"Adoramos [o povo argentino]. Estamos aqui para os apoiar. Têm um grande líder", sublinhou Trump durante o aperto de mão a Milei.
O Tesouro dos EUA anunciou na quinta-feira ajuda financeira sob a forma de um 'swap cambial' bilateral de 20 mil milhões de dólares (17 mil milhões de euros, à taxa de câmbio atual) e de intervenção norte-americana direta no mercado cambial para comprar e sustentar o peso sob pressão, aliviando as reservas do Banco Central Argentino.
O anúncio, precedido no final de setembro por uma promessa inicial de apoio do Tesouro para fazer "o que for necessário", ocorreu numa altura em que os Estados Unidos começam a sentir os efeitos de uma paralisia orçamental que entra na terceira semana, devido a um impasse no Congresso que não dá sinais de ser ultrapassado.
O impulso da principal potência mundial impulsionou o peso argentino, que tinha caído a pique na semana passada e que continuava hoje a subir.
A presidência argentina não forneceu detalhes sobre a visita de Milei, para além de uma reunião seguida de um almoço de trabalho com Donald Trump.
O apoio norte-americano chega num momento crítico para o líder argentino, que em 26 de outubro, enfrentará eleições intercalares indecisas, que determinarão a sua margem de manobra no Parlamento e a sua capacidade de governar durante os dois anos que faltam da sua presidência.
A incerteza em torno da eleição --- e se Javier Milei manteria ou não a sua política de austeridade --- colocou a economia argentina, a terceira maior da América Latina, à mercê da turbulência financeira das últimas semanas.
"Os Estados Unidos perceberam este ataque à Argentina, às ideias de liberdade, a um aliado estratégico, e é por isso que nos deram o seu apoio", frisou hoje Milei.
Para o economista e ex-presidente do Banco Central, Martín Redrado, trata-se apenas de "assistência financeira, uma nova ponte", depois da ajuda do FMI em abril (um empréstimo de 20 mil milhões de dólares), "que proporciona tranquilidade financeira até às eleições".
"Mas a Argentina não pode ir de ponte em ponte", alertou, daí a importância, após as eleições, de "desenvolver um programa legislativo para abordar as questões da produção e do emprego" num país com mais de 40% de empregos informais e onde o emprego formal está estagnado desde 2011.
Para além da provável empatia ideológica entre os dois presidentes, a imprensa argentina tem questionado nos últimos dias quais são as contrapartidas da ajuda norte-americana.
Tem sido falado o acesso privilegiado dos investidores dos EUA aos recursos minerais argentinos, como o lítio e o urânio, ou um afastamento argentino da China, o segundo maior parceiro comercial destes a seguir ao Brasil.
Javier Milei negou repetidamente que os Estados Unidos tenham solicitado a rescisão do acordo de 'swap cambial' existente entre a Argentina e a China --- renovado em 2024 --- em troca do swap com os Estados Unidos.
"Isto é falso, não pediram. A razão pela qual recebemos este apoio é geopolítica", afirmou há duas semanas.
A Embaixada da China na Argentina reagiu este fim de semana aos comentários atribuídos ao Secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, sobre as relações entre a Argentina e a China, afirmando que os Estados Unidos "devem compreender que a América Latina e as Caraíbas não são o quintal de ninguém".
Na sexta-feira, a presidência argentina anunciou que a empresa norte-americana OpenAI, criadora do ChatGPT, assinou uma carta de intenções para construir um megacentro de inteligência artificial de 25 mil milhões de dólares na Patagónia.
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