Os fósseis, que foram analisados por uma equipa internacional liderada por Carrie Mongle, da Universidade de Stony Brook, em Nova Iorque (Estados Unidos), pertencem a um esqueleto parcial de Paranthropus boisei descoberto perto do Lago Turkana (Quénia).
Os detalhes do estudo foram publicados na revista Nature, noticiou na quarta-feira a agência Efe.
Entre há 2 e 1 milhão de anos, chegaram a existir quatro espécies de hominídeos a coexistir na África Oriental: P. boisei, Homo habilis, Homo rudolfensis e Homo erectus.
Sabe-se que alguns hominídeos deste período fabricavam e utilizavam ferramentas de pedra, mas a falta de fósseis dificultou a determinação de saber se o P. boisei possuía as características morfológicas necessárias para tal.
Agora, os restos fósseis apresentados por Mongle e colegas incluem, pela primeira vez, os ossos da mão e do pé de um P. boisei, cujo crânio foi encontrado anteriormente por Mary Leakey (coautora deste novo estudo), juntamente com ferramentas Oldowan.
O estudo concluiu que as mãos destes primeiros hominídeos partilham características tanto com os humanos modernos como com os macacos africanos.
Especificamente, as proporções entre os comprimentos do polegar e dos dedos indicam que o P. boisei possuía uma força de preensão ou destreza semelhante à dos humanos, mas possivelmente sem a precisão da preensão digital.
Em contraste, outros ossos da mão assemelham-se aos dos gorilas, o que pode ter conferido ao P. boisei uma preensão poderosa, útil para trepar.
As descobertas sugerem que o P. boisei pode ter sido capaz de fabricar e utilizar ferramentas até certo ponto, enquanto a sua força de preensão pode ter facilitado o processamento manual de alimentos (como descascar plantas difíceis de comer para remover partes indigestas).
Num artigo relacionado da News & Views, Tracy Kivell, do Instituto Max Planck de Antropologia Evolutiva de Leipzig, na Alemanha, e Samar M. Syeda, do Museu de História Natural de Nova Iorque, referem que dezenas de exemplos de restos cranianos e dentários encontrados no Vale do Rift da África Oriental indicam que o Paranthropus boisei tinha uma mandíbula robusta com grandes dentes molares.
Além disso, o P. boisei possuía "um rosto achatado com maçãs do rosto largas e, em alguns casos, cristas ósseas pronunciadas no crânio que teriam permitido a inserção de poderosos músculos mastigatórios".
Estas características, juntamente com as assinaturas químicas encontradas nas análises dentárias, sugerem que o P. boisei possuía "uma dieta especializada em alimentos difíceis de processar, como gramíneas e juncos, que os hominídeos com dentes mais pequenos poderiam não conseguir comer".
No entanto, devido à falta de fósseis, "surpreendentemente pouco" se sabe sobre o aspeto do resto do corpo.
Por isso, os fósseis apresentados por Mongle e colegas são cruciais não só para a compreensão do P. boisei, mas também "para a reinterpretação de outros fósseis de hominídeos" que ainda não foram catalogados, sublinham os especialistas.
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