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Belmira Santos é professora há 30 anos e ganha igual a recém-contratados

Os trabalhadores não docentes estão hoje em greve, como é o caso de Belmira Santos que trabalha numa escola há três décadas e ganha o mesmo que alguém recém-chegado, ou seja, o salário mínimo.

Belmira Santos é professora há 30 anos e ganha igual a recém-contratados
Notícias ao Minuto

11:43 - 03/03/23 por Lusa

País Greve

Belmira Santos foi uma das mulheres que hoje de manhã trocou os corredores da Escola Artística António Arroio, em Lisboa, pela entrada principal da escola, onde se juntou a dezenas de colegas em protesto por melhores salários e condições de trabalho.

Os últimos trinta anos de Belmira foram passados a trabalhar ali, uma experiência que diz não se refletir no salário: "Ganho exatamente o mesmo que os meus colegas que chegaram agora. Sinto-me frustrada", lamentou em declarações à Lusa, sublinhando que o problema não é dos ordenados dos colegas.

Todos ganham o salário mínimo, que aumentou em janeiro, mas quase não passa os 700 euros limpos, entre tirar os descontos obrigatórios e somar os devidos subsídios, como o de alimentação.

"A primeira coisa que faço quando recebo é pagar as contas e se sobrar vou ao supermercado comprar comida", desabafou, explicando que é também por isto que uma das principais reivindicações do pessoal não docente é a valorização salarial que tem de ter em conta a antiguidade.

Tal como acontece com os docentes, também os assistentes operacionais são uma classe envelhecida que se sente desmotivada e desvalorizada, alertou Artur Sequeira, da Federação Nacional dos Sindicatos dos Trabalhadores em Funções Públicas e Sociais (FNSTFPS).

Belmira Santos já deveria estar reformada, mas as contas feitas pela Segurança Social ditaram que teria de continuar a trabalhar: "Ia receber 400 euros de reforma e não iria conseguir sobreviver com isso, por isso continuo a trabalhar", disse à Lusa a mulher de 68 anos.

Em 30 anos, Belmira passou por todas as funções na escola, "desde a vassoura até ao computador", agora está responsável por dar apoio e garantir a segurança dos alunos nos recreios e corredores.

Mas os assistentes operacionais também são chamados quando é preciso "acompanhar os alunos ao hospital, além de serem verdadeiros psicólogos".

"Muitas vezes nós somos quem primeiro identifica que há um problema, até porque é connosco que eles vêm ter quando precisam. Também tratamos dos alunos de ensino especial, apesar de não termos qualquer formação para isso", acrescentou Cristina Melo, de 58 anos, que hoje também esteve na rua em protesto.

Cristina Melo trabalha no bar da António Arroio. A assistente operacional começou a trabalhar aos 14 anos e, nos últimos 28 anos, foi funcionária em escolas.

Tal como Belmira, também leva o salário mínimo para casa: "A gente sobrevive como pode. Isto está muito difícil porque os preços estão todos a subir e os salários não estão a acompanhar", diz a funcionária que também já "passou por todas as funções na escola".

A colega Ana Ramos contou à Lusa que já foi chamada a uma sala de aula porque a professora não conseguia separar os alunos. Foi a funcionária que os separou e tirou da sala para que a professora conseguisse continuar a dar a aula.

Artur Sequeira diz que faltam assistentes operacionais nas escolas e que os poucos que existem desdobram-se em funções.

Por isso, o sindicalista defende a revisão da atual portaria de rácios que define quantos trabalhadores tem cada escola, devendo passar a ter em conta situações como o contexto social dos estabelecimentos de ensino mas também a idade dos trabalhadores: "Pessoas de 62 ou 63 anos não conseguem desempenhar as mesmas funções que um jovem de 25 anos", alertou Artur Sequeira.

Todas as trabalhadoras que falaram com a Lusa exigem o regresso de uma carreira especifica, tal como havia até 2008, e lembram a importância de quem trabalha nas escolas e lida diariamente com criança e jovens.

Segundo o FNSTFPS, a greve dos trabalhadores não docentes está a ter uma adesão superior a 85%.

Além desta paralisação, hoje decorre também uma greve de professores das escolas dos distritos a sul de Leiria, que foi convocada pela plataforma de nove estruturas sindicais, entre as quais se encontram a Federação Nacional de Professores (Fenprof) e a Federação Nacional da Educação (FNE), assim como continua a greve iniciada pelo Sindicato de Todos os Profissionais da Educação (STOP) em dezembro que engloba todos os trabalhadores das escolas.

Leia Também: Greve de pessoal não docente com adesão acima de 85%, diz sindicato

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