"As cenas horríveis visíveis nos corpos dos mártires repatriados pela ocupação [Israel], com marcas de tortura, abusos e execuções no campo, revelam claramente a natureza criminosa e fascista do exército de ocupação", criticou o Hamas em comunicado.
O Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas, recebeu hoje mais 30 corpos de palestinianos das autoridades israelitas e informou que alguns "apresentam sinais de abusos e espancamentos", bem como vestígios de terem sido algemados e vendados.
Esta entrega eleva para 120 o número de corpos de palestinianos devolvidos por Israel, no âmbito do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, de um total de 360 previstos.
Para o Hamas os sinais de abusos são demonstrativos da "decadência moral e humana a que chegou esta entidade", referindo-se mais uma vez a Israel, que, "na sua agressão, não faz distinção entre os vivos e os mortos" do povo da Palestina.
No comunicado, o grupo radical palestiniano pede "uma investigação urgente e completa" sobre estes "crimes atrozes" e que os perpetradores israelitas sejam levados a tribunais internacionais e "responsabilizados pela prática de crimes contra a humanidade sem precedentes na história moderna".
O acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza resultou na devolução, desde segunda-feira, de 20 reféns vivos e outros nove mortos em posse do grupo islamita, em troca de quase dois mil prisioneiros palestinianos, além dos 120 corpos até à data.
Após a transferência de dois corpos, na noite de quarta-feira, o braço armado do Hamas assumiu que não conseguiu aceder aos restantes 19 reféns mortos ainda por devolver.
"Estamos a fazer um grande esforço para encerrar esta questão", afirmaram as Brigadas al-Qassam em comunicado, referindo que a localização dos corpos requer "operações e equipamento especial para busca e recuperação".
A demora na entrega dos reféns mortos está a colocar pressão no frágil acordo de cessar-fogo, que prevê um comité internacional que ajude o Hamas a encontrar os corpos dados como desaparecidos.
Na noite de quarta-feira, a Casa Branca (presidência norte-americana) afastou uma violação do entendimento por parte do Hamas, tal como tinha sido anteriormente sugerido pelo Governo israelita, que ameaçou condicionar o fluxo da ajuda humanitária à Faixa de Gaza ou até romper o acordo e regressar à ofensiva militar no enclave.
O jornal Jerusalem Post noticiou hoje, citando fontes diplomáticas, que Israel está a partilhar com a mediação norte-americana dados dos seus serviços de informações que facilitem a localização dos corpos desaparecidos.
O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, foi o principal impulsionador do acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, negociado ao longo de vários dias em Sharm el-Sheikh, no Egito, com a mediação de delegações egípcias, qataris e turcas.
Nesta fase, foi acordado o cessar-fogo na Faixa de Gaza, a retirada gradual das forças israelitas, a entrada em massa de ajuda humanitária no enclave palestiniano e a troca de reféns por prisioneiros.
A segunda fase vai abordar a reconstrução, bem como o desarmamento do Hamas e a governação do território.
A guerra na Faixa de Gaza foi desencadeada pelos ataques liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023 no sul de Israel, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
Em retaliação, Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa de Gaza, que provocou mais de 67 mil mortos, segundo as autoridades locais controladas pelo Hamas, a destruição de quase todas as infraestruturas do território e a deslocação forçada de centenas de milhares de pessoas.
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