"Não aceitaremos quaisquer obstáculos à distribuição da nossa ajuda. Ninguém esperava que isto fosse simples ou fácil (...). Devemos restaurar a confiança e a esperança através de ações concretas", declarou num comunicado Tom Fletcher, também Coordenador da Ajuda de Emergência das Nações Unidas.
Israel, frisou, "deve permitir uma onda maciça de ajuda humanitária - milhares de camiões por semana -, da qual dependem tantas vidas e que o mundo inteiro tem exigido".
"Precisamos de mais passagens fronteiriças abertas e de uma estratégia genuína, prática e direcionada para resolver os problemas que subsistem", afirmou o responsável.
Após a assinatura, na segunda-feira, do acordo que pôs fim a dois anos de guerra entre Israel e o grupo islamita palestiniano Hamas, "este é um momento de grande, ainda que precária, esperança", sustentou.
Fletcher denunciou que, embora no início desta semana tenham conseguido começar a expandir a distribuição de ajuda humanitária, "após meses de frustração e bloqueios", na terça-feira enfrentaram novos obstáculos para pôr em prática o que foi acordado: o fecho de postos fronteiriços.
"Ao longo desta crise, insistimos que negar ajuda a civis não pode ser usado como moeda de troca. O fornecimento de ajuda é uma obrigação legal", acrescentou o representante da ONU.
Fletcher emitiu também um apelo tanto a Israel como ao Hamas para que façam "enérgicos e urgentes esforços para a devolução de todos os corpos dos reféns mortos".
"Também me preocupam profundamente as provas de violência contra civis em Gaza", acrescentou no comunicado, deixando claro que a ONU prestará "ajuda neutra" que chegue aos civis, não aos grupos armados.
O subsecretário-geral da ONU previu novas dificuldades ao longo do caminho, mas instou a que não se vacile.
O teste definitivo ao acordo, concluiu, é que as famílias estejam seguras e unidas, que as crianças estejam alimentadas, protegidas e regressem à escola, e que palestinianos e israelitas possam encarar o futuro com mais segurança, justiça e oportunidades: "O mundo já falhou muitas vezes; não deve falhar desta vez".
A ONU confirmou na terça-feira que as passagens fronteiriças de Israel para Gaza foram encerradas e apelou ao Governo israelita e ao Hamas para que respeitem as condições estabelecidas no acordo de cessar-fogo, para que a entrada de ajuda humanitária no enclave possa aumentar exponencialmente.
Camiões com ajuda humanitária começaram hoje a entrar apenas pela passagem egípcia de Rafah para as passagens israelitas de Kerem Shalom e Al-Auja, de onde é permitida a entrada na Faixa de Gaza, segundo a estação de televisão egípcia Al-Qahera News.
Israel e o Hamas anunciaram na noite de 08 de outubro um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, a primeira fase de um plano de paz proposto pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, após negociações indiretas mediadas pelo Egito, Qatar, Estados Unidos e Turquia.
Esta fase da trégua envolveu a retirada parcial do Exército israelita para a denominada "linha amarela" demarcada pelos Estados Unidos, linha divisória entre Israel e a Faixa de Gaza, a libertação de 20 reféns em posse do Hamas e de 1.968 prisioneiros palestinianos.
O cessar-fogo visa pôr fim a dois anos de guerra em Gaza, desencadeada pelo ataque de 07 de outubro de 2023 do Hamas a Israel, no qual cerca de 1.200 pessoas foram mortas e 251 sequestradas.
A retaliação de Israel fez pelo menos 67.913 mortos - entre os quais mais de 20.000 crianças - e de 170.134 feridos, na maioria civis - não só vítimas de fogo israelita, mas também de fome -, segundo números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
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