A investigadora Maria José Costa, que atualmente integra o MARE - Centro de Ciências do Mar e do Ambiente da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, foi uma das que acompanhou o processo, com realização de estudos de impacto ambiental ao estuário do Tejo, iniciados antes da Expo'98, e posterior monitorização, até 2010, dos efeitos das construções realizadas para a exposição mundial de Lisboa.
O estudo usou índices internacionais para analisar os impactos ambientais nos peixes e animais invertebrados que vivem junto ao fundo do leito do rio, como camarões, caranguejos ou minhocas e pulgas do mar, por exemplo.
"Quando se iniciou o estudo da Expo, aquela zona estava extremamente degradada. Nós estudámos os animais que vivem junto do substrato [do rio] e os peixes e verificámos que a zona era muito pobre", explicou à Lusa.
Maria José Costa classificou como "inacreditável" o estado da zona aquando do início da avaliação.
"O Cardoso e Cunha [então comissário da Expo'98] meteu num autocarro um representante de várias universidades, fomos fazer uma visita guiada àquilo e fiquei chocada. Já no princípio do estudo, uma das jovens que trabalhava comigo ligou-me aflitíssima, porque estava lá uma pessoa morta e, pronto, lá foi a polícia. Então, cães eram muitos: morriam e eram atirados para ali. Restos de um matadouro, frigoríficos, tudo, as pessoas atiravam tudo para ali. Era qualquer coisa de inconcebível", contou.
As primeiras análises demonstraram, portanto, que a qualidade da água era muito má: "Havia pouquíssimos peixes, as comunidades de invertebrados eram muito pobres, com poucas espécies e as espécies que existiam eram as mais oportunistas".
Durante o período de preparação da Expo, o rio Trancão foi despoluído, com a remoção de sedimentos e impedimento de descargas na zona, tendo as comunidades de peixes e invertebrados começado a recuperar.
"Verificámos que houve uma melhoria substancial, quer a nível das comunidades de peixes quer ao nível das comunidades de invertebrados que vivem junto ao fundo e, portanto, a Expo, quanto a nós, foi extremamente importante para resolver o problema daquela zona do estuário do Tejo onde se inseriu", concluiu.
"Não tem nada a ver. Eu conheci o antes e o depois. O balanço, neste aspeto, da Expo é bastante positivo. Naquela zona, hoje, o [rio] Trancão não tem nada a ver. Hoje, as pessoas até vão fazer pesca desportiva para a zona", sublinhou.
Por outro lado, a equipa estudou ainda o impacto da construção da Ponte Vasco da Gama, entre Lisboa e Alcochete e o Montijo, inaugurada em março de 1998, que também teve muita contestação por parte de alguns grupos ambientalistas.
A investigadora salientou que, também neste caso, o balanço foi positivo.
"Nós fizemos os estudos todos e posso dizer que, agora, nos pilares da Ponte há imensa corvina. A corvina entrou no estuário, o que quer dizer que a qualidade da água do estuário está muito melhor e os pescadores conseguem agora pescar imensa corvina nos pilares da ponte", disse.
A exposição mundial "Expo 98" realizou-se em Lisboa em 1998, 500 anos depois da viagem de Vasco da Gama à Índia e teve como tema "Oceanos, um património para o futuro".
A exposição mundial, inaugurada a 22 de maio, teve a participação de mais de cem países e foi visitada por cerca de 10 milhões de pessoas.
Para a realização da exposição foi recuperada uma grande área industrial degradada na zona oriental de Lisboa.