La Paz, 17 out 2025 (Lusa) -- Os bolivianos vão às urnas no domingo para escolher o novo Presidente entre os candidatos Jorge Quiroga, da Aliança Livre, e Rodrigo Paz Pereira, do Partido Democrata Cristão, numa inédita segunda volta no país sul-americano.
Na primeira volta de 17 de agosto, o senador de centro-direita Rodrigo Paz Pereira - filho do antigo Presidente Jaime Paz Zamora (1989-1993) - obteve 32,06% dos votos, enquanto o conservador e ex-chefe de Estado boliviano Jorge Quiroga (2001-2002) alcançou 26,70%.
Esta é a primeira vez que será realizada uma segunda volta presidencial no país, que também surpreendeu com a votação expressiva de Paz, que aparecia nas sondagens realizadas antes da primeira volta com menos de 10% das intenções de voto.
A direita passou a ter maioria no parlamento boliviano, enquanto a esquerda, no poder há 20 anos, saiu derrotada nas eleições de 17 de agosto, segundo os resultados finais publicados pelo Tribunal Supremo Eleitoral (TSE) divulgados em 26 de agosto. Os partidos dos vencedores da primeira volta das eleições presidenciais, Rodrigo Paz e Jorge Quiroga, vão controlar o Senado e a Câmara dos Deputados.
O poder vai mudar de mãos após duas décadas de domínio esmagador do Movimento para o Socialismo (MAS - esquerda), liderado pelo ex-Presidente Evo Morales (2006-2019) e, de seguida, pelo atual Presidente, Luis Arce. Quatro partidos de direita passam a deter agora 119 dos 130 lugares parlamentares e todos os 36 senadores.
Esta eleição decorre em plena crise económica, marcada pela escassez de moeda estrangeira e de combustível.
O Governo do Presidente Arce, que decidiu não se recandidatar, praticamente esgotou as reservas cambiais do país para sustentar a sua política de subsídios aos combustíveis. A Bolívia enfrentou também uma inflação anual de quase 25% em julho, um recorde desde pelo menos 2008.
Evo Morales, que abandonou o MAS, tentou candidatar-se pelo partido PAN-BOL, mas o TSE anulou a personalidade jurídica da formação política por incumprimento da lei.
Por outro lado, o Tribunal Constitucional boliviano determinou, em maio, que Morales não poderia ser candidato a um quarto mandato por ter já ocupado o cargo de Presidente mais de duas vezes, o que gerou em junho violentas manifestações dos seus apoiantes, que provocaram pelo menos seis mortos.
Em protesto contra esta exclusão, Evo Morales incentivou o voto nulo na primeira volta. De acordo com os resultados oficiais, 19,2% dos votos foram invalidados, um nível sem precedentes.
No início de outubro, a Missão de Observação Eleitoral da União Europeia (UE) -- que também esteve presente em 17 de agosto - enviou para a Bolívia os primeiros 32 observadores eleitorais de longa duração para as nove regiões da Bolívia.
O vice-chefe da missão de observação da UE, Ian Gray, afirmou que, no total, 120 observadores estarão no país no domingo.
Gray afirmou ainda ter recebido uma denúncia do ex-Presidente e candidato Jorge Quiroga, sobre um plano para anular as eleições gerais realizadas em 17 de agosto por alegada fraude.
"Tomámos nota da queixa da Aliança Livre, o candidato reuniu-se connosco e estamos a acompanhar o caso", disse Gray, sublinhando que "todos os atores aceitaram os resultados" da primeira volta das eleições.
O Presidente boliviano, Luis Arce, repudiou "qualquer tentativa imprudente de pôr em risco a democracia" no país e acusou membros da Assembleia Nacional e setores próximos do ex-Presidente Evo Morales da criação de "ações coordenadas" para tentar anular os resultados das eleições gerais de agosto.
O TSE alertou ainda a população, através de um comunicado nas redes sociais, para a "tentativa de interromper a realização da segunda volta eleitoral, mediante denúncias infundadas ao Ministério Público, com o objetivo de desconsiderar os resultados das eleições gerais de 17 de agosto".
A Bolívia vai chamar às urnas 7.567.207 cidadãos maiores de idade e outros 369.308 em 22 países para eleger o Governo dos próximos cinco anos.
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