Ancara, 14 out 2025 (Lusa) --- O Presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, rejeitou a presença do primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, na cimeira de alto nível no Egito sobre Gaza, confirmou hoje Omer Celik, porta-voz do partido no poder.
Erdogan, cujo governo mantém laços com o Hamas, movimento islamita palestiniano considerado terrorista por Israel e países ocidentais, foi um dos signatários da declaração quadripartida assinada segunda-feira em Sharm el-Sheikh, no Mar Vermelho, juntamente com o Presidente norte-americano, Donald Trump, e os líderes do Egito e do Qatar.
"A posição do nosso Presidente (Erdogan) é absolutamente clara (...) Ele nunca aceitaria estar no mesmo enquadramento fotográfico que Netanyahu. Não aceitaria estar na mesma cúpula. Não aceitaria sentar-se à mesma mesa", disse Celik aos jornalistas.
"A participação de Netanyahu não estava inicialmente na ordem do dia (...). No entanto, como estamos preparados para todos os cenários possíveis, já tínhamos planeado como responder caso tal situação surgisse", adiantou.
Embora Netanyahu tenha inicialmente aceitado um convite de última hora para participar na cimeira, o seu gabinete anunciou posteriormente que não participaria devido a um feriado judaico.
A participação de Netanyahu na cimeira chegou a ser noticiada pela rádio e televisão públicas israelitas e confirmada num comunicado da presidência egípcia.
Hoje, o gabinete de Netanyahu não quis fazer comentários.
A cimeira consagrou o plano Trump para um cessar-fogo em Gaza e pôr fim, de forma definitiva, ao conflito entre Israel e o Hamas.
Fonte diplomática turca indicou à AFP na segunda-feira que Ancara, apoiada por países árabes, pressionou para impedir a presença do chefe do executivo israelita na cimeira.
A confirmação por parte de Omer Celik é a primeira pública de que a Turquia trabalhou ativamente para bloquear a participação de Netanyahu na cimeira de Sharm el-Sheikh.
Na segunda-feira, o primeiro-ministro iraquiano, Mohammed Shia al-Sudani, também avisou as autoridades egípcias e norte-americanas de que se retiraria da cimeira caso Netanyahu comparecesse, segundo a Agência de Notícias Iraquiana.
Fontes diplomáticas citadas pela AFP afirmaram na segunda-feira que o anúncio da presença de Benjamin Netanyahu na cimeira sobre Gaza gerou uma onda de descontentamento dos líderes regionais e isso levou à exclusão do primeiro-ministro israelita.
O Presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmoud Abbas estava pronto para se encontrar com Netanyahu, adiantou a AFP citando fonte diplomática ocidental.
Um responsável da Casa Branca assegurou que o Presidente norte-americano, em visita a Israel antes de ir para o Egito, tinha organizado uma chamada com o seu homólogo egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, para a qual o primeiro-ministro israelita também tinha sido convidado.
Num discurso na terça-feira, Erdogan saudou a declaração assinada no Egito como um passo significativo para travar o que descreveu como "genocídio" em Gaza.
Erdogan acusou repetidamente Israel de cometer genocídio em Gaza --- uma alegação que Israel nega veementemente.
"A devastação causada pelo genocídio pode nunca ser totalmente reparada (...). A reconstrução de Gaza provavelmente levará anos", disse.
O jornal turco Hurriyet, alinhado com o governo, noticiou hoje que o avião de Erdogan abortou a aterragem em Sharm el-Sheikh na segunda-feira devido a um problema na pista, e não por Erdogan ameaçar boicotar a reunião.
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