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"Se calhar, aqui, Mussolini acertou". Presidente de junta gera polémica

O presidente da Junta de Freguesia de São Pedro, na Figueira da Foz, apelidou de tolos e ignorantes os autores de uma petição, utilizando, num ofício em papel timbrado, uma citação atribuída ao ditador fascista italiano Benito Mussolini.

"Se calhar, aqui, Mussolini acertou". Presidente de junta gera polémica
Notícias ao Minuto

14:43 - 16/08/20 por Lusa

País Figueira da Foz

Na sequência de uma exposição enviada à Junta de Freguesia relativa a um problema com uma caixa multibanco avariada no mercado local, assinada por duas residentes que juntaram à carta uma petição subscrita ao longo do mês de julho por uma centena de pessoas, António Salgueiro, eleito pelo PS, afirmou, também por escrito: "O silêncio é a única resposta que devemos dar aos tolos. Porque onde a ignorância fala, a inteligência não dá palpites".

A frase utilizada pelo autarca socialista é atribuída, em inúmeras fontes espalhadas pela internet, ao ditador italiano Benito Mussolini, considerado o pai do fascismo e aliado de Hitler, que morreu em 1945.

Ouvida pela agência Lusa, Dulce Ponard, uma das signatárias da exposição à Junta de Freguesia, manifestou-se "perfeitamente atónita" com a resposta "insultuosa" de António Salgueiro.

"É inadmissível que alguém que se considera democrata, um autarca eleito, falte desta maneira ao respeito a quem assinou a petição e à população de São Pedro. O senhor presidente da junta não tem noção nenhuma do cargo que ocupa, não tem o direito de pegar num ofício da Junta e fazer isto", lamentou Dulce Ponard.

A signatária, que também está na génese de um projeto cívico intitulado Movimento Independente de Reflexão sobre a freguesia de São Pedro e pertence à assembleia de freguesia, eleita precisamente na lista socialista liderada por António Salgueiro, acusou o autarca de nas reuniões daquele órgão partir "facilmente para o insulto e agressão verbal".

"E agora com esta atitude põe em causa o seu próprio mandato", declarou.

Questionado pela Lusa, António Salgueiro argumentou que a sua resposta foi endereçada ao movimento cívico e não à população da freguesia e questionou os termos da petição.

"A petição tem um rol de mentiras e esse movimento cívico não existe, é essa senhora [Dulce Ponard] e o marido", alegou o presidente da Junta, que na carta, datada de 07 de agosto, alega responder "de acordo com a essência" do movimento de cidadania, enviando "para reflexão" a citação atribuída ao ditador italiano.

Confrontado com a polémica em redor da resposta em papel timbrado da junta e da citação atribuída a Mussolini, António Salgueiro manifestou, no entanto, desconhecer a autoria da frase por si utilizada.

"Eu não sabia que estava a citar Mussolini, mas isso também não me preocupa, toda a gente tem coisas boas e más. A maior parte das coisas que Mussolini fez foram más, eu tenho simpatia por Álvaro Cunhal e sei que ele não fez tudo bem", argumentou o autarca.

"Se calhar, aqui [na citação que lhe é atribuída] o Mussolini acertou", acrescentou.

Segundo António Salgueiro, Dulce Ponard "nunca levantou a questão do multibanco" na assembleia de freguesia: "As coisas devem ser debatidas com frontalidade e honestidade para se poder chegar a uma solução. Legítimo era existir uma petição que dê força à Junta, que anda desde novembro [de 2019] a tentar resolver o problema da caixa multibanco. Mas o que aquele documento [a petição] quer fazer é achincalhar a Junta de freguesia e isso, obviamente, eu não admito", enfatizou.

"Sempre lutei pela honestidade política, se é para fazer política porca, comigo não", alegou o presidente da Junta.

Questionado sobre se não teme vir a ser alvo de uma eventual ação disciplinar por parte do Partido Socialista, do qual é militante desde 2019, António Salgueiro desvalorizou a questão.

"O único partido que eu tenho é a minha freguesia e é a minha freguesia que me preocupa. O resto, da mesma maneira que entrei [no PS] é da maneira que saio", enfatizou.

A agência Lusa tentou obter um comentário de Carlos Monteiro, presidente da Câmara Municipal da Figueira da Foz e líder concelhio do PS mas o autarca, que está ausente do município, manifestou não conhecer "o enquadramento" do caso, reservando eventuais declarações para mais tarde.

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