Em declarações à Lusa, profissionais que vivem em Viana do Castelo e trabalham no Porto, a cerca de "uma hora e meia" de distância numa viagem de autocarro, dizem contribuir para a diminuição do transporte individual nos grandes centros urbanos e manifestam "revolta" por não terem sido contemplados com uma diminuição do valor dos trajetos, como aconteceu com o designado passe único das áreas metropolitanas, e como "está definido" no despacho do Governo.
"A medida visa atrair pessoas para os transportes públicos e, afinal, foi espartilhada pelas áreas metropolitanas e Comunidades Intermunicipais. Estamos a ficar de fora. É nestas deslocações para regiões mais periféricas que estão as pessoas mais suscetíveis de fazerem a transição para o transporte público. O que está a ser feito é um subsídio para quem já usa o transporte público nas grandes cidades", criticou Tiago Bonito, auditor, residente em Viana do Castelo a trabalhar no Porto há três anos.
O profissional, de 49 anos, considera que "não houve o cuidado de acautelar que todas as pessoas com movimentos pendulares fossem abrangidas" pelo PART.
António Santos, de 44 anos, também viaja de autocarro entre o Porto e Viana, "todos os dias, de segunda a sexta-feira", por 130 euros/mês, o "valor mais acessível de um passe para o trajeto".
O economista defende que "podia haver cooperação entre a AMP e a Comunidade Intermunicipal do Alto Minho para "compatibilizar" uma solução para estes utentes.
"Estamos a ser desconsiderados", observou.
Paula Cardona, que há cinco anos viaja de autocarro entre Viana e o Porto por razões profissionais, diz que aguarda, "com expectativa, pela indicação de prazo para a aplicação do despacho" do Governo a todos utentes que satisfazem os seus "pressupostos".
"Cumprimos a questão do compromisso de Portugal na redução das emissões de dióxido de carbono e o caráter social da medida", notou, acrescentando que nem lhe "passa pela cabeça que se mantenha esta discriminação tão acentuada".
Destacando estar em causa "um movimento pendular significativo", Paula Cardona considera como certo que "as autoridades tenham acautelado esta realidade".
"Certamente estarão munidas de indicadores que permitirão concluir que teremos de ser abrangidos", afirmou.
Os utentes alertam que o PART prevê que "as autoridades de transporte contíguas podem, se assim o desejarem, articular-se no sentido de estender os apoios e serviços que abranjam os respetivos territórios".
A Lusa tentou, sem sucesso, obter um comentário da Área Metropolitana do Porto e da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Minho-Lima.
O PART, com um valor global de 104 milhões de euros, prevê que as 21 CIM recebam um total de 23,2 milhões de euros, que a Área Metropolitana de Lisboa receba 74,8 milhões e a do Porto 15,4 milhões.
O secretário de Estado Adjunto e da Mobilidade, José Gomes Mendes, afirmou que, a partir de abril, cerca de 85% dos portugueses já beneficiarão de descontos nos transportes, uma percentagem que deverá atingir os 100% em 01 de maio.
O objetivo do Governo é conseguir mais 100 mil utilizadores dos transportes públicos, num total de mais 63 milhões de viagens anuais, reduzindo em 79 mil toneladas as emissões de CO2.
A Câmara de Viana do Castelo aprovou no início de março aderir ao PART através de uma candidatura formalizada no âmbito da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Alto Minho, tendo indicado como medidas o alargamento da gratuitidade de transportes públicos aos alunos do ensino secundário e a redução em 50% do custo do bilhete ou passe aos utentes dos miniautocarros que circulam no centro da cidade ou para as zonas industriais do Neiva, Praia Norte e Meadela.