"Unam-nos, na COP30 e além, para colocar as áreas húmidas no centro da agenda climática global, garantindo que continuem a ser aliadas na luta contra a crise climática", lê-se no manifesto que foi apresentado na quarta-feira, durante a divulgação de um relatório da Fundação para a Justiça Ambiental (EJF), na Embaixada da União Europeia em Brasília.
A menos de um mês da realização da Conferência das Nações Unidas sobre o Clima (COP30), na cidade amazónica brasileira de Belém do Pará, os signatários da carta apelaram para que as "áreas húmidas sejam prioridade na agenda climática global da COP30 e que ações urgentes sejam tomadas para a sua conservação e proteção".
Na cerimónia de apresentação do relatório da EJF, a embaixadora da União Europeia no Brasil, Marian Schuegraf, frisou que o dever da comunidade internacional "é agir com urgência e determinação".
Por outro lado, o diretor do Departamento de Conservação e Uso Sustentável da Biodiversidade do Ministério do Ambiente do Brasil, Bráulio Dias, demonstrou "imensa preocupação em relação ao pantanal", a maior planície alagável do mundo, localizado nos estados brasileiros de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e também em partes da Bolívia e Paraguai.
"Sem o pulso das águas nós vamos perder o Pantanal" disse, sublinhando ainda que "a manutenção dessas áreas húmidas no Brasil não está garantida"
No relatório, a EJF advertiu que as áreas húmidas "são o ecossistema mais ameaçado do mundo, desaparecendo três vezes mais rápido do que as florestas" e que, "embora ocupem apenas 6% da superfície terrestre, elas armazenam a maior parte do carbono presente no solo globalmente".
Por essa razão, a EJF exigiu que os líderes mundiais se comprometam "a proteger e restaurar áreas húmidas de água doce, (...) reconhecendo o seu papel crítico em evitar os piores efeitos da crise climática".
A COP 30 pode marcar um ponto de viragem no destino das áreas húmidas do Brasil, uma oportunidade para aproveitar o potencial deste bioma em prol das metas climáticas, com benefícios para a biodiversidade e as populações locais.
De acordo com dados oficiais do Governo brasileiro, em termos de extensão proporcional por biomassa no país, o Pantanal foi o mais afetado pelos incêndios, com 62% da sua área queimada nas últimas quatro décadas.
No ano passado, o Pantanal foi o bioma brasileiro que mais perdeu superfície de água em relação à média histórica (61%).
Em 2024, houve um aumento de 157% da área queimada no Pantanal, tendo sido destruídos um total de 2,2 milhões de hectares.
Sobre a COP30, a vice-secretária-geral da ONU Amina J. Mohammed apelou na terça-feira aos países que ainda não apresentaram as metas de redução de emissões para 2035 que o façam rapidamente e que garantam "financiamento para o combate às alterações climáticas".
Os debates prévios à COP30, que será inaugurada a 10 de novembro na cidade de Belém, na Amazónia brasileira, terminaram na terça-feira com o encerramento da última ronda de consultas entre os negociadores, na chamada Pré-COP.
A responsável da ONU sublinhou que continua a ser difícil garantir o financiamento para o combate às alterações climáticas nos países menos desenvolvidos e apelou para que a COP30 "garanta o financiamento para o combate às alterações climáticas".
A Pré-COP30 reuniu durante dois dias, em Brasília, delegações de 67 dos 162 países já acreditados para a cimeira, que tentaram, sem grande êxito, superar os obstáculos que persistem nas negociações.
Na COP29, os países mais ricos comprometeram-se a contribuir com 300 mil milhões de dólares (256 mil milhões de euros) anuais, três vezes mais do que o decidido até então --- montante que nunca chegou a ser desembolsado, o que tem sido alvo de críticas constantes por parte do Presidente do Brasil Luiz Inácio Lula da Silva.
Dez anos após o Acordo de Paris, os compromissos de financiamento assumidos pelos países mais desenvolvidos ainda não foram plenamente cumpridos, e a atual crise do sistema multilateral surge como novo obstáculo.
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