John Bolton, conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca durante o primeiro mandato de Donald Trump e atual crítico do presidente norte-americano, foi formalmente indiciado por várias acusações federais e poderá enfrentar décadas na prisão.
Segundo o Departamento de Justiça dos Estados Unidos, John Bolton foi acusado por um grande júri federal em Maryland e enfrenta um total de 18 acusações: oito de transmissão de informações de defesa nacional e dez de retenção de informações de defesa nacional.
Na acusação, citada pela CNN Internacional, os procuradores afirmam que, enquanto conselheiro foi conselheiro de Trump, Bolton partilhou "mais de mil páginas de informações sobre as suas atividades quotidianas" com duas pessoas não autorizadas.
A acusação diz ainda que as duas pessoas eram familiares de Bolton e não tinham autoridade para aceder a informações confidenciais.
"A investigação do FBI revelou que John Bolton terá transmitido informações ultrassecretas utilizando contas pessoais online e guardou os referidos documentos na sua casa, em violação direta da lei federal", indicou o diretor do FBI, Kash Patel, em comunicado.
"O caso baseou-se no trabalho meticuloso de profissionais de carreira dedicados do FBI que acompanharam os factos sem medo ou favoritismo. A instrumentalização da justiça não será tolerada, e este FBI não poupará esforços para levar à justiça qualquer pessoa que ameace a nossa segurança nacional", acrescentou.
Justice Department Statements Regarding Indictment of Former National Security Advisor John Bolton https://t.co/lrNzDZqzvi @FBIBaltimore pic.twitter.com/yLcEqSjkLF
— FBI (@FBI) October 16, 2025
Já a procuradora-geral dos Estados Unidos, Pamela Bondi, citada no mesmo comunicado, fez questão de frisar que "qualquer pessoa que abuse de uma posição de poder e ponha em risco a segurança nacional será responsabilizada" e que "ninguém está acima da lei".
Se for condenado, Bolton "enfrenta uma pena máxima de 10 anos de prisão por cada acusação de retenção ilegal de informação de defesa nacional e uma pena máxima de 10 anos de prisão por cada acusação de transmissão de informação de defesa nacional".
Sublinhe-se que o FBI realizou buscas na casa e num escritório de John Bolton no passado dia 22 de agosto. Na altura, fontes familiarizadas com o caso indicaram à agência de notícias The Associated Press (AP) que em causa estava uma investigação relacionada com a possível retenção de informações de segurança nacional.
As buscas foram levadas a cabo na casa de John Bolton, em Maryland, e no seu escritório, em Washington.
Numa entrevista ao ABC, recordou a AP, Bolton tinha sido questionado se estava preocupado com a possibilidade de a administração Trump tomar medidas contra ele por ser crítico do presidente. No entanto, Bolton disse que Trump já tinha "ido atrás dele" ao retirar-lhe a segurança pessoal.
Acrescentou: "Acho que esta é uma presidência de retaliação".
No início do ano, dias após a tomada de posse de Donald Trump, Bolton tinha revelado que o republicano o tinha retirado da proteção dos Serviços Secretos destinado a altos funcionários.
Considerado belicista, Bolton afirmou que foi alvo de um plano de assassinato do Irão entre 2021 e 2022. Teerão queria, alegadamente, vingar a morte do seu general Qassem Soleimani, morto a 3 de janeiro de 2020 num ataque com drones no Iraque ordenado pelo presidente Donald Trump quando ocupou pela primeira vez a Casa Branca (2017-2021).
De acordo com o republicano Bolton, o ex-presidente dos Estados Unidos, o democrata Joe Biden, tinha prolongado a sua medida de proteção dos Serviços Secretos em janeiro de 2021, mas Donald Trump retirou-a e cortou todo o seu acesso a dados de segurança e de inteligência.
A relação entre Trump e o ex-assessor deteriorou-se após uma série de desentendimentos sobre a política externa dos Estados Unidos, que levaram à saída de Bolton do cargo em setembro de 2019.
Na altura, Trump afirmou que demitiu Bolton por discordar das suas posições, mas Bolton disse que foi o próprio que decidiu demitir-se.
A tensão aumentou ainda com a publicação do livro ‘The Room Where It Happened’, no qual Bolton teceu várias críticas a Trump.
O livro, divulgado pouco antes das eleições presidenciais de 2020, revelava um retrato cru, sem filtros, do comportamento de Trump nos contactos com líderes estrangeiros.
Na altura, o governo de Trump tentou impedir a publicação, alegando que o manuscrito continha informação classificada que poderia comprometer a segurança nacional.
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