Para a antiga diretora do Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), "este vírus corrói os alicerces do desenvolvimento económico, social e financeiro dos países, levando os cidadãos à descrença, desconfiança e desrespeito para com as instituições e órgãos do Estado e seus representantes".
Nesse sentido, considerou que "compromete, definitivamente, o desenvolvimento social, económico, financeiro, educacional, cultural, político e jurídico".
Cândida Almeida foi oradora sobre o tema "outras experiências de combate à corrupção e lições para Moçambique" na conferência nacional sobre o combate à corrupção, que termina hoje, em Maputo, promovida pela Procuradoria-Geral da República moçambicana.
A magistrada jubilada do Ministério Público português disse que os altos níveis de corrupção no mundo estão "associados a fracos níveis de desenvolvimento económico, político e social", pedindo uma aposta na luta contra este fenómeno que, disse, se está a sofisticar.
"Esta terrível e pérfida condicionante do desenvolvimento transparente, íntegro, sadio e sólido da vida em comunidade, é um perigo global que obriga todas as nações livres, democráticas e em vias de desenvolvimento a criar instrumentos internos e externos de prevenção e de luta contra a corrupção", disse Maria Cândida Almeida.
"Deste marasmo, resulta o aprofundar das desigualdades sociais e económicas, a 'nulização' dos níveis de investimento interno e transnacional, suscita instabilidade nas finanças públicas, nos concursos públicos, nas universidades, na contratação dos funcionários e em qualquer ato decisório da administração e não se satisfaz à autonomia intencional do Estado", acrescentou.
Referindo-se à corrupção como um fenómeno global, de que Portugal e Moçambique são alvos, disse que este tipo de crime provoca "erosão na boa governação", degradando a relação entre governante e população, pedindo que se investigue o "trajeto do dinheiro sujo", ato essencial para acabar com a corrupção.
"A investigação desta tipologia de crimes reveste-se de particular complexidade e morosidade. O crime é cometido no segredo dos deuses e é de difícil detenção, sobretudo quando o corrupto se socorre do percurso labiríntico do branqueamento de capitais e coloca, afinal, os ativos tóxicos em 'offshore', a maioria das quais não está nada interessada em colaborar com países vítimas destas atividades criminosas", alertou.
O Presidente moçambicano, Daniel Chapo, avisou na segunda-feira, na abertura desta conferência, que o compromisso do país com o combate "ao martírio" da corrupção "é inequívoco", sendo necessário acabar com o "sentimento de impunidade que reina" na sociedade e na administração pública.
O Gabinete Central de Combate à Corrupção de Moçambique (GCCC) registou no primeiro trimestre 334 novos processos relativos à corrupção que lesaram o Estado em cerca de 3,5 milhões de euros.
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