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Como são feitos os testes laboratoriais da Covid-19? A APTAC explica

A Associação Portuguesa dos Técnicos de Análises Clínicas e Saúde Pública, à qual pertencem alguns técnicos que trabalham diretamente no diagnóstico do novo coronavírus, criou uma bolsa de voluntários para substituições e reforço do SNS, caso seja necessário. Até agora recebeu 350 candidaturas.

Como são feitos os testes laboratoriais da Covid-19? A APTAC explica
Notícias ao Minuto

08:50 - 16/04/20 por Natacha Nunes Costa

País Covid-19

O Notícias ao Minuto esteve à conversa com a Associação dos Técnicos de Análises Clínicas e Saúde Pública (APTAC) para esclarecer algumas questões relacionadas com os testes laboratoriais feitos aos doentes, suspeitos de estarem infetados com o novo coronavírus.

Na direção dos órgãos sociais da APTAC, assim como entre os 1.200 associados, estão técnicos que trabalham diretamente no diagnóstico da Covid-19. Alguns são mesmo funcionários do Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) de Lisboa e Porto, responsável pelo tratamento e resultados dos testes ao novo coronavírus em Portugal.

Desde o dia 1 de março, revelou o secretário de Estado da Saúde, António Lacerda Sales, esta terça-feira, dia 14 de abril, já foram realizados mais de 190 mil testes um pouco por todo o país. E desde o dia 1 de abril, estão a ser feitos, em média, 10 mil testes por dia em Portugal.

Mas como são feitos e analisados testes laboratoriais? E que técnicas são utilizadas para chegar a um resultado fidedigno? A presidente da APTAC, Hélia Carona, explica:

“O método de referência para a pesquisa do vírus SARS-COV-2 é a metodologia de RT-PCR (real time polymerase chain reaction). A reação em cadeia de polimerase é utilizada para conseguir, a partir de uma pequena quantidade do que queremos pesquisar, detetar partes conservadas do genoma em questão. Porque pesquisamos partes conservadas e não todo o genoma? Para otimizar a técnica, pois o tempo de reação varia consoante o número de genes que pesquisamos. No caso da Covid-19 entre duas horas para um gene e três horas para três genes, que pode ser mais prolongado, consoante as características dos reagentes utilizados, comercializados por diferentes entidades da indústria farmacêutica de diagnóstico ‘in vitro’. O processo é totalmente automatizado, desde a inativação da amostra, à sua amplificação e deteção”, descreve.

Já o método de colheita “deve ser o aconselhado pela Direção-Geral da Saúde (DGS) para aumentar a probabilidade de colheita de células potencialmente infetadas das vias aéreas superiores”.

Depois da colheita, as tão famosas zaragatoas - instrumentos essenciais para a colheita de material biológico destinado à realização dos testes para a despistagem da Covid-19 – “são colocadas juntas no mesmo meio de transporte para que através de agitação por vortex o material viral seja libertado na solução, que vai ser utilizada como amostra no aparelho”, elucida a responsável.

Posteriormente, na chegada ao laboratório, “o equipamento é carregado com todos os consumíveis necessários e o programa de RT-PCR tem início com a desnaturação da amostra, separando ou destruindo as cadeias de DNA, através de um aquecimento rápido, seguido de arrefecimento rápido, para que os primeiros se liguem às sequências complementares no DNA que, entretanto, de desenrolou”.

De seguida, aumenta-se novamente a temperatura “para que a enzima Taq polimerase se ligue à nova cadeia sintetizada e a estenda, sintetizando novas cadeias de DNA”.

Este ciclo, conta Hélia Carona ao Notícias ao Minuto, repete-se entre 25 a 35 vezes, aumentando exponencialmente o número de moléculas de DNA presentes. “Numa reação bem-sucedida a região alvo pode gerar entre um e o milhão de cópias”, adianta.

O objetivo é "obrigar" o vírus a desagregar-se, para depois dar-lhe “condições controladas para se replicar”, pondo no "caldo" a Taq polimerase, que vai sintetizar cadeias complementares, as primers, que são pequenas extensões de nucleotídeos utilizadas para induzir a Taq sobre o tipo de cadeia a sintetizar e que são como que iniciadores de sequência, determinando a região do DNA a amplificar.

Todo este processo é efetuado por Técnicos de Análises Clínicas e Saúde Pública integrados em equipas nos serviços de Patologia Clínica dos Hospitais e laboratórios de Saúde Pública, nos laboratórios da rede privada e no INSA.

Em alguns locais, são mesmos estes técnicos que efetuam a colheita das amostras dos pacientes com suspeitas de Covid-19. Noutros casos, são médicos e enfermeiros que o fazem.

Durante o processo de colheita, recorda a presidente da APTAC, “é essencial cumprir com as regras de biossegurança recomendadas internacional e nacionalmente sobre a utilização de equipamento de proteção individual adequado ao ato praticado”, ou seja, usar touca, óculos de proteção, máscara FFP2, bata descartável em material impermeável, cobre-botas e dois pares de luvas.

Já nos laboratórios, os cuidados de biossegurança divergem tendo em conta o risco de exposição ao vírus dos atos praticados. Nas salas onde se processam as amostras biológicas na pesquisa do vírus SARS-COV-2, os procedimentos a adotar são os mesmos que se devem adotar na recolha de amostras biológicas para o diagnóstico da Covid-19. Já nas restantes secções de processamento de amostras biológicas, os profissionais devem usar touca, óculos de proteção ou viseira, batas descartáveis, luvas e máscara cirúrgica.

E que cuidados têm estes profissionais de ter com as zaragatoas?

“Após a colheita das amostras biológicas, os contentores onde estão inseridas as zaragatoas são desinfetados com lixívia 5% e álcool a 70%. Procede-se à selagem com parafilme, no ponto de corte do mesmo contentor e identificam-se as amostras com os dados da pessoa. De seguida, as amostras são introduzidas num saco individual e novamente noutro contentor rígido para o seu transporte. Este contentor também tem a identificação das amostras no seu exterior para facilitar a integração no laboratório, de forma que apenas os profissionais que se encontram nas salas de pressão negativa tenham acesso direto às amostras”, esclarece Hélia Carona.

Falsos-negativos, falsos-positivos e resultados inconclusivos

Outra das questões que colocámos à APTAC prende-se com o facto da necessidade de repetir alguns testes, sejam eles, negativos, positivos ou inconclusivos. De acordo com Hélia Carona, “existe um conjunto de variáveis pré-analíticas e analíticas que podem influenciar os resultados dos testes”, quer estes sejam, falsos-negativos, falsos-positivos ou indeterminados/inconclusivos”.

Algumas destas variáveis estão relacionadas com a amostra e a colheita. É importante que sejam respeitados os protocolos de colheita e o tipo de amostra a analisar, de forma que seja o mais representativa possível, garantindo a viabilidade das células. É por isso que a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a DGS recomendam que sejam processadas amostras do trato respiratório inferior, ou, no caso de impossibilidade (o que acontece na maior parte dos casos suspeitos) sejam recolhidas duas amostras do trato respiratório superior, isto é, duas zaragatoas de localizações diferentes - da nasofaringe e orofaringe.

E se o teste der positivo?

Se o resultado ao teste à Covid-19 for positivo a informação é validada tecnicamente pelo analista que elaborou o teste e fica disponível para o clínico prescritor, a partir de validação biopatológica fornecida pelo médico patologista clínico que integra a equipa.

Posteriormente, quando o doente já não apresentar sintomas, mediante indicação médica, o teste é repetido de forma a descartar a hipótese de estar ainda infetado, mas assintomático e, desta forma, correr o risco de infetar outras pessoas com o novo coronavírus.

A responsável pela APTAC sublinha ainda sobre este assunto que “o diagnóstico à Covid-19 não se baseia apenas no diagnóstico laboral, embora seja o indicador com maior valor preditivo positivo para a infeção. É a apreciação clínica e o quadro sintomatológico que irão sempre definir o período de realização dos testes”.

Bolsa de voluntários para reforço do SNS

Com a chegada da pandemia a Portugal e o diagnóstico de cada vez mais casos, a APTAC decidiu criar uma bolsa de voluntários para substituição e reforço dos profissionais já alocados ao SNS, caso seja necessário.

“Equacionámos a possibilidade de falta de recursos humanos da nossa área, perante um cenário mais grave, quer seja por esgotamento dos colegas, quer seja por eventual número de casos infetados, situação que pode acontecer pelo elevado grau de exposição ao agente infecioso. Queremos que os cuidados clínico-analíticos não fiquem ameaçados perante a indisponibilidade dos nossos profissionais e, por isso, criámos esta bolsa de voluntariado que serve apenas em situações críticas ou perante necessidades que justifiquem”, descreve Hélia, fazendo sobressair, contudo, que o voluntariado não pode ser impeditivo de contratações de profissionais.

“Não pretendemos incentivar o trabalho voluntário em detrimento de eventuais contratações, contudo sabemos que existem mecanismos legais a que as entidades do sector público têm de obedecer e que em situações críticas podem ser bloqueadoras. Através desta bolsa também promovemos a proximidade entre candidatos que estão disponíveis e entidade empregadora. Reforçamos que esta Bolsa de Voluntários será exclusivamente para fazer frente ás necessidades do sector público”, frisa.

Até ao momento, a associação já recebeu 350 candidaturas de técnicos de Análises Clínicas e Saúde Pública disponíveis e estudantes das Licenciaturas em Análises Clínicas e Saúde Pública/Ciências Biomédicas Laboratoriais que já tenham contactado com metodologias de biologia molecular. Candidaturas estas que são transmitidas à medida que há solicitações por parte dos serviços de Patologia Clínica ou Laboratórios da rede Pública, bem como Universidades Públicas ou Politécnicos.

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