Mas os esforços para reduzir estas emissões que começaram há anos com o Acordo de Paris tiveram um efeito importante. Sem estes esforços, a Terra dirigia-se para uns adicionais 114 dias por ano com calor mortal, apontou um estudo divulgado na quinta-feira
Os cientistas da World Weather Attribution, que investigam a relação entre eventos extremos e alterações climáticas, e do Climate Central juntaram-se para calcular, através de simulações em computador, qual foi a diferença feita pelo Acordo de Paris em um dos maiores efeitos da rutura climática global: as vagas de calor.
O estudo calculou quando dias anormalmente quentes o mundo e mais de 200 países tiveram em 2015, quantos existem agora e os que se projetam em dois cenários.
Um dos cenários é um em que os Estados cumprem os seus compromissos de reduzirem emissões de GEE e em 2100 a temperatura média global (TMG) excede a da era pré-industrial em 2,6 graus Celsius (ºC). Neste caso, os dias perigosamente quentes aumentarão em 57 face aos atuais.
O outro cenário é o de um aumento da TMG em 4ºC, caminho em que o mundo estava antes do Acordo de Paris. Neste caso, o número de dias perigosamente quentes seria o dobro.
Uma das co-autoras, Kristina Dahl, da Climate Central, garante: "Vai haver dor e sofrimento por causa das alterações climáticas".
Porém, relativizou, "se se olhar para esta diferença entre 4ºC e 2,6ºC, isto reflete os últimos 10 anos e as ambições que as pessoas perseguiram., para mim, é encorajador".
Cerca de 200 Estados vão reunir-se no Brasil, para a 30.ª Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas, COP30 abreviadamente.
Cientistas e analistas estão a compilar informação que aponta para o Acordo de Paris ter representado avanços contra a rutura climática global, mas são muito pequenos e muito lentos.
Victor Gensini, da Universidade do Norte do Ilinóis, disse que o que se apurou sobe os dias quentes "ilustra tanto o sucesso como os problemas do Acordo de Paris".
O estudo define um dia como super-quente quando regista uma temperatura 90% acima de datas comparáveis entre 1991 e 2020. Desde 2015, o mundo tem tido em média 11 dias destes.
"Isto envia pessoas para os serviços de urgência. O calor mata pessoas", acentuou Dahl.
O documento não quantifica quantas pessoas vão ser afetadas por estes dias , mas a co-autora Friederike Otto, do Imperial College de Londres, não tem dúvidas: "Vão ser dezenas de milhar ou milhões, não menos". Acentuou ainda que por ano já morrem milhares de pessoas nas vagas de calor.
O estudo calcula que a vaga de calor na Europa do Sul em 2023 teve uma probabilidade de ocorrência de 70% e uma temperatura superior em 0,6ºC em relação ao período de há 10 anos, quando o Acordo de Paris foi assinado.
Acima de tudo, a informação mostra quão injustos são os efeitos da rutura climática global, mesmo no cenário menos extremo.
Os 10 países que vão ter os maiores aumentos no número de dias perigosamente quentes são quase todos pequenos e insulares, como Ilhas Salomão, Samoa, Panamá e Indonésia. O Panamá, por exemplo, pode ter mais 149 dias perigosamente quentes do que os que tem.
Por junto, estes 10 países produzem apenas um por cento dos GEE, mas vão ter 13% dos adicionais dias perigosamente quentes.
Ao contrário, EUA, China e Índia, que produzem 42% dos GEE, apenas vão ter mais entre 23 e 30 dias perigosamente quentes, menos de um por cento.
O diretor do Potsdam Climate Institute, Johan Rockstrom, que não participou na investigação, alertou para que as pessoas não se devem sentir aliviadas por não se estar na tendência do aumento da TMG em 4ºC, porque a evolução "continua a implicar um futuro desastroso para milhares de milhões de pessoas".
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