"Vamos tomar o poder a partir de hoje e dissolver o Senado e o Supremo Tribunal Constitucional. A Assembleia Nacional continuará a funcionar", afirmou o coronel Michael Randrianirina em frente ao palácio presidencial, no centro da capital malgaxe.
Contestado nas ruas e com paradeiro desconhecido, Andry Rajoelina, que hoje dissolveu a Assembleia, denunciou, durante a votação, que a sessão de destituição não possui "qualquer base legal".
Tendo fugido do país num avião militar francês no domingo, segundo a rádio francesa RFI, Rajoelina chegou ao poder pela primeira vez em 2009, designado pelos militares após uma revolta popular.
O Corpo de Administração de Pessoal e Serviços do Exército Terrestre (CAPSAT), unidade militar que desempenhou um papel importante no golpe de Estado de 2009, inverteu o equilíbrio de forças ao juntar-se, no sábado, às manifestações que começaram a 25 de setembro.
Os seus oficiais apelaram às forças de segurança para que "se recusassem a disparar" contra os manifestantes, antes de se juntarem a estes no centro da capital.
No total, 130 dos 163 deputados, ou seja, mais do que a maioria de dois terços exigida, votaram hoje a favor da destituição de Andry Rajoelina. Normalmente, esta teria de ser aprovada pelo Supremo Tribunal Constitucional, cuja dissolução foi anunciada hoje pelo coronel Randrianirina.
Rajoelina disse hoje que vai realizar "várias visitas oficiais previstas a países amigos, membros da SADC [Comunidade de Desenvolvimento da África Austral]".
Hoje, milhares de manifestantes voltaram a reunir-se em Antananarivo.
Embora inicialmente tenham surgido para protestar contra os recorrentes cortes de água e eletricidade, as mobilizações, impulsionadas pelo movimento 'Gen Z' (jovens nascidos entre 1997 e 2012), tornaram-se antigovernamentais e exigiram a demissão de Rajoelina, cuja proposta de diálogo nacional foi rejeitada pelos organizadores.
O movimento 'Gen Z', acompanhado por funcionários públicos convocados para a greve por vários sindicatos, é inspirado em mobilizações juvenis recentes em países como Quénia e Nepal.
Estes protestos são os piores que a ilha do Oceano Índico vive há anos e o maior desafio que Rajoelina enfrentou desde a sua reeleição em 2023.
Pelo menos 22 pessoas foram mortas nas manifestações e cerca de 100 ficaram feridas, de acordo com um balanço da ONU de 29 de setembro.
Madagáscar, uma ilha com uma população muito pobre, tem uma longa história de revoltas populares seguidas pela instauração de governos militares de transição.
Apesar das riquezas naturais, Madagáscar continua a ser um dos países mais pobres do mundo e quase 75% da população vivia abaixo do limiar da pobreza em 2022, segundo o Banco Mundial.
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