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"Antes o bairro tomava conta do bebé, agora é a Ajuda de Mãe o bairro"

A entrevistada de hoje do Vozes ao Minuto é Madalena Teixeira Duarte (à direita na foto), presidente da associação Ajuda de Mãe.

"Antes o bairro tomava conta do bebé, agora é a Ajuda de Mãe o bairro"

A Ajuda de Mãe, uma associação de solidariedade social, sem fins lucrativos, presente em Lisboa, Santarém e Oeiras, celebrou, no passado dia 29 de agosto, 30 anos de existência.


Para assinalar a data, o Notícias ao Minuto decidiu entrevistar a presidente (e alma) desta associação, que já ajudou mais de 20 mil mães e viu nascer cerca de 17 mil bebés.

A conversa com Madalena Teixeira Duarte, que tem oito filhos  mas dedica-se permanente e diariamente à instituição, fez-se via Zoom. De riso fácil e palavras simples e afáveis, a líder da instituição falou-nos do crescimento da Ajuda de Mãe e das conquistas que a associação foi fazendo ao longo destas três décadas.

Além de ter acolhido no seu seio (e residências) mais de 800 grávidas, a Ajuda de Mãe já auxiliou 6.550 mulheres a encontrarem emprego e deu ferramentas a mais de 12 mil jovens recém-mamãs para que estas concluíssem a sua formação.

Mas a ajuda desta associação não é só destinada a mães carenciadas. Qualquer mulher que tenha sido recentemente mamã e que precise de ajuda, seja ela emocional, nos cuidados com o bebé ou até na amamentação, tem aqui uma porta aberta. 

O objetivo é "apoiar cada mãe e cada família, de modo a que o nascimento do bebé seja um fator de melhoria da sua vida e da vida familiar".

Em agosto, a Ajuda de Mãe fez 30 anos. Que principais mudanças sofreu a associação nestas três décadas?

Desde logo, crescimento. Mantivemos e fazemos muita questão de manter os princípios pelos quais a associação foi criada: A defesa da vida e a ajuda à mulher grávida. No entanto, percebemos que, para dar esse apoio e essa ajuda, precisaríamos de alguns serviços que estão em défice na comunidade, como por exemplo, o apoio psicológico e a formação pessoal, formação para a maternidade, formação para arranjar um emprego e a reinserção profissional. Isto é preciso porque muitas destas mães têm alguma carência económica e precisam sustentar a família. Têm de ser preparadas. Elas têm imensas competências e sabem imensas coisas, precisam é de perceber que as competências que têm, e que são muitas, podem abrir a porta para o mercado de trabalho, desde que elas percebam que isso é possível e que queiram.

O que nós fazemos é capacitar, motivar, tendo imenso respeito pelas mães que acham que querem ficar mais tempo e podem - e que bom que é - com o seu bebé. Com atenção para a capacidade económica para isso. Porque, na verdade, é preciso isso. São as famílias que têm de prover às suas necessidades. Há alguns subsídios, muitas das nossas mães não têm esses subsídios, mas algumas têm, apesar de não chegarem para tudo. É também uma questão de autoestima. As mães podem ficar mais algum tempo com os seus bebés, mas chega a uma altura da vida que devem gostar de mostrar que podem, sabem e andam para a frente.

Costumamos dizer que antes o bairro tomava conta do bebé, agora é a Ajuda de Mãe o bairro e fazemos aqui alguns grupos de partilha para as mães se sentirem apoiadas

E que alterações sofreu a sociedade na forma como vê e apoia a chegada de um novo bebé e das mulheres que são mães?

Acho que houve uma grande evolução, não só nos apoios que as famílias têm, como em algumas ideias mais atuais e que foram melhoradas. A conciliação da vida profissional com a vida familiar. A partilha das responsabilidades parentais e da integração do pai, ou seja, a consciencialização de que os pais têm de ajudar as mães e os filhos. Os filhos não são das mães, são da família. Embora, na Ajuda da Mãe, os filhos sejam muito das mães e temos muitas vezes de as educar nesse sentido, a perceberem que os filhos têm um pai e uma mãe e quando o pai quer – às vezes não quer, é verdade – tem o direito de criar ligações com a criança, mesmo que não o queira fazer com a mãe desta.

Além disso, a criança tem o direito de ter um pai e uma mãe, que cuidem dele, deem atenção, carinho. A sociedade evoluiu muito bem nesse sentido. Os pais estão cada vez mais presentes, também têm mais condições sociais para estarem mais presentes. Mas é preciso reforçar estas ideias na sociedade que isto acontece. Que os pais têm e devem exercer estes direitos. Nós queremos crianças, precisamos delas. Agora, precisamos delas com qualidade e é uma das coisas que fazemos na Ajuda de Mãe. Muitas das nossas crianças não têm provavelmente tanto destes apoios sociais como gostaríamos. Por razões várias, são famílias monoparentais, portanto, não têm esta ajuda ou têm pouca ajuda e pouca rede, por essa razão, as mães, às vezes, acham que os filhos são delas e não pedem ajuda. Não percebem que com ajuda é mais fácil criar um bebé.

Costumamos dizer que antes o bairro tomava conta do bebé, agora é a Ajuda de Mãe o bairro e fazemos aqui alguns grupos de partilha para as mães se sentirem apoiadas. A sociedade percebeu que a maternidade não é só mãe-bebé, é também pai e família e que temos todos de dar uma ajuda.

Mas acha que a sociedade vê as mães como mulheres que podem ter filhos, mas também sucesso profissional, uma vida, sexualidade, etc.?

Acho que as mulheres estão mais preparadas. Hoje em dia, penso eu, tendo o maior respeito pelas pessoas que optam por estar em casa com os seus bebés, mas as pessoas também têm objetivos da sua própria vida. Os filhos são uma coisa importantíssima na vida de qualquer pessoa, mas acho que a pessoa por si só também é importante. Os filhos têm de estar integrados nesses objetivos, não devem destruir os objetivos dos pais. As mães têm seguramente uma carreira profissional que, durante algum tempo, fica em suspenso porque há uma altura que o bebé depende muito da mãe, mesmo que o pai esteja presente.

Mas às vezes, no Instagram, vejo pessoas que ficam, mais de um ano, dependentes dos bebés e isso faz-me muita confusão, porque um bebé é uma coisa preciosa, mas a mãe tem de o integrar na sua vida. E se a sua vida tem uma carreira, temos todos de ajudar que isso aconteça e que aconteça com qualidade. Acho que essa é a palavra-chave: Qualidade. Que haja mais creches, boas creches, redução de horário para as mães poderem dar atenção dos filhos.

Hoje em dia, há muitas mães que nos chegam e o choro do bebé é um horror, mudar a fralda, não sabemos dar banho, ai 'o bebé vai pelo cano'. E é esta rede que muitas vezes falta, porque às vezes os avós também trabalham, ou estão longe

Já acompanharam mais de 20 mil mães. Em que áreas é que as mulheres recorrem mais à Ajuda de Mãe? Quem é que normalmente procura a vossa ajuda?

Nós temos perfeitamente definido qual é o primeiro motivo que leva cerca de 70% das mulheres a recorrer à Ajuda de Mãe e é uma ajuda em bens, uma ajuda em algum apoio que precisem para receber esse bebé, para resolverem alguns problemas sociais que têm, mas também temos mães que não têm nenhum tipo de carências económica e que nos chegam e precisam de resolver problemas, por exemplo, emocionais, algum tipo de dificuldade que lhes surgiu, dificuldade de formação, por exemplo, em como tratar um bebé.

Há coisas de que me apercebo na Ajuda de Mãe e que se não estivesse cá não me apercebia. Há muitas famílias que o primeiro bebé que veem são o seu próprio bebé. As famílias, hoje em dia, são mais pequeninas. Há muitas mães que são filhas únicas, de filhas únicas, casadas com filhos únicos e, às tantas, todo aquele bebé que vem é uma surpresa e falta o tal bairro. Portanto, hoje em dia, há muitas mães que nos chegam e o choro do bebé é um horror, mudar a fralda, não sabemos dar banho, ai 'o bebé vai pelo cano'. E é esta rede que muitas vezes falta, porque às vezes os avós também trabalham, ou estão longe. É engraçado.

Às vezes convidamos estes pais de primeira viagem para estarem na sala dos bebés da Ajuda de Mãe, uma sala com bebés pequeninos das mães que estão em formação, na escola de mães ou que arranjaram um emprego e que não têm sítio para deixar o bebé e ficam ali um bocadinho a ver como é, a sentir o momento. É engraçado ver como, para muitos, é uma experiência completamente nova.

Estas mães, então, que não têm carência económica, procuram mais a Ajuda de Mãe para um auxílio emocional?

Procuram muito o gabinete de psicologia e procuram esta parte da formação, que inclui também a amamentação.

O projeto ‘Vamos dar de mamar’, certo? Como é que surgiu essa ideia? 

É um projeto muito giro, em que não só resolvemos as dúvidas de amamentação através de uma linha que criamos em parceria com a SOS Amamentação, mas também através de visitas domiciliárias, que as conselheiras de amamentação fazem às mães que o solicitam e que procuram resolver todas as situações mais complicadas em relação à amamentação.

Às vezes não resolvem só situações mais complicadas relacionadas com a amamentação, mas também com essa surpresa que é o bebé. Deita-se de barriga para baixo ou de barriga para cima? Está vestido de mais ou está vestido de menos? Todas estas coisas e, portanto, às vezes é um dois em um. Este projeto é muito solicitado e gostamos que as pessoas saibam que existe e que podem recorrer a ele.

E é gratuito?

Por enquanto, os serviços da Ajuda de Mãe são todos gratuitos mas, na verdade, há aqui alguns serviços que estamos a tentar perceber se quem os utiliza pode dar um contributo de forma a que mais mães possam recorrer a estes serviços.

Há mais pessoas preocupadas e dar de mamar ao seu bebé (...)  Há uma grande vontade das mães, mas, aparentemente, isto não é uma coisa inata. Há dificuldades

Aquelas que não conseguem pagar?

Aquelas que não conseguem pagar e de forma a conseguirmos, de forma sustentável, chegar a mais mães. Estamos a pensar alargar estes nossos serviços no apoio à amamentação, visto que, não é uma coisa tão descabida, já que as pessoas que recorrem ao ‘Vamos dar de mamar’ são bastante generosas e, normalmente, dão um donativo quando recebem esta visita domiciliária pois percebem que com este donativo outras mães vão receber também esta ajuda e que não podem pagar. Nunca será um valor alto, um valor de mercado. Nunca. Será sempre na ótica de ser uma ajuda, na ótica de ser uma ajuda para conseguirmos chegar a mais mães, sendo que o objetivo da Ajuda de Mãe é não ter de chegar a mais ninguém [risos].

O ideal era que nenhuma mãe precisasse de ajuda [risos]. Nós queremos que os bebés nasçam com qualidade, com dignidade e que cresçam também assim.

Mas acha que há uma preocupação cada vez maior com o aleitamento e a consciência de que às vezes é necessária ajuda para que este ocorra sem problemas de maior? Ou ainda há falta de sensibilização neste sentido?

Hoje em dia há mais pessoas preocupadas e dar de mamar ao seu bebé. Percebem que, na realidade, o aleitamento materno é uma coisa que faz bem ao bebé e a elas. Durante muito tempo, essa história de dar biberão e leite de fórmula era uma coisa que era assim. Acho que nem havia dificuldade, nem havia tentativa. É muito mais prático encher o biberão e enfiá-lo na boca do bebé, está-se sempre livre. Provavelmente também eram mães que tiveram de lutar por essas carreiras, quando não havia tantos apoios, tanta facilidade em ficar em casa quando o bebé nasce.

Agora, há uma grande vontade das mães, mas, aparentemente, isto não é uma coisa inata. Há dificuldades. As mães que querem pedem ajuda e devem pedir, porque podem fazer. Com uma pequenina ajuda, às vezes, a coisa vai ao lugar. Mas também gostava de dizer aqui duas coisas: Ninguém é obrigado a dar de mamar. Há mães que não gostam e têm a possibilidade de escolher, têm esse direito. Tal como as pessoas que gostam e querem têm o direito de serem ajudadas e que isto aconteça e que consigam dar de mamar durante muito tempo; Outra coisa é que o dar de mamar é uma questão de educação. Muitas vezes, as mães socialmente mais frágeis que acham que é uma promoção social dar biberão e não dar de mamar. E isto é como tudo na vida. Vai-se evoluindo, vai-se educando, vai-se formando.

Apesar de não fazer atendimentos na Ajuda de Mãe, muitas vezes digo às mães: Porque é que você não dá de mamar? É tão mais prático e mais barato [risos]. As mães têm todo o direito de dar ou não dar de mamar, desde que informadas. 

Não sei se há tanta formação como informação, mas, na verdade, a gravidez na adolescência que já foi um problema gravíssimo em Portugal, hoje em dia continua a ser um problema gravíssimo, mas em menor escala

Acha que os profissionais de saúde que acompanham estas mães informam-nas como deviam? A maioria já está sensibilizada para este tema? Ou ainda há demasiados relatos sobre a falta de ajuda e até de adoção de boas práticas neste sentido?

Hoje em dia já se nota um trabalho nesse sentido nos hospitais. Pode não haver qualquer ajuda, às vezes há falta de tempo para se dedicar às mães, mas a verdade é que está a ser feito um caminho, há uma maior sensibilidade de toda a sociedade. Não consigo aqui distinguir pessoas, se esta fez bem ou fez mal. Acho é que as pessoas estão mais alerta para esta vontade que as mães têm que é o dar de mamar. Se informam mais? Acho que informam. Se informam o suficiente, tenho dúvidas. Se dão o apoio suficiente? Lá está, às vezes, se calhar não. Mas também sei que as mães que querem podem sempre recorrer não só ao ‘Vamos dar de mamar’, como ao SOS Amamentação que tem sempre voluntários disponíveis.

A Ajuda de Mãe faz parte de uma associação que junta, por exemplo, o Hospital Fernando da Fonseca com os ACES da Amadora e de Sintra e que promove esta amamentação e tenho a certeza que estes profissionais de saúde estão muito alerta para isso. Agora, se todos estão? Às vezes as pessoas também andam cansadas. Têm sido tempos difíceis. Agora, as mães podem sempre recorrer à Ajuda de Mãe e à linha do SOS Amamentação e do ‘Vamos dar de mamar’, sempre e pedir o apoio que precisam para isto que seja compensador, para que seja uma alegria. Amamentar custa, não vou dizer que não custa, mas é recompensador, vale a pena fazer um esforço e pedir ajuda a quem sabe. Se calhar, com umas pequenas dicas, de posição do bebé é muito mais fácil e toda a gente fica muito mais feliz.

Uma das áreas de intervenção é junto da comunidade mais jovem. Como funciona a Escola de Mães e quantas mulheres tem neste momento o projeto?

Nesta altura, a Escola de Mães tem entre 10 e 12 mães. A Escola de Mães era um projeto chamado Escola Móvel, do ministério da Educação, em 2007, quando nós começamos. Era um projeto mais dedicado aos meninos do circo e das feiras que andavam de um lado para o outro e ficavam com a sua educação prejudicada. Nós pedimos para nos juntar a este projeto porque as nossas mães, provavelmente, iam deixar as escolas quando tivessem à espera de bebé, graças a Deus agora as coisas estão melhores, como depois não tinham ninguém para deixar os bebés e iam ficar em casa elas, às vezes com pouca competência para isso, sem rede, sem o apoio da família. Entramos nesse projeto, o projeto foi evoluindo.

Na Ajuda de Mãe, esse projeto chama-se Escola de Mães. Tem uma parte letiva - em parceria com a Escola Fonseca Benevides – e uma parte de tempos livres onde as mães têm uma formação de competências pessoais e sociais que as escolas, por vezes, não dão e estas meninas não teria. A parte escolar, agora, tem entre 10 a 12 jovens e recebemos meninas de outras instituições. Mas eu quero deixar aqui o meu reconhecimento às instituições públicas que estão também a arranjar mais soluções para acolherem estas meninas que vão ter um bebé. Ter um bebé na adolescência já não é motivo para dizer: Não podes vir, chumbas o ano, para o ano repetes, para o ano estamos cá outra vez. Arranjam, sim, agora alternativas para que as meninas que engravidam consigam fazer as duas coisas. Isto é um grande avanço. Sendo que, por várias razões, também é verdade que há menos meninas grávidas. Há muita informação.

Não sei se há tanta formação como informação, mas, na verdade, a gravidez na adolescência que já foi um problema gravíssimo em Portugal, hoje em dia continua a ser um problema gravíssimo, mas em menor escala. Na parte dos tempos livres, onde desenvolvemos formação para os cuidados dos bebés, prevenção e planeamento familiar, atividades mais lúdicas que, normalmente, estas meninas não têm acesso e não conhecem, atividades com os bebés, tínhamos uma colónia de férias de mães e bebés mas com a pandemia ficou em stand by.

Tentamos também que estas meninas façam voluntariado, tenham algumas experiências. Nessa altura, porque absorvemos também algumas mães adolescentes que estão noutros sistemas de ensino, temos sempre mais de 22/23 mães. Acaba por ser uma altura de partilha gira, de novas experiências e novas aprendizagens.

Pedimos, é verdade, somos uns pedinchões [risos], mas podíamos pedir mais. Felizmente, temos uns parceiros fantásticos que, muitas vezes mesmo sem pedirmos, colmatam as nossas necessidades, mas também compramos

E quanto à Escola do Arco? Quantas crianças tem? Há muitos pedidos? Prevê-se um aumento da capacidade?

Bem… as vagas nunca são as necessárias, principalmente, nas creches [risos]. Nós ganhamos um prémio, em 2005, para fazermos uma residência de mães adolescentes com filhos, ou seja, nós tínhamos duas residências já, uma para grávidas adultas e uma para grávidas adolescentes, e notávamos que, na das grávidas adolescentes, se as famílias já não tinham lugar para as receber, com um bebé não teriam mesmo essas condições e, portanto, havia muitas meninas que estendiam a sua permanência na cada das adolescentes mais do que era aconselhável. É uma casa pequenina, nós precisávamos muito mudar para uma casa maior, mas não chega o dinheiro [risos] e quando os bebés já andam, tínhamos este projeto de ter uma casa de mães adolescentes com filhos, em que as mães pudessem estudar até o que quisessem de modo a valorizassem-se e depois com autonomia sair com os seus filhos, já independentes e autónomas. Ganhámos o prémio para fazer isto, tínhamos uma parceria com a Câmara de Lisboa, entretanto, mudou a autarquia, nós ficamos sem nada. Pedimos à autarquia de Oeiras que, de uma maneira muito generosa, cedeu uma antiga escola primária. E nessa altura, pensámos, bem isto é um espaço espetacular, vamos fazer aqui um projeto integrado de residência e creche, com o programa Pares. As mães podiam também ter uma formação mais profissionalizante na escola, com estágios, era um projeto espetacular, mas não foi possível porque o prémio tinha de ser mesmo só para educação. E nós ficámos outra vez com o bebé nos braços, o que acontece muito na Ajuda de Mãe [risos] e a Misericórdia de Oeiras, também de uma maneira muito generosa, cedeu a atual residência que tem capacidade para 10 mães e 10 bebés e existe desde 2009.

Aqui, as mães estão, estudam ou trabalham. Não queremos mães de perna estendida. Valorizam-se e os meninos são integrados, necessariamente são meninos mais velhos. Este ano, pela primeira vez, tivemos duas meninas que entraram no primeiro ano, foi assim uma nova etapa. Ficamos com o projeto da escola aprovado e hoje em dia a Escola do Arco é uma belíssima escola, goza da vantagem de ter espaço, é toda uma pedagogia voltada para o exterior, o que os meninos podem fazer no exterior. Isto é uma bênção, na altura não era o nosso negócio, o nosso negócio era mães, não era creches [risos] mas hoje é espetacular. É uma creche aberta a toda a comunidade. Dois anos depois, abrimos o pré-escolar, progressivamente.

Agora, no total, temos 129 crianças, não temos vagas, exceto as vagas que estão guardadas para a Segurança Social e mesmo essas já estão atribuídas. Tem sido uma boa aposta. É uma escola de IPSS, tem acordo com a Segurança Social. A parte do pré-escolar, não, mas é um bom pré-escolar e nada caro, com aprendizagens ‘de rua’, à boa maneira portuguesa. Corre muito bem, articulamos também com a comunidade. Tínhamos um projeto muito giro com pessoas idosas, em que havia partilha de experiências.

Precisamos de voluntários que dão o seu tempo nos bebés, que dão o seu tempo a acompanhar a Escola de Mães, que organizem donativos, que fazem os enxovais, que fazem organização de fundos, que façam a comunicação

E quais os principais desafios que a Ajuda de Mãe enfrenta neste momento?

A residência que falava há pouco, em Paço de Arcos é ótima, mas as duas que temos em Lisboa são pequeninas. Nós queríamos muito, mesmo muito, muito ter uma coisa maior. Sendo que, estranhamente, as pessoas gostam de lá estar e de se sentir aconchegadas, mas é pequeno e às vezes é um bocadinho chato para os vizinhos, ou seja, gostaríamos de mudar. Além disso, não faz parte das ambições, mas estamos a tentar reestruturar a Ajuda de Mãe de modo a ter uma parte mais sustentável, que ajude de alguma maneira a colmatar todas as dificuldades económicas que temos na parte de acompanhamento, formação e integração das mães e, aproveitando esta reinserção profissional das mães, desenvolvermos alguns negócios sociais que gostaríamos muito que, de alguma maneira, fossem rentáveis e ajudassem na outra parte.

A Ajuda em Casa, que é uma empresa que insere as nossas mães na área dos serviços domésticos de lavandaria, engomaria e cozinha, ou seja, cozinhamos, passamos a ferro e lavávamos para fora, acompanhamos a terceira idade, sempre com mães que são acompanhadas pela Ajuda de Mãe. Também temos aqui um projeto bem giro de sustentabilidade ambiental, combate ao desperdício e aproveitamento de resíduos e de donativos que nos dão que se chama ‘By Ajuda de Mãe’, que tem também uma componente mais têxtil, em Santarém, que se chama ‘ReUse by Ajuda de Mãe’ e que aproveita têxteis, fazendo inúmeras coisas e vendendo nas redes sociais e no site que é nosso parceiro chamado ‘Compra Solidária’.

Na Ajuda de Mãe em Lisboa, temos mais a parte do Artesanato, fazemos muitos presépios, tudo o que seja de artesanato, com donativos que não damos uso e excedentes alimentares que também temos, porque há coisas que chegam e que vêm em excesso e fazemos muitos produtos gourmet que, nesta altura de Natal, vendemos ainda melhor. Além disso, há sempre coisas que nós não temos e nós gostamos sempre de dar colinho às mães. Primeiro damos colinho e depois pedimos às mães que usem as suas competências para dar um passo mais à frente. Este colinho faz-se muitas vezes de coisas que as mães precisam para dar ao seu bebé. Também para isso precisamos de ganhar dinheiro.

Pedimos, é verdade, somos uns pedinchões [risos], mas podíamos pedir mais. Felizmente, temos uns parceiros fantásticos que, muitas vezes mesmo sem pedirmos, colmatam as nossas necessidades, mas também compramos. Temos ainda um outro serviço que se chama ‘Mães à Obra’ em que as mães são pagas pelo trabalho que fazem e que tem a ver com logística, com envelopagem, com brindes, com toda essa parte.

Por fim, resta saber quem pode ser voluntário e quais os donativos que mais necessitam neste momento?

Nós gostamos muito de voluntários e gostamos de amizade. Nós continuamos a ter voluntários, mas nestes últimos dois anos, devido à pandemia, não temos tantos como costumávamos ter. Os que temos, continuaram a fazer um trabalho excecional no apoio pois apoiámos mais mãe do que as que já tínhamos e continuamos a distribuir cabazes, os produtos de primeira necessidade e a dar o que as pessoas precisavam. E agora estamos com alguma dificuldade em remontar o voluntariado, mas sim, gostamos muito dos voluntários porque além de trazerem ajuda, trazem know how, maneiras diferentes de fazer as coisas e trazem também amizade e isso é importantíssimo para a Ajuda de Mãe.

Precisamos de voluntários que dão o seu tempo nos bebés, que dão o seu tempo a acompanhar a Escola de Mães, que organizem donativos, que fazem os enxovais, que fazem organização de fundos, que façam a comunicação. Quanto aos bens, aceitamos todos os que nos queiram dar, sendo que roupa e brinquedos só conseguimos aceitar até três meses, por uma questão de espaço e de organização, e agradecemos sempre os donativos querem eles sejam em géneros, bens alimentares, etc. Agora estamos a pedir muito produtos de higiene para bebés que não temos nada e já estamos a comprar, como por exemplo gel para bebé, cremes. Fraldas agora temos, mas não temos toalhitas. E, obviamente, agradecemos e muito donativos em dinheiro que nos fazem poder avançar para outros projetos de ajuda e sustentar a Ajuda de Mãe porque, às vezes, o subsídio que temos da Segurança Social e todas estas vendas que fazemos não cobrem tudo.

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