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Putin é "um produto do ressentimento" e um "autocrata", diz Durão Barroso

O ex-presidente da Comissão Europeia afirma que esta "é a guerra do senhor Putin" e recorda que, em 2014, o presidente russo lhe disse que conseguiria "tomar Kyiv em duas semanas".

Putin é "um produto do ressentimento" e um "autocrata", diz Durão Barroso

Durão Barroso, ex-presidente da Comissão Europeia, considerou, esta sexta-feira, que o presidente russo, Vladimir Putin, tem um “ressentimento profundo” pela queda da Rússia e que a invasão da Ucrânia está relacionada com a “ocidentalização” e "europeização" do país.

“A situação mudou e a perceção dele [Putin] mudou porque ele acha, neste momento, que a Rússia está mais forte, sobretudo depois da Síria, e o Ocidente mais fraco, nomeadamente os Estados Unidos, depois do Afeganistão. Também viu que a Ucrânia estava a ficar cada vez mais ocidentalizada e europeizada e, no fundo, queria uma Ucrânia como a Bielorrússia, que pudesse controlar completamente, e achou que podia intervir agora por achar que tem mais força económica e por ter modernizado as suas Forças Armadas”, começou por explicar o ex-primeiro-ministro, em entrevista à CNN Portugal.

Na ótica de Durão Barroso, Putin é “um produto do ressentimento” e um “autocrata” que pretende “manter o seu poder e o poder dos que lhe estão próximos”.

“Esta é uma guerra de uma pessoa. Por exemplo, no tempo da União Soviética, o partido comunista - pudesse gostar-se ou não - era uma instituição, as decisões não eram tomadas todas por uma pessoa. Neste caso, é de facto a guerra do senhor Putin”, acrescentou.

O político frisa que “não há um grande entusiasmo na Rússia por esta guerra” apesar de o “fator nacionalista” levar ao apoio da política de Putin. “Mas não há liberdade de informação. A verdade é que muitos russos - a maioria da população russa - a ‘verdade’ oficial do senhor Putin”, advertiu.

Durão Barroso diz ainda que não se “orgulha” dos 25 encontros que teve com o líder russo enquanto era presidente da Comissão Europeia e conta que o confrontou sobre a invasão russa da Crimeia, em 2014.  Na altura, Putin “garantiu” que “o que estava na Crimeia” não eram Forças Armadas russas, mas sim “russos que estavam a passar férias e foram chamados pelos seus irmãos, uma espécie de milícias” e que se o exército russo estivesse, de facto, na Crimeia, seria possível “tomar Kyiv em menos de duas semanas”.

“Eu contei isto aos meus colegas do Conselho Europeu. Houve até uma fuga [de informação] para um jornal italiano e o Kremlin não gostou da fuga, mas não a desmentiu e disse apenas que estava tirada fora do contexto”, explicou.

Para Durão Barroso, as declarações de Putin, há mais de sete anos, foram já uma “manifestação de um desejo”. “Nós, mesmo quando não queremos, manifestamos desejos implícitos e foi isso que se passou nessa altura. Ou seja, no fundo, Putin não aceita uma Ucrânia independente. Nega a própria existência da Ucrânia como nação independente”, frisou.

E vai mais longe: a invasão da Ucrânia nada tem que ver com a possível adesão do país à NATO, mas sim com o facto de Putin “não querer” que o país faça parte do “estilo de vida” europeu e ocidental. 

“Ele queria que [a Ucrânia] fosse uma espécie de Bielorrússia do Sul. Mas a Ucrânia não o é e está cada vez mais ligada à Europa e vê o que se passa na Polónia - um país que cresceu imenso desde a sua adesão à União Europeia”, considerou. 

Durão Barroso reconhece que “talvez” a União Europeia “tenha subestimado" as intenções de Putin, mas “na altura não havia ainda esta consciência nem estavam as opiniões públicas preparadas” e que agora as medidas e sanções impostas à Rússia são “sem precedentes”. 

E deixa o alerta: "Putin não vai recuar no seu objetivo, não vai deixar impressionar-se por estas sanções, mesmo que sejam mais fortes do que ele esperava, nem pelo isolamento da comunidade internacional. Vai até ao fim naquele objetivo que é neutralizar a capacidade da Ucrânia de ter uma existência autónoma”. 

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