O constitucionalista e antigo eurodeputado socialista Vital Moreira considerou, na quinta-feira, que ter Mário Centeno como próximo primeiro-ministro - proposta que António Costa fez a Marcelo Rebelo de Sousa - seria algo positivo.
Só que, retorquiu, "talvez demasiado assertivo para os gostos de Belém, que há de preferir um perfil mais 'mole' em São Bento".
Num artigo publicado no blogue Causa Nossa, Vital Moreira disse que "um país que não aproveita a oportunidade para ter um chefe do Governo assim não merece a proteção dos deuses da política".
O antigo eurodeputado considera "um mau negócio" que, em vez de empossar Mário Centeno como primeiro-ministro, tenha convocado eleições antecipadas.
No mesmo artigo, o constitucionalista argumentou que "com a sua mal urdida mas oportuna pseudoinvestigação penal, o Ministério Público conseguiu não somente a demissão do Governo, mas também, com a ajuda do Presidente da República - que há muito procurava um bom pretexto para isso -, fazer dissolver a Assembleia da República e convocar eleições, interrompendo a legislatura".
É a primeira vez que acontece num contexto de maioria absoluta, realçou Vital Moreira, lamentando que o país fique "novamente num ciclo de incerteza política, que há de provavelmente dar em eleições inconclusivas, num parlamento mais fragmentado e na dificuldade acrescida de formar um Governo politicamente consistente com perspetivas de durabilidade".
"Como cereja em cima do bolo, o primeiro-ministro demissionário vai ser obrigado a manter-se em funções à frente do 'governo de gestão', ou seja, sem poderes efetivos, durante meses e meses (até a formação do novo Governo depois das eleições, lá para abril)", acusou também, numa situação em que António Costa fica "sem a liberdade de expressão e de ação que a sua situação de 'inquirido' exigia".
"A somar à injusta demissão, é uma violência gratuita e um sacrifício pessoal inglório. Quem desencadeou este processo, sabendo onde ele poderia chegar, merece aplauso pelo seu êxito total. Melhor seria impossível. Chapeau!", concluiu.
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