Randrianirina anunciou, na terça-feira, que as forças armadas estavam a tomar o poder em Madagáscar, após semanas de protestos contra o Presidente Andry Rajoelina e o seu Governo, protagonizados sobretudo por grupos de jovens descontentes com a conjuntura económica e social.
Na opinião do coronel, tem de haver uma tomada de posse nos próximos dias, para que a posição seja oficializada.
Os protestos, que duram há semanas, atingiram um ponto de viragem no sábado, quando Randrianirina e soldados da sua unidade de elite Corpo de Administração de Pessoal e Serviços do Exército Terrestre (CAPSAT) se revoltaram contra Rajoelina e juntaram-se às manifestações que exigiam a demissão do Presidente, levando-o a fugir.
Rajoelina, no poder desde 2018, afirmou ter fugido para um local seguro por temer pela sua vida após a rebelião das forças de Randrianirina, mas rejeita a tomada do poder pelos militares, classificando-a como uma tentativa de golpe ilegal por parte de uma fação rebelde.
O Presidente tinha dissolvido, terça-feira, a Assembleia Nacional para evitar a sua destituição e denunciou, durante a votação, que a sessão não possuía "qualquer base legal", mas no total, 130 dos 163 deputados, ou seja, mais do que a maioria de dois terços exigida, votaram a favor do seu afastamento.
Por seu turno, Randrianirina declarou hoje que a nova liderança militar nomeará rapidamente um primeiro-ministro para formar Governo, embora não tenha indicado um prazo concreto.
A União Africana convocou uma reunião de emergência do seu Conselho de Segurança para a próxima terça-feira.
Alguns analistas, citados pela AP, descreveram o recente movimento juvenil em Madagáscar como uma expressão de descontentamento face às falhas do Governo, condenando a intervenção militar.
"Os jovens da geração Z [nascidos entre 1997 e 2012] em Madagáscar têm estado nas ruas há quase um mês a protestar contra a falta de serviços essenciais, especialmente água e eletricidade, e o impacto negativo nas suas vidas", afirmou Olufemi Taiwo, professor de Estudos Africanos na Universidade Cornell.
"Esta é uma revolta da sociedade civil e a sua resolução não deve envolver os militares", acrescentou o docente.
Pelo menos 22 pessoas foram mortas nas manifestações e cerca de 100 ficaram feridas, de acordo com um balanço da ONU de 29 de setembro.
Apesar das riquezas naturais, Madagáscar continua a ser um dos países mais pobres do mundo e quase 75% da população vivia abaixo do limiar da pobreza em 2022, segundo o Banco Mundial.
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