Numa conferência de imprensa em Nova Iorque, na qual participou por videoconferência, Fletcher apresentou detalhes do plano que a ONU tem delineado para entregar auxílio aos palestinianos de Gaza e indicou que serão necessárias mais rotas abertas e garantias de segurança para que essa ajuda seja entregue na escala necessária.
"Devemos aproveitar este momento com vontade coletiva, determinação e generosidade. Não deve haver retrocesso nos acordos celebrados. Haverá quem tente impedir a implementação do plano do Presidente [dos Estados Unidos, Donald Trump], e tal não deve ser permitido", defendeu.
A ONU tem planos de entregar alimentos, medicamentos e outros produtos essenciais durante os primeiros 60 dias do cessar-fogo, com o objetivo de aumentar os mantimentos que entram em Gaza para "centenas de camiões todos os dias", disse Fletcher.
Em relação à alimentação, as Nações Unidas pretendem chegar até 2,1 milhões de pessoas que necessitam de ajuda alimentar e a cerca de 500 mil pessoas que necessitam de apoio nutricional.
"A fome precisa de ser revertida em áreas onde se instalou e prevenida noutras", explicou.
Nesse sentido, os trabalhadores humanitários vão distribuir produtos alimentares, apoiar padarias e cozinhas comunitárias, assim como pastores e pescadores na restauração dos meios de subsistência.
Vai também ser fornecido ainda dinheiro a 200 mil famílias para cobrir as necessidades alimentares básicas e "dar-lhes o sentido de dignidade e autonomia, ao poderem escolher os próprios alimentos nos mercados", frisou Fletcher, que falou com os jornalistas a partir de Riade, na Arábia Saudita.
A ONU pretende também restaurar o sistema de saúde dizimado e fornecer mais produtos e material médico essencial.
"Tentaremos restabelecer a vigilância de doenças a nível comunitário para apoiar as casos de emergência e mais evacuações médicas", disse.
Na questão da água e do saneamento, a ONU tenciona atingir 1,4 milhões de pessoas e, no domínio do abrigo, vai expandir a oferta, inclusive ajudando as famílias a preparar-se para o inverno.
No campo da educação, a organização quer reabrir espaços de aprendizagem temporários para 700 mil crianças em idade escolar e fornecer-lhes materiais didáticos e escolares.
"Este é o plano. Podemos pô-lo em prática. Já o fizemos antes e vamos voltar a fazê-lo", assegurou.
Para que este plano seja um sucesso, insistiu o diplomata britânico, serão necessárias dez condições: desde a entrada semanal de dois milhões de litros de combustível até a proteção do pessoal humanitário, incluindo a reabertura dos pontos de passagem e o financiamento integral do recurso de emergência, que atualmente está coberto em apenas 28%.
"Cada Estado, cada Governo, cada pessoa que se perguntou: 'O que posso fazer?'Agora é a hora de demonstrar generosidade", pediu.
Quanto àqueles que poderão tentar sabotar esse processo, Tom Fletcher não quis nomeá-los: "Extremistas de ambos os lados tentaram, no passado, atrasar ou sabotar os esforços para libertar reféns ou entregar ajuda. Mas espero que o amplo apoio internacional expresso hoje (...) sirva para marginalizar essas vozes", disse.
Na quarta-feira, Israel e o movimento islamita palestiniano Hamas anunciaram um acordo de cessar-fogo na Faixa de Gaza, primeira fase de um plano de paz proposto por Donald Trump, após negociações indiretas mediadas pelo Egito, Qatar, Estados Unidos e Turquia.
Esta fase da trégua envolve a retirada parcial do Exército israelita para a denominada "linha amarela" demarcada pelos Estados Unidos, linha divisória entre Israel e Gaza, a libertação de 20 reféns em posse do Hamas e de 1.950 presos palestinianos.
O cessar-fogo visa pôr fim a dois anos de guerra em Gaza, desencadeada pelos ataques a Israel, liderados pelo Hamas em 07 de outubro de 2023, nos quais morreram cerca de 1.200 pessoas e 251 foram feitas reféns.
A retaliação de Israel já provocou mais de 67 mil mortos e cerca de 170.000 feridos, a maioria civis, de acordo com dados do Ministério da Saúde de Gaza (tutelado pelo Hamas), considerados credíveis pela ONU.
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