"Parece que os cardeais foram procurar o novo pontífice no fim do Mundo". Estas foram das primeiras palavras proferidas pelo cardeal-arcebispo de Buenos Aires, capital da Argentina, Jorge Mário Bergoglio, que foi eleito Papa esta terça-feira, tendo adoptado o nome de Francisco.
A partir da varanda da Basília de São Pedro, no Vaticano, o Papa convidou os fiéis "a tomarem o caminho da fraternidade, do amor" e "da evangelização" e pediu à massa humana congregada na praça de São Pedro um minuto de silêncio: "Rezem por mim e dêem-me a vossa bênção".
"Rezemos uns pelos outros, para que haja uma grande irmandade. Este caminho deve dar frutos para a nova evangelização", afirmou. O sumo pontífice agradeceu ao seu antecessor, Bento XVI, e solicitou aos fiéis uma oração pelo agora Papa Emérito,
Bergoglio é um intelectual jesuíta, que viaja de autocarro e tem uma visão prática da pobreza: quando foi nomeado cardeal, convenceu centenas de argentinos a não viajarem para Roma, de acordo com um pequeno perfil publicado pelo jornal inglês The Guardian.
Em vez de irem ao Vaticano celebrar a nomeação, Bergoglio pediu que dessem o dinheiro da viagem aos pobres.
Curiosamente, aquele que é agora o 266.º Papa da Igreja Católica, foi o segundo cardeal mais votado em Abril de 2005, no conclave que elegeu Bento XVI como Papa, tendo, à data conseguido reunir 40 votos. À data, cardeal-arcebispo de Buenos Aires pediu, desfeito em lágrimas, que os seus pares não o elegessem como chefe máximo da Igreja.
Foi um dos mais ferozes opositores à decisão das autoridades argentinas de legalizar o casamento homossexual em 2010, argumentando que as "crianças precisam de ter o direito a ser criadas e educadas por um pai e uma mãe".
No entanto, de acordo com o The Guardian, é um moderado, tendo recebido a dignidade cardinalícia de João Paulo II, a 21 de Fevereiro de 2001.
O novo Papa é um reconhecido adepto de futebol e manifestou por diversas ocasiões ser um seguidor do San Lorenzo de Almagro, clube fundado pelo padre Lorenzo Massa em 1908, tendo celebrado mesmo a eucaristia que assinalou os cem anos do clube.
Nasceu a 17 de Dezembro de 1936, na capital argentina e foi ordenado a 13 de Dezembro de 1969, durante os estudos na Faculdade de Teologia do colégio de São José, em São Miguel de Tucuman (norte da Argentina).
Em 1969, viajou para Espanha, onde cumpriu o seu terceiro período de preparação sacerdotal na Universidade de Alcalá de Henares, em Madrid.
A docência desempenhou um papel muito importante na biografia do cardeal Bergoglio, já que ensinou em vários colégios, seminários e faculdades.
Em 1972, regressou à Argentina para ser professor de noviços na localidade de São Miguel de Tucuman.
Em 1980-1986, desempenhou as funções de reitor da Faculdade de Filosofia e Teologia de São Miguel. Concluiu o doutoramento na Alemanha, e foi também confessor e director espiritual da Companhia de Jesus, em Córdova (Espanha).
A nomeação como bispo aconteceu a 20 de maio de 1992, quando João Paulo II lhe confiou a diocese de Auca e o tornou bispo auxiliar da diocese de Buenos Aires.
Cinco anos mais tarde, em 1997, foi nomeado arcebispo co auditor de Buenos Aires e em 1998, depois da morte do arcebispo e cardeal Quarracino, subiu a arcebispo da capital argentina.
O cardeal argentino integrava a Congregação para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, do Conselho pontifício para a Família e a Comissão Pontifícia para a América Latina.
Foi presidente da conferência de bispos na Argentina, entre 8 de Novembro de 2005 e 8 de Novembro de 2011.
A eleição, após a histórica renúncia de Bento XVI no mês passado, foi alcançada após cinco votações, no quinto dia do conclave.
O pontificado de Bento XVI foi marcado por escândalos e o novo papa vai encarar desafios imediatos: impor a sua autoridade à máquina burocrática e institucional do Vaticano, e tentar recuperar os fiéis que a Igreja tem vido a perder nos últimos tempos.
Depois do escândalo da fuga de documentos confidenciais do papa, ‘Vatileaks’, e do relatório sobre estes acontecimentos - redigido por três cardeais e que será dado a conhecer ao novo papa -, Bento XVI anunciou, a 11 de Fevereiro, e para surpresa geral, a renúncia devido à idade avançada.