"Guerra popular sagrada contra o Ocidente". O novo nome da invasão russa?
O comentador José Milhazes disse, esta sexta-feira, que existe a tese de que o presidente russo possa vir a "chamar à invasão uma guerra popular sagrada contra o Ocidente" já bastante em breve.
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País José Milhazes
O comentador da SIC José Milhazes, no seu habitual espaço de comentário no 'Jornal da Noite', proferiu algumas considerações acerca do discurso que o presidente russo, Vladimir Putin, se prepara para fazer no dia 21 de fevereiro, sobre o estado da Nação.
Ainda que exista a possibilidade de, nesta declaração perante a Assembleia Federal - que reúne as duas câmaras do parlamento russo - o chefe de Estado do país não apresentar grandes alterações face às anteriores comunicações públicas, José Milhazes alertou para uma outra possibilidade.
"Alguns deputados, e até Sergei Lavrov (o ministro dos Negócios Estrangeiros do país), afirmam que uma das teses centrais" quanto a este discurso é a de que Vladimir Putin "vai declarar como concluída a operação militar especial na Ucrânia e que passará a chamar à invasão uma guerra popular sagrada contra o Ocidente".
Para tal, elaborou o escritor e jornalista, o presidente russo vai "justificar-se com o apoio militar concedido pelos países ocidentais aos ucranianos" - que, recentemente, cederam no envio de tanques de combate para ajudar o país invadido pela Rússia a fazer face às investidas.
Sobre este tema, José Milhazes lembrou que "alguns dirigentes russos" têm, efetivamente, alertado para que "a partir do momento em que os países da NATO fornecem armamentos" às tropas de Kyiv, os mesmos "podem ser alvo de ataques russos, dentro do território da Ucrânia".
"No dia seguinte" a este discurso sobre o estado da Nação, recordou o comentador, "vai haver uma reunião extraordinária das duas câmaras do parlamento" russo. Tal pode "significar a declaração de uma mobilização geral e a declaração do estado marcial - ou nas zonas ocidentais da Rússia, perto da fronteira, ou até mesmo em todo o país", elaborou.
É preciso, portanto, analisar aquela que será a "resposta" russa à Conferência de Segurança de Munique - que entre esta sexta-feira e domingo juntará governantes internacionais para avaliar questões de Defesa numa perspetiva euro-atlântica. "Se Putin fizer um discurso fraco (no dia 21), depois de tantas perdas na Ucrânia, pode começar a cair um pouco no ridículo", defendeu o jornalista.
Apesar de todas essas baixas no campo de batalha, recordou Milhazes, a verdade é que as "autoridades russas não se cansam de dizer que está tudo a correr segundo o planeado". Porém, facto é que o Ministério da Defesa da Rússia optou por substituir, esta sexta-feira, "quatro dos cinco comandantes das regiões militares da Rússia" - o que, na ótica do comentador, significa "substituir peças fundamentais durante a guerra". Ou seja, tal mostra que, no fundo, "alguma coisa deve estar a correr mal no contexto desta invasão.
Mas, destacou ainda o historiador, em cima da mesa está também a "possibilidade" do Ministério da Defesa russo estar a tentar fazer com que o grupo paramilitar Wagner "deixe de ser independente e passe a obedecer às forças armadas de uma vez por todas".
"O certo é que, para se mudar tantos generais, terá de se mudar alguma coisa de muito importante em termos táticos e estratégicos. Daí que isto possa significar o endurecimento das posições russas", concluiu José Milhazes, a propósito do tema. Porém, destacou ainda, "alguns analistas" dizem que, no fundo, "não vai mudar grande coisa" na realidade da guerra - e que, na verdade, tais mudanças nas lideranças militares "não serão suficientes para conduzir (a Rússia) "aos êxitos que são necessários".
Desde o princípio da invasão, a 24 de fevereiro, os países da NATO e da União Europeia apressaram-se a disponibilizar apoio financeiro, militar e humanitário para ajudar o país a fazer face à investida da Rússia. O país invasor, por sua vez, foi alvo de pacotes de sanções consecutivos (e concertados) aplicados pelos parceiros de Kyiv.
A guerra na Ucrânia tirou já a vida a mais de sete mil civis, com outros 11 mil a terem ficado feridos, segundo os cálculos da Organização das Nações Unidas (ONU).
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