Setúbal. Autarca nega "comentar" e é acusado de "trapalhada e arrogância"
André Martins afirma que, "a partir deste momento, evitaremos comentar" polémica com o acolhimento de refugiados ucranianos por russos.
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País Acolhimento
A Câmara de Setúbal foi esta quarta-feira oficialmente informada do início das diligências para apurar eventuais falhas na receção de refugiados ucranianos.
A revelação foi feita pelo presidente da Câmara de Setúbal, André Martins, que prestou, esta quarta-feira, mais explicações sobre o acolhimento de ucranianos por russos na Assembleia Municipal de Setúbal, tendo focado as suas declarações no pós-denúncia da embaixadora da Ucrânia em Portugal.
Numa descrição dos factos desde o momento em que enviou uma carta ao primeiro-ministro, dia 9 de abril, até hoje, o autarca afirma que "a partir deste momento, evitaremos voltar a comentar publicamente este assunto", até que haja uma conclusão da investigação.
A posição do autarca foi anunciada na sequência da decisão do Governo de ordenar uma investigação ao município pela Comissão Nacional de Proteção de Dados (CNPD) e uma sindicância a realizar pela Inspeção-Geral de Finanças, face às denúncias de alegadas irregularidades no acolhimento de refugiados ucranianos, que foram recebidos na autarquia sadina por cidadãos de origem russa.
Fernando Negrão, que foi candidato à Câmara de Setúbal, considera que a discussão sobre os factos deve ser feita agora e não apenas sobre os factos após a denúncia da embaixadora da Ucrânia em Portugal.
"Se não discutirmos isto aqui, no âmbito da Câmara, o que fazemos aqui?", questionou lembrando que o acolhimento de refugiados no município é uma matéria que vai ser objeto de uma ampla discussão pública, designadamente na Assembleia da República. Negrão sublinhou ainda que "o assunto é incómodo, mas temos de o discutir".
O deputado deixou um conjunto de perguntas ao presidente do município sobre a associação de imigrantes na origem da polémica, sobre o conhecimento que a autarquia tinha dessa associação, questionando também se a associação fotocopiou documentos e se estava ligada a entidades estrangeiras, designadamente à Rússia.
O autarca do PSD perguntou ainda por que razão a atual maioria CDU não se apercebeu que "não fazia sentido cidadãos russos acolherem cidadãos ucranianos, em tempo de guerra entre os dois países", mas não obteve respostas.
Já o deputado do PS, Fernando José, também tomou a palavra, acabando por acusar o autarca de "atitude de arrogância desde o início do mandato". "Os setubalenses não merecem esta trapalhada", apontou o socialista.
"Neste momento, e não havendo processos concluídos, cabe ao presidente da autarquia responder se tem ou não tem condições para continuar neste momento", disse o autarca socialista, que também remeteu uma reavaliação de todo o processo, por parte do PS, para depois de concluídas as investigações hoje anunciadas.
Recorde-se que a Câmara de Setúbal tem estado debaixo de fogo desde que o jornal Expresso denunciou, no passado dia 29 de abril, casos de acolhimento de refugiados ucranianos por parte de russos pró-Kremlin, tendo estes, inclusive, feito questões sobre os familiares dos acolhidos que permaneciam na Ucrânia.
Nesse mesmo dia, a Câmara de Setúbal retirou do acolhimento de cidadãos ucranianos a técnica superior de origem russa Yulia Khashin e anunciou que ia pedir ao Ministério da Administração Interna que proceda a uma averiguação sobre a receção de refugiados por russos alegadamente pró-Putin.
Num esclarecimento feito pela autarquia, era ainda afirmado que, depois de tomar conhecimento de afirmações proferidas, no dia 8 de abril, pela embaixadora da Ucrânia em Portugal relativamente à Associação dos Emigrantes de Leste (Edintsvo), questionou formalmente o próprio primeiro-ministro, António Costa, através do envio de uma carta.
Por sua vez, primeiro-ministro reagiu em comunicado e afirmou que a carta do autarca de Setúbal a Costa é um "protesto" e não solicita informações.
"Na referida carta não é solicitada qualquer informação sobre a Associação EDINSTVO, nem sobre o cidadão Igor Khashin", reitera ainda a missiva.
André Martins alega que questionou formalmente o próprio primeiro-ministro, António Costa "no próprio dia, por ofício", pedindo que o chefe do Governo se pronunciasse sobre as declarações e "esclarecesse com a maior brevidade possível se o Alto Comissariado para as Migrações mantinha a confiança nesta associação".
[Notícia atualizada às 21h57]
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