"Não posso dizer que me possa arrepender, o que eu posso dizer, que eu reconheço, sendo humano que sou, que houve estratégias, houve opções, houve decisões, que provavelmente não foram as mais acertadas, mas o objetivo estratégico, o foco, esse em nenhum momento foi prejudicado por uma ou outra decisão menos acertada", afirma, em entrevista à Lusa.
Garante, contudo, que o processo envolvendo a contestação aos resultados das eleições gerais de 09 de outubro de 2024 "foi positivo", tendo em conta os "resultados tangíveis", como a "cultura cívica, da cultura política" e pelo "entendimento do que é um Estado", percebido "até nas pessoas mais humildes".
"Portanto, eu não posso dizer que me tenha arrependido ou que me arrependa por isso, mas poderia, provavelmente, agora, fazendo uma retrospetiva, fazer uma revisão de algumas estratégias, de algumas decisões, de algumas táticas de atuação", insiste.
Afirma mesmo que o "país ganhou muito" e a população é hoje "mais madura" e "mais capaz de debater a essência das questões fulcrais do país", até pelas "senhoras que vendem tomate, vendem cebola".
"Nesse aspeto eu penso que posso considerar que eu dei o meu contributo e até certo ponto o meu orgulho pelo facto de termos iniciado um processo de transformação social e política em Moçambique, que estava praticamente estagnado", diz.
Em 23 de dezembro de 2024, dois meses e meio após a votação, o Conselho Constitucional proclamou Daniel Chapo vencedor da eleição presidencial, com 65,17% dos votos nas eleições gerais de 09 de outubro, seguindo-se Venâncio Mondlane, com 24%, mas que nunca reconheceu os resultados.
Cerca de 400 pessoas morreram em resultado de confrontos com a polícia, conflitos pós-eleitorais de contestação aos resultados anunciados e resvalaram para saques generalizados em empresas e instituições públicas, paralisações e barricadas nas estradas, que cessaram após encontros entre Mondlane e o Presidente moçambicano, Daniel Chapo, em 23 de março.
No mesmo mês foi lançado um processo de diálogo nacional, envolvendo o Presidente da República e os partidos políticos, com vista a implementar, em dois anos, várias reformas, incluindo a revisão da lei eleitoral, para pacificar o país. Contudo, o partido Anamola, fundado e liderado por Venâncio Mondlane, legalizado apenas em agosto, continua de fora.
"Se entrarmos na profundidade do tal diálogo político inclusivo, ele está mais tendente para um diálogo político exclusivo do que propriamente de integração", diz, acusando: "No interior, na essência, este regime continua a querer manter o mesmo sistema político e a mesma ordem de coisas que antecedeu ao dia 09 de outubro".
Admite mesmo que processo pode ser uma forma de nada se decidir até às próximas eleições, autárquicas em 2028 e gerais em 2029: "Eu acho que essa hipótese é muito válida, tanto mais que o conjunto de reformas que estão a ser propostas para diálogo, para debate, elas não tocam naquilo que é o essencial".
"O problema que levou o país à crise pós-eleitoral é um e simples: roubo de votos, fraude eleitoral. É só isso. Então a questão que está aqui, a essência, o problema central, é o problema de não termos eleições livres, justas e transparentes. Esta é que é a grande questão", insiste.
Daí que, defende, a "reforma mais urgente" não precisa esperar pelos dois anos previstos neste processo, podendo avançar de imediato ao nível do parlamento, que se volta a reunir a partir deste mês, em sessão ordinária.
"Porque daqui a dois anos vamos estar praticamente na tangente para as eleições autárquicas. E isso pode ser usado como motivo para se dizer que não existe espaço para implementação e operacionalização das tais reformas. Eu penso que a questão da revisão e da reforma do sistema eleitoral é o mais urgente e devia ser feito num muito mais curto espaço de tempo", afirma.
Daí que alerta desde já: "Se isso não for feito agora, naturalmente, que é para protelar, usando uma expressão típica aqui de Moçambique, é para empurrar o assunto com a barriga, para uma data sem ideia".
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