na próxima terça-feira, às 19h00, na Sala José Saramago, da Biblioteca do Palácio Galveias, em Lisboa, pela investigadora na área da Cultura Portuguesa Margarida Calafate Ribeiro.

O livro reúne 115 crónicas que abordam os mais diferentes temas. Um deles é a questão da governabilidade, presente em "Os não-governos", crónica datada de abril de 2016, na qual afirma que "um sistema democrático deveria permitir - deve exigir -- que um governo legítimo possa governar. E chegado o fim do seu mandato, possa ser legitimamente substituído".

A literatura é também outro dos temas abordados, através de autores ou prémios literários. Macedo dedica, aliás, uma crónica exclusiva ao Prémio D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus, que recebeu em 2018, pelo seu livro "Camões e Outros Contemporâneos".

Sobre a cerimónia de entrega, que contou com o Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, lê-se: "Foi uma ocasião festiva num ambiente de magia. Embora com câmaras de TV a atrapalharem as portas e magotes de jornalistas que nada tinham a ver com livros e literatura. Ao autor premiado, nem uma pergunta. Era mais um 'saia-me da frente'".

Na área da literatura, entre outros, dedica crónicas a autores como o seu amigo poeta Pedro Tamen (1934-2021), Maria Velho da Costa (1938-2020), Ferreira Gullar (1930-2016), Eduardo Lourenço (1923-2020) e o poeta Alberto de Lacerda (1928-2007), natural de Moçambique, onde Helder Macedo viveu, e de cuja infância, na ex-Lourenço Marques, atual Maputo, recorda, numa das crónicas, as tardes no cinema Scala, os jogos de futebol com amigos, os deveres escolares por fazer e os pores-do-sol.

O ex-Presidente da República Mário Soares (1924-2017) é alvo de uma crónica, datada de 10 de janeiro de 2017, dias depois da sua morte, na qual presta homenagem ao estadista. Macedo considera que Soares não foi um bom primeiro-ministro e reconhece que nem sempre concordou com as suas perspetivas políticas, "mas foi um bom presidente".

Macedo refere que foi convidado para aderir ao PS, "que estava em vias de [se] criar", ainda Soares estava exilado em Paris, mas preferiu "permanecer sem qualquer filiação partidária, considerando prioritária a manutenção de uma mais ampla unidade democrática".

Reconhece todavia que, "sem o Partido Socialista, a democracia portuguesa não teria sobrevivido à invasão planeada [pelo diplomata e ex-secretário de Estado norte-americano] Henry Kissinger em 1975".

Na obra, com um total de 510 páginas, reflete-se um percurso de mais de 80 anos de vida, iniciado ainda estudante de Direito, com a publicação, em 1957, do livro de poemas "Vesperal", ao qual se seguiu, também de poesia, "Das Fronteiras" (1962).

Atualmente Helder Macedo tem publicados mais de 30 títulos, entre poesia, ficção e ensaio, além da coordenação de várias obras e revistas. É o caso de Veredas: Revista da Associação Internacional de Lusitanistas, da qual foi diretor convidado em 2007, para o sétimo volume. Com Maurício Matos, fez a coordenação das Obras de Bernardim Ribeiro (2010).

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