Entre "táticas terroristas" e contratos suspensos, o que se passa na GMG?

Quinta-feira, 19 de janeiro, foi marcada por emoções no jornalismo, não só devido ao arranque do 5.º Congresso de Jornalistas, em Lisboa, como também por saídas na administrações. Após várias saídas, restam agora quatro pessoas na administração: Marco Galinha, José Paulo Fafe, Kevin Ho e António Mendes Ferreira.

Protestos Global Media

© PATRICIA DE MELO MOREIRA/AFP via Getty Images

Notícias ao Minuto com Lusa
19/01/2024 08:59 ‧ 19/01/2024 por Notícias ao Minuto com Lusa

País

Global Media

Entre greves e protestos motivados pelo despedimento de trabalhadores e os salários em atraso no Global Media Group (GMG), janeiro continua a trazer algumas notícias de ‘última hora’ para o grupo.

Na quinta-feira o tema voltou a estar em cima da mesa – na redação, nas ruas e no Congresso de Jornalistas. 

As reivindicações começaram depois de o GMG despedir entre 150 a 200 trabalhadores e de os salários de dezembro terem ficado por receber, assim como o subsídio de Natal. Também os jornalistas em prestação de serviços ficaram sem os pagamentos que lhes são devidos.

Mas, afinal, quando vão ser pagos os salários em atraso?

Segundo o CEO do grupo, João Paulo Fafe, a World Opportunity Fund (WOF), que controla o GMG, só o vai fazer quando existir uma decisão da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC).

“O World Opportunity Fund transmitiu-me no dia de hoje [quinta-feira] a sua indisponibilidade em efetuar qualquer transferência, sem que o Conselho Regulador da Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) conclua o processo administrativo autónomo para a aplicação do art.º 14 da Lei da Transparência, e que pode eventualmente resultar na inibição do exercício dos direitos de voto por parte do WOF", explicou o responsável, em comunicado, acrescentando que o fundo também mostrou a sua "indisponibilidade em efetuar qualquer transferência até que o alegado procedimento cautelar de arresto anunciado publicamente pelo empresário Marco Galinha seja retirado". 

"O comunicado de José Paulo Fafe deixa clara uma ideia repulsiva: não pagam porque não querem", escreveu a redação do jornal O Jogo.E o que dizem os trabalhadores? “Não cedemos a chantagens”

Já os trabalhadores do Jornal de Notícias e d’O Jogo suspenderam os seus contratos, lamentando: "Não podemos deixar de notar a coincidência de os dias de plenário do jornal O Jogo e Jornal de Notícias serem sempre marcados por comunicados da Comissão Executiva (CE)", referiram, num comunicado a que o Notícias ao Minuto teve acesso. Na missiva indicavam que "desta feita, a nota foi apenas assinada por José Paulo Fafe", mas surgiu antes na comunicação social, "apesar dos sucessivos pedidos de esclarecimento levados a cabo pelos representantes dos trabalhadores".

"O comunicado de José Paulo Fafe deixa clara uma ideia repulsiva: Não pagam porque não querem", escreveu a redação do jornal O Jogo.

"Não cedemos a chantagens, pressões e táticas terroristas da CE ou de José Paulo Fafe, que fazem dos trabalhadores autênticos reféns e armas de arremesso", continuaram, apontando que "se a CE não é capaz de solucionar os problemas, que assuma isso e aja em conformidade" lembrando que "há propostas e vias de saída em cima da mesa para todos os títulos". "A situação exige em toda a linha a abertura para uma negociação", destacaram.

Já a ERC 'respondeu' que a questão do pagamento de salários no grupo "não tem absolutamente nada a ver" com o regulador.

Pagamento de salários da Global Media "não tem nada a ver" com a ERC

A Entidade Reguladora para a Comunicação Social (ERC) disse hoje que a questão do pagamento de salários no Global Media Group (GMG) "não tem absolutamente nada a ver" com o regulador.

Lusa | 19:41 - 18/01/2024

De Lisboa para Bruxelas

Numa altura em que a crise no GMG está mais premente, acontece também o 5.º Congresso de Jornalistas, que arrancou na quinta-feira – e com a presença do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa.

À chegada do cinema São Jorge, em Lisboa, o chefe de Estado cumprimentou os trabalhadores do grupo que à porta seguravam uma faixa onde se lia: "Em luta pela defesa dos postos de trabalho".

Marcelo não prestou declarações, mas, durante a abertura do congresso, e sem se referir a este caso particular, pediu “transparência no saber quem lidera o quê” no jornalismo. Apontando que o “jornalismo consegue excelência, apesar da precariedade" e que assim "como todas as paixões resiste ou tenta resistir sem limites", Marcelo diz ser preciso haver "transparência no saber quem lidera e gere o quê na comunicação social,  com que projetos editoriais, com que modelos, com que perfis e viabilidade de dar vida ao setor". O chefe de Estado pediu ainda aos "proprietários e gestores de meios, mais os especialistas nas mudanças científicas, tecnológicas e sociais em curso estejam em constante convergência, interação e prospetivas estratégicas, formando uma plataforma de dialogo e decisão com os jornalistas".

Também a vice-presidente da Comissão Europeia, Vera Jourová, se pronunciou sobre o assunto, numa mensagem transmitida no congresso. “Sei que os desafios [do setor] são bem conhecidos em Portugal, como evidenciado pela situação na Global Media. Espero que seja encontrada uma solução rápida e sustentável", afirmou, expressando a solidariedade para com os jornalistas do grupo, que "continuam a preencher as páginas", apesar de não receberem os seus salários.

A comissária europeia apontou ainda que o congresso acontece numa altura em que em Portugal se celebram 50 anos de democracia, vincando que não há democracia sem liberdade de imprensa.

As saídas

Depois de uma quinta-feira marcante e de o Global Media Group já ser ‘primeira página’ não só em Portugal como também em Bruxelas, a porta foi aberta na administração.

Paulo Lima de Carvalho foi o primeiro a deixar ontem o conselho de administração e a comissão executiva, denunciando a "permanente asfixia financeira onde nem sequer nos é possível assegurar os compromissos já existentes, designadamente remunerações, quanto mais desenvolver qualquer tipo de projetos".

Segundo a carta de renúncia enviada ao presidente do conselho de administração, Marco Galinha, e ao presidente da comissão executiva, José Paulo Fafe, o agora ex-administrador sublinha também que o incumprimento das obrigações contratuais para com os trabalhadores dos diversos meios de comunicação do GMG deu-lhe uma "elevadíssima exposição negativa", defendendo ser "totalmente alheio" às responsabilidades pela crise no grupo.

Mas esta porta ficou entreaberta e, mais tarde, também o administrador executivo Filipe Nascimento decidiu sair. Invocando “justa causa”, o até agora responsável pela área financeira assumiu alguma “magoa e consternação” com condições que não estavam a ser cumpridas. "Não posso admitir que o meu nome seja arrastado para uma batalha de oportunismos empresariais, e também políticos, bem como de egos e guerras de um mercado que está demasiado prisioneiro de interesses conflituantes, nem todos preocupados com a sobrevivência e sustentabilidade das marcas jornalísticas", explicou.

Além de Filipe Nascimento e Paulo Lima de Carvalho, a administração da Global Media já perdeu mais elementos em apenas um mês. O administrador executivo Diogo Agostinho anunciou a saída em dezembro e, segundo o Expresso, seguiram-se os abandonos dos administradores não executivos Carlos Beja e Victor Menezes.

Perante este cenário, restam na administração do GMG Marco Galinha, José Paulo Fafe, Kevin Ho e António Mendes Ferreira.

Leia Também: Jornalistas apontam ataques, ingerência e "terrorismo" na Global Media

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