Este dia de ação no país, convocado pela intersindical, acontece quando estão a decorrer negociações orçamentais na Bélgica. O governo federal prepara grandes cortes na proposta de orçamento de 2026, cuja apresentação, inicialmente prevista para hoje, foi adiada uma semana.
A polícia contabilizou 80.000 manifestantes na capital belga, um número significativamente maior do que as 60.000 pessoas mobilizadas em 13 de fevereiro, após a formação do novo Governo federal.
O executivo belga "está a implementar um projeto brutal: um ataque em grande escala à proteção social, aos serviços públicos, à segurança social, à solidariedade", acusou o grupo intersindical.
"Uma geração inteira recusa-se a permitir que sejam destruídos em seis meses o que os nossos pais e avós demoraram muito tempo a construir", disse Thierry Bodson, presidente da FGTB (socialista), unida aos outros grandes sindicatos belgas numa frente comum, no início da manifestação.
O primeiro-ministro, Bart De Wever, que tomou posse no início de fevereiro, já adotou um limite de dois anos para o subsídio de desemprego e tenciona implementar uma vasta reforma das pensões, incluindo a abolição dos regimes especiais e o alinhamento da situação dos funcionários públicos com o setor privado.
"Direito à reforma aos 65 anos" e "Procurados por roubo de pensões", podia ler-se nos cartazes dos manifestantes, entre faixas e bandeiras sindicais.
Os manifestantes, nomeadamente nos setores educativo e social, protestam também contra as medidas de redução de custos na parte francófona do país, anunciadas pelo executivo da Federação Valónia-Bruxelas.
"Venho reivindicar os meus direitos e os dos meus alunos, se continuar assim, que futuro terão? Quero que isso mude e que o ensino seja levado mais a sério", disse Victoria Coya, uma professora de 27 anos, citada pela agência de notícias France-Presse.
Chantal Desmet, de 59 anos e desempregada, disse estar "revoltada com o futuro dos filhos", que não conseguem encontrar emprego, rematando: "Tenho pena dos jovens".
Devido a este dia de ação, o tráfego aéreo foi severamente interrompido na Bélgica.
"Para podermos continuar a garantir a segurança dos passageiros e funcionários, decidimos, em consulta com as companhias aéreas, não operar voos de passageiros com partida em 14 de outubro", anunciou o aeroporto de Bruxelas-Zaventem, o maior do país, na página oficial.
Os voos que chegam também correm o risco de serem cancelados. O aeroporto justificou com uma greve dos prestadores de serviços de segurança.
O aeroporto de Charleroi, pelas mesmas razões, "não poderá operar os voos programados para partida e chegada" durante o dia, avisou.
Os transportes públicos foram também gravemente perturbados em Bruxelas, bem como na Valónia e na Flandres, devido a este apelo à mobilização.
Várias pessoas foram detidas pela polícia esta manhã (hora local), depois de terem causado danos e deflagrado incêndios nas imediações da circular interna de Bruxelas.
A agência de notícias Belga também deu conta de confrontos entre manifestantes de cara tapada e a polícia.
Pode ver na galeria imagens recolhidas no local pelo Notícias ao Minuto.
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