"Um setor mineiro desenvolvido modernamente pode e deve ser um dos motores do desenvolvimento do nosso Interior", afirmou Adriano Barros, gerente da Minerália -- Minas, Geotecnia e Construções, Lda., à agência Lusa, numa entrevista concedida por escrito.
A empresa requereu à Direção-Geral de Energia e Geologia (DGEG) a celebração do contrato de concessão para a exploração de volfrâmio, estanho e molibdénio, que abrange área das Minas da Borralha, uma aldeia da freguesia de Salto, concelho de Montalegre, distrito de Vila Real.
A futura exploração será desenvolvida em parte da área da brecha de Santa Helena, uma das várias do antigo couto mineiro da localidade que nasceu e cresceu com a extração de volfrâmio. A mina funcionou entre 1902 e 1986.
Adriano Barros referiu que o projeto da "Borralha" prevê um investimento entre os 10 a 12 milhões de euros e a criação de cerca de 50 postos de trabalho diretos.
O investimento inclui o plano de compensações, "que começará mal o contrato seja celebrado".
Adriano Barros prefere falar em "reaproveitamento" da área do antigo e histórico couto mineiro e aponta um projeto com uma "dimensão mais modesta" e que "almeja atingir a sustentabilidade".
Disse ainda que a "índole da eventual exploração será a céu aberto", mas com "as respetivas condicionantes ainda a serem estabelecidas em âmbito de Estudo de Impacte Ambiental (EIA) e plano de lavra".
"Por força do natural desenvolvimento do conhecimento e as imposições ambientais e de segurança, a exploração e o tratamento de minérios sofreu também uma evolução crucial", salientou.
O responsável apontou "as medidas ambientais preventivas, caucionárias e compensatórias que fazem parte da instrumentalização legal para a aprovação de um EIA".
"Hoje em dia, no que toca à extração mineira há um especial cuidado com a proteção das populações e ambiente locais no que toca a poeiras, ruídos, linhas de água, entre outros fatores, assim como a segurança", sublinhou.
Como exemplo, salientou que "devido às condições geológicas da área de exploração, prevê-se a utilização muito reduzida de explosivos e, mesmo esses, são de natureza bem diferente dos usados historicamente".
Questionado sobre o porquê da aposta na Borralha, Adriano Barros contextualizou com o "reaparecimento do tungsténio como metal crítico para a Europa, consequência da sua aplicabilidade em sistemas de alta tecnologia e ferramentas, para além do histórico uso bélico, a perda de alguma competitividade da produção chinesa e o interesse ocidental da não dependência de metais críticos".
Após o fim da guerra entre as Coreias, o preço do tungsténio desceu significativamente e as minas portuguesas foram encerrando até aos anos 80.
"A prospeção realizada na Borralha, pela Minerália, obliterou muitas áreas que, no nosso ponto de vista, não são económicas à luz da atualidade e realçou o potencial da brecha de Santa Helena onde focamos mais os nossos trabalhos", frisou.
Adriano Barros entende que este projeto "pode ser um importante vetor de desenvolvimento local e regional e um exemplo de que é possível a existência de atividade mineira responsável e sustentável".
Adiantou que o "minério extraído será tratado no local, de forma a criar concentrados economicamente vendáveis" e que a "dimensão prevista não justifica o investimento na refinação dos concentrados obtidos, por via de fundição, como se fazia, historicamente, na Borralha".
"Uma das características que mais nos agrada na mineralização da brecha de Santa Helena é a presença vestigial a nula de sulfuretos. A concentração da volframite (mineral que contém o tungsténio), por via da sua elevada densidade será feita utilizando métodos hidrogravíticos em circuitos fechados, com o reaproveitamento e recirculação de águas e sem o uso de químicos", salientou.
Acrescentou que "os estudos metalúrgicos que têm sido desenvolvidos apontam para esta possibilidade que é a ideal sob o ponto de vista ambiental - a produção de concentrados de volframite utilizando apenas métodos físicos (gravíticos)".
"Todos os processos até à aprovação do EIA e do plano de lavra poderão levar mais ou menos dois anos após a celebração do contrato de concessão mineira com a DGEG", referiu.
Associações e movimentos antiminas e alguns moradores contestam a reativação da exploração mineira na Borralha e alertam para os impactos ambientais, na saúde e na agricultura.