"Ao longo de todas estas décadas, sempre fomos guiados por uma coisa: os interesses do povo sírio. Temos laços realmente profundos com o povo sírio", disse Putin, em declarações transmitidas pela televisão russa, em que destacou também o desejo de "reforçar as relações" bilaterais com Damasco.
Segundo referiu a agência noticiosa Associated Press (AP), ao receber Al-Sharaa em Moscovo, o Presidente russo sublinhou a intenção de estabelecer laços de trabalho com a nova liderança síria e de garantir a manutenção da presença militar no país.
A Rússia, concentrada na guerra na Ucrânia e com um contingente militar reduzido na Síria, não interveio para travar a recente ofensiva rebelde que determinou a mudança da liderança síria, tendo concedido asilo ao aliado e líder deposto Bashar al-Assad, que se encontra exilado desde dezembro passado na capital russa.
Apesar de terem assumido lados opostos durante a guerra civil, as novas autoridades em Damasco adotaram uma postura pragmática nas relações com Moscovo.
A Rússia mantém a presença nas bases aérea e naval na costa síria e o Kremlin já manifestou esperança em negociar um acordo para preservar esses postos militares.
Moscovo terá igualmente enviado carregamentos de petróleo para a Síria.
O porta-voz do Kremlin (presidência russa), Dmitri Peskov, confirmou hoje que o futuro das bases russas na Síria estava na agenda das conversações.
A base naval de Tartus e a base aérea de Hmeimim, ambas na costa do Mediterrâneo, são os únicos postos militares oficiais da Rússia fora dos territórios da antiga União Soviética.
A agência noticiosa oficial síria SANA referiu que Al-Sharaa e Putin iriam "discutir os desenvolvimentos regionais e internacionais de interesse mútuo e explorar formas de desenvolver a cooperação em benefício de ambos os países".
Nas breves declarações no início do encontro, Al-Sharaa não mencionou diretamente as bases russas, mas, tal como Putin, sublinhou os "laços históricos" entre os dois países e a importância de os redefinir e aprofundar.
"Estamos a tentar restaurar e redefinir uma nova maneira a natureza dessas relações para que a Síria possa desfrutar da sua independência e soberania, bem como da unidade e integridade territorial (...), segurança e estabilidade", afirmou.
Putin saudou as eleições legislativas realizadas este mês na Síria, considerando-as um "grande êxito", sublinhando que contribuirão para consolidar a sociedade.
Numa recente entrevista ao programa 60 Minutes, da estação norte-americana CBS News, Al-Sharaa afirmou que as autoridades sírias "usarão todos os meios legais disponíveis" para exigir o julgamento de Al-Assad.
Na segunda-feira, o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov, afirmou que Moscovo concedeu asilo a Al-Assad "por razões humanitárias", dado que "ele e a sua família enfrentavam o risco de extermínio físico".
Delegações russas visitaram Damasco em janeiro e setembro, enquanto o ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Asaad Hassan Al-Shaibani, esteve em Moscovo em julho.
Para o novo Governo sírio, manter laços com a Rússia é essencial para a reconstrução do país devastado pela guerra, bem como permite diversificar a política externa.
Para Moscovo, preservar as suas bases navais e aéreas na Síria é crucial para manter presença militar no Mediterrâneo.
Na entrevista à CBS, Al-Sharaa sublinhou que "a Rússia tem relações estreitas e de longa data com a Síria, que estão ligadas à estrutura fundamental do Estado, bem como às áreas da energia e da alimentação, das quais a Síria depende parcialmente das importações russas, além de outros interesses estratégicos antigos".
Desde o Governo de Hafez al-Assad (pai de Bashar al-Assad) que a Rússia tinha o regime sírio como um aliado, e durante a revolta no país que resultou numa guerra civil, Moscovo apoiou a nível militar e envolveu-se diretamente no conflito que durou mais de uma década.
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