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Como explicar a guerra na Ucrânia às crianças? 9 dicas que podem ajudar

Mais tarde ou mais cedo, as crianças serão confrontadas com a guerra que se iniciou. Mas como explicar? "Note-se que a criança nunca é demasiado pequena para falar a verdade", indica uma psicóloga clínica contactada pelo Notícias ao Minuto.

Como explicar a guerra na Ucrânia às crianças? 9 dicas que podem ajudar

O tema está na ordem do dia e, inevitavelmente, as nossas crianças vão deparar-se com o conflito que escala entre Rússia e Ucrânia. Seja na televisão, nas redes sociais, ou em conversa com os colegas. 

É preciso explicar o que se passa, aproveitando a guerra para educar para a não violência. Porém, sem alarmismos. O Notícias ao Minuto falou com Vera de Melo e com Filipa Jardim da Silva, psicólogas clínicas, que deixam dicas de como abordar o tema, a que idades, e com que tipo de linguagem.

"Note-se que a criança nunca é demasiado pequena para falar a verdade", começa por considerar Vera de Melo, que não tem dúvidas de que este tem deve ser abordado pelos pais. 

"Não podemos esconder às crianças a realidade, ainda que essa realidade possa ser complexa, dura e cruel. Retirá-las do problema é retirá-las do mundo em que vivem", considera. A partir de hoje e quem sabe durante quanto tempo a informação vai entrar-nos "pela casa dentro” via televisão, rádio, jornais, Internet, imagens de guerra.  Nos cafés, nos transportes fala-se do tema, nas redes sociais ele abundará e também na escola as crianças falam umas com as outras.  Para a psicóloga, será impossível que as crianças não se apercebam do conflito existente entre a Rússia e a Ucrânia, pelo que "cabe aos pais, tranquilizar e tranquilizar as crianças, fornecendo a informação certa"

Também Filipa Jardim da Silva considera importante que os pais tenham esta conversa. "Independentemente da faixa etária, o ser humano, de qualquer idade, necessita de sentir segurança. Por isso, em primeiro lugar é importante que os adultos façam a sua própria triagem de fontes de informação e que regulem as suas emoções momento a momento", diz-nos.  Para a Psicóloga Clínica, Coach e Fundadora da Academia Transformar, "só assim, conseguirão ser fontes de informação fidedignas para as suas crianças". "Foi assim na era covid, é assim agora", reitera, lembrando que os adultos devem fazer um trabalho de "regulação emocional" para mostrar "segurança e clareza, respondendo a medos e inquietudes que podem surgir", na criança.  

A partir de que idade se deve ter esta conversa?

Na opinião de Vera de Melo, "não há uma idade certa para se falar sobre a realidade". Caberá a cada pai, educador, que conhece a criança perceber se faz sentido abordar o tema, "tendo sempre em atenção a idiossincrasia da criança". 

Contudo, tendo sempre em atenção as circunstâncias específicas de cada criança, na opinião de Filipa Jardim da Silva, até aos 7 ou 8  anos, é preferível "só falar do tema se a criança trouxer o assunto".

"A imaturidade cognitiva desta faixa etária torna mais complexo a compreensão de algo como uma guerra e o principal receio é relativo à possibilidade de perderem os pais", afirma. Assim, até esta idade, se a criança falar sobre o tema ou fizer perguntas é importante que o adulto "responda de forma simples, de um lugar emocional que emane segurança e tranquilidade" e tendo claro qual é a mensagem chave que quer passar com a partilha.

A psicóloga dá exemplos de frases que pode 'ter à mão' como auxílio:

"Existe uma guerra, mas é distante e nós estamos seguros aqui" - Informação adicional deve ser dada apenas consoante as perguntas que a criança fizer.

"O que é uma guerra?" - Exemplo de resposta: "As guerras [acontecem] quando as pessoas andam a lutar umas contra as outras. As guerras são sempre más. Mas nós estamos em segurança aqui"-

"E estão a lutar porquê?" - Exemplo de resposta: "Estão a lutar para decidir quem vai mandar num sítio, quem vai ter mais poder"

Filipa Jardim da Silva considera "essencial que os pais se mantenham abertos ao diálogo" até notarem que as dúvidas e inquietude da criança ficaram respondidas e apaziguadas. De uma forma geral, e para todas as faixas etárias, é uma boa prática proteger os mais novos de conteúdos televisivos que se possam revelar traumáticos, considera ainda. 

"Pode acrescentar-se que já existiram várias guerras e que infelizmente o homem de tempos a tempos cai no mesmo erro por ganância, por falta de diálogo. Esta torna se uma oportunidade assim, de passar mensagens educativas sobre a relevância de comunicarmos uns com os outros através de palavras e não andarmos a magoar-nos porque queremos algo que não é nosso, sobre a importância de nos respeitarmos a todos na comunidade em que vivemos", acrescenta ainda. 

O tom e informação passada altera um pouco quando já chegamos à etapa dos 12 anos, fase em que a criança está exposta a muita informação, considera Filipa.

"Nos adolescentes a partir dos 12 anos é preferível que os pais abram um canal de comunicação voluntário e que lhes perguntem diretamente o que é que eles sabem sobre este tema da guerra, onde é que estão a recolher informação e o que pensam sobre este acontecimento", ressalva. 

Aqui, importa ainda alertar os jovens para a fácil proliferação de notícias falsas nestas alturas, orientando-os para "procurarem uma fonte fidedigna de informação." Nesta faixa etária, os pais podem ajudar os filhos a criar um pensamento crítico sobre a temática da guerra e a reforçar valores positivos como a cidadania, respeito pelo outro, não à violência, empatia e inteligência emocional, diz, ainda, a psicóloga Filipa Jardim da Silva.

O que ter em mente antes de iniciar a conversa com a sua criança

Vera de Melo, psicóloga clínica, comentadora e Ceo da Set Goals, deixa aos pais algumas dicas a ter em conta para preparar a conversa com as suas crianças:

1 - Não negue a realidade e aproveite a possibilidade de escolha da informação veiculada pelos meios de comunicação social para abordar o tema e contribuir, simultaneamente, para um consumo inteligente e criterioso da informação;

2 - Indague sobre o que as crianças sabem, o que sentem, e como explicam os acontecimentos;

3 - Permita a expressão de emoções e sentimentos e não se preocupe se as crianças jogam, falam ou desenham sobre a guerra pois é através dessas várias formas de expressão que as crianças elaboram o que as preocupam;

4 - Encoraje a verbalização das preocupações e dos medos. Não evite perguntas e adeque as explicações e as respostas à idade e maturidade das crianças;

5 - Controle o acesso à informação, impedindo a vulgarização da morte e do sofrimento; 

6 - Analise as razões que levaram ao desencadear da guerra, evitando diabolizar os países em conflito, criando visões polarizadas, o que por si só, pode ser um incentivo para novas guerras/conflitos; 

7 - Em conjunto, tentem elencar diferentes formas de lidar com o conflito, como o conversar, o escutar, o negociar, treinando assim a empatia, competência chave para lidar com os conflitos diários;

8 - Desmistifique algumas ideias, como a de que não recorrer à violência não significa passividade, cobardia ou desistência de lutar pela justiça;

9 - Aproveite esta situação para sensibilizar que os conflitos podem ser resolvidos pacificamente e que, apenas dessa forma, poderemos todos transformar uma crise numa oportunidade de aprendizagem e crescimento, promovendo uma cultura de paz. 

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