O Plano de Gestão, a que a agência Lusa teve hoje acesso, estabelece 45 medidas e 95 ações a implementar nos próximos três anos para debelar ou minimizar as 22 ameaças à sustentabilidade ambiental da reserva, uma delas o excesso de escolas de surf nesta região do distrito de Lisboa.

Nesse sentido, o plano estabelece como uma das intervenções, a executar até junho de 2019, a regulamentação da capacidade de carga das ondas e das praias, condicionando mais as atividades daqueles operadores.

Face ao estacionamento abusivo e desregrado de autocaravanas perto do areal das praias, os guardiões comprometem-se a implementar sinalética e barreiras físicas de proibição já este ano e, até junho de 2019, a câmara municipal vai criar bolsas de estacionamento para esse fim.

A falta de regulamentação e de legislação nos planos de ordenamento para aquela reserva de surf, a única da Europa, é também encarada como uma ameaça num território com forte pressão turística, que quer ser área de paisagem protegida.

Por isso, a intervenção passa por incorporá-la como tal nos instrumentos de ordenamento nacionais, nomeadamente no novo Plano de Ordenamento da Orla Costeira (POOC), e criar um regulamento para a reserva, ainda este ano.

Depois de integrar a Rede Natura 2000 e ser zona protegida municipal, "[no âmbito da discussão do novo POOC] temos a garantia que as praias vão ser todas classificadas como naturais", afirmou à Lusa Pedro Bicudo, presidente da Associação S.O.S. Salvem o Surf, uma das entidades guardiãs que integra o Conselho Municipal de Gestão da reserva e que, em Portugal, representa a organização mundial Save the Waves -- que atribui o estatuto.

Entre 2018 e 2019, vão também ser implementados melhoramentos na Estação de Tratamento de Águas Residuais de Ribeira d'Ilhas, a principal praia, e na rede municipal de águas residuais para evitar as descargas ocasionais que ocorrem.

O plano de gestão foi aprovado há uma semana pelo conselho municipal, que foi constituído em 2017 e é ainda composto pela Câmara Municipal de Mafra, Ericeira Surf Clube e Associação dos Amigos da Baía dos Coxos.

Para proteger a área da reserva, o município adquiriu terrenos onde pretende vir a erguer o Parque Ecológico da Ericeira.

A Ericeira tornou-se, em 2011, reserva mundial de surf, cujo território integra a faixa costeira entre a praia da Empa e a praia de São Lourenço e é delimitado pela estrada nacional 247.

O património natural relevante é constituído pela paisagem e por sete ondas de classe mundial, surfadas apenas por profissionais, numa distância de apenas 13 quilómetros.

É a única na Europa e uma das oito existentes em todo o mundo, sendo duas na Califórnia (Estados Unidos da América), outras duas na Austrália e as restantes no Chile, México e Perú.

O programa de reservas mundiais de surf enquanto zonas de ondas protegidas visa assegurar a proteção dos recursos naturais da orla costeira e reforçar o reconhecimento internacional do património, considerado também de interesse mundial para a prática do surf e para o desenvolvimento de uma economia associada aos desportos radicais.