Em ofício enviado através da Câmara dos Deputados do Luxemburgo, a que a Lusa teve hoje acesso, os deputados Franz Fayot e Alex Bodry pediram respostas aos ministros do Interior e do Trabalho, do Emprego e da Economia Social e Solidária e à ministra do Ambiente para o facto de o socorro ter sido acionado apenas "uma hora depois do alerta".
Os deputados do POSL reportaram-se à investigação inserida em 16 deste mês no Contacto, jornal luxemburguês destinado à comunidade lusófona, e questionaram porque "se demorou quase uma hora para corresponder ao alerta" e as razões de "não se reagir de início aos pedidos de ajuda dos companheiros da vítima", que se encontravam também no lago Remerschen, propriedade da Comuna de Schengen.
Franz Fayot e Alex Bodry pretendem também resposta do Governo luxemburguês para o facto de "qualquer membro do pessoal empregado pela Comuna de Schengen para a vigilância do lago de Remerschen não dispor de qualquer qualificação de nadador-salvador".
"Foram estabelecidos procedimentos para determinar quem é o responsável, em que casos, em que circunstâncias e em que momento para pedir ajuda em caso de incidente", interrogaram os deputados, depois de a família de Puto G ter levantado questões sobre a falta de segurança e vigilância no lago Remerschen.
Outra questão a merecer resposta no entendimento dos dois deputados do Partido Operário Socialista do Luxemburgo, tem a ver com a possibilidade de "algas infestarem a tal ponto o lago de Remerschen que é perigoso alguém banhar-se em determinadas partes".
A família de Puto G, nome artístico de José Carlos Cardoso, admitiu já a possibilidade de instaurar processo judicial no Luxemburgo, país que não tem legislação para garantir a segurança no lago onde morreu o 'rapper'.
O gabinete do ministro da Administração Interna do Grão-Ducado disse à Lusa que as únicas regras sobre zonas balneares dizem respeito às qualidade e salubridade da água, não contemplam a segurança dos banhistas, que depende de regulamentos camarários.
Puto G tinha 27 anos quando morreu afogado, no lago Remerschen, em 30 de junho último, onde se encontrava na companhia de amigos, que deram o alerta após o desaparecimento do jovem, que entrou sozinho na água.
O Contacto, citando fonte policial, noticiou que o corpo foi encontrado às 19h00 locais (uma hora menos em Lisboa), três horas depois de se ter constatado o desaparecimento.
O corpo foi trasladado para Lisboa e, em 5 de julho, realizou-se o funeral, na Amadora, local onde cresceu e viveu o jovem emigrante em Athus, na Bélgica.
Puto G integrou o elenco do filme 'A esperança está onde menos se espera', de Joaquim Leitão, no qual protagonizou a personagem Mané. O filme, de 2009, foi rodado na Cova da Moura, arredores de Lisboa.
Na base de dados do cinema IMDB, Puto G voltou a trabalhar com Joaquim Leitão em 'Quarta Divisão', de 2013, e 'Sei lá', de 2014. O 'rapper' integrou o elenco de 'Por aqui tudo bem', de Pocas Pascoal, e de algumas curtas-metragens.
Um mês depois de Puto G ter morrido, um cidadão búlgaro, de 53 anos, morreu afogado no mesmo lago, propriedade da autarquia de Schengen, que tem cartazes a alertar que o local não é vigiado e que os visitantes nadam "por sua conta e risco".