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Gonçalo sofre de doença incurável. Quer ser exemplo de superação

Em Portugal, estima-se que existam 147 casos de atrofia muscular espinhal. O jovem, de 23 anos, é um deles. Ao Notícias ao Minuto, recorda como encarou o diagnóstico e conta como (con)vive com a doença.

Gonçalo sofre de doença incurável. Quer ser exemplo de superação

Quando Gonçalo Alves nasceu, nada fazia prever que sofria de atrofia muscular espinhal (AME), uma doença rara neuromuscular que causa paralisia progressiva e perda de capacidades motoras, afetando todos os músculos do corpo. Aos poucos, os médicos foram percebendo que não era totalmente saudável. O diagnóstico chegou aos nove anos e "não foi um processo fácil", recorda o jovem, em conversa com o Notícias ao Minuto. 'Porquê eu?'. A pergunta é inevitável. São muitas questões para poucas certezas.

Gonçalo, de 23 anos, lembra que as adversidades são constantes e diárias. A doença impõe vários cuidados, mas escondê-la nunca foi uma solução para si. Na sua rotina, um dos maiores desafios com que se depara "é o sentimento de insegurança", admite.

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Entre os seus muitos planos, encontra-se o marketing. O jovem estudante está já no segundo ano do curso, que concilia com um part-time de operador de caixa. Decidido a nunca deixar nada por fazer, trabalha desde os 17 anos e é à família que vai buscar forças. Vive com a mãe, uma das pessoas à sua volta que "tornam a doença mais fácil de lidar". "São capazes de olhar para mim como alguém 'normal', algo muito importante na integração de pessoas com mobilidade reduzida na sociedade."

O nosso país não se encontra preparado para lidar com o dia a dia de pessoas de mobilidade reduzida. Se não tivesse caso próprio, todos os dias seriam um desafio. Ou porque o elevador mais próximo não existe ou porque o autocarro é antigo e não tem rampa de acesso"Embora consiga andar sem ajuda", vê-se obrigado a fazer "pausas frequentes" nos dias em que não conduz. "Tenho de estar constantemente atento, quer seja a uma pedra no passeio ou num cão que esteja a correr na minha direção, porque por mais que eu queira fazer uma festa nele, basta um empurrão do animal e posso acabar por cair e aleijar-me. Digo isto por experiência própria."

Acontece muitas vezes ter de optar por um caminho diferente, "especialmente em Lisboa, onde os acessos são tão difíceis". Gonçalo lamenta: "O nosso país não se encontra preparado para lidar com o dia a dia de pessoas de mobilidade reduzida. Se não tivesse caso próprio, todos os dias seriam um desafio. Ou porque o elevador mais próximo não existe ou porque o autocarro é antigo e não tem rampa de acesso."

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Em Portugal, estima-se que existam 147 casos de AME. Trata-se de uma "forma genética de doença do neurónio motor que se caracteriza pela degeneração do segundo neurónio motor ao nível do tronco cerebral e medula espinhal", explica o médico neurologista Miguel Oliveira Santos, do Hospital Santa Maria/Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte. Nos adultos, pode causar sintomas "mais ligeiros", mas não deixa de ser "progressiva e incapacitante". "A perda de massa muscular e a falta de força associada pode ter um claro impacto no dia a dia dos doentes. Manifesta-se no levantar do chão ou de uma cadeira, a subir e descer escadas, a caminhar, carregar pesos, comunicar, deglutir, na força da tosse e até no próprio processo respiratório."

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Para Gonçalo, continua a existir um estigma sobre quem sofre deste tipo de doenças, "sobretudo em contexto profissional". É uma das maiores barreiras que têm de enfrentar. É por isso que "as pessoas com problemas de mobilidade devem dar o seu exemplo, exercendo a sua função na sociedade. Todos os dias, alguém com mobilidade reduzida que vai trabalhar é uma lição e inspiração para todos à sua volta", defende.

Até à data, falharam todas as investigações para encontrar a cura para a AME. Todavia, estão disponíveis fármacos que retardam a progressão da doença. "Atualmente, estão disponíveis três fármacos distintos, mas com objetivos comuns: desacelerar a progressão da doença e conduzir a ganhos nas funções motora e respiratória, por exemplo", aponta o médico Miguel Oliveira Santos. No entanto, "a disponibilidade dos fármacos depende do tipo de AME" e "a decisão passa sempre pela articulação com o neurologista/neuropediatra assistente".

Além do tratamento farmacológico, "é fundamental a articulação com as equipas de medicina física e reabilitação e, entre outras, de cuidados respiratórios, para prevenir complicações relacionadas com a imobilidade e fraqueza dos músculos responsáveis pelos mecanismos da tosse e da respiração".

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