"De qualquer forma, [o presidente da Autoridade Palestiniana Mahmoud] Abbas estava pronto para o encontrar. É uma pena", confidenciou à agência de notícias francesa AFP uma fonte diplomática ocidental.
A participação do líder palestiniano foi anunciada à última hora, e depois confirmada na manhã de hoje pelo presidente francês, Emmanuel Macron, à sua chegada a esta cimeira, que é suposto consagrar o plano Trump, o qual permitiu um cessar-fogo em Gaza e prevê pôr fim, de forma definitiva, ao conflito entre Israel e o Hamas.
Pouco depois, a rádio e televisão públicas israelitas anunciavam que Benjamin Netanyahu também se deslocaria à cimeira, informação confirmada num comunicado da presidência egípcia.
Um responsável da Casa Branca assegurou que o presidente americano, em visita a Israel antes de ir para o Egito, tinha organizado uma chamada com o seu homólogo egípcio, Abdel Fattah al-Sissi, para a qual o primeiro-ministro israelita também tinha sido convidado.
Mas, uma hora mais tarde, Benjamin Netanyahu recuou. "Agradeceu ao presidente Trump pelo convite, mas declarou que não poderia assistir à cimeira, devido à festa" judaica de Simchat Torá ("Alegria da Torá"), que começa hoje ao anoitecer, informaram os seus serviços em comunicado.
Michael Milshtein, antigo oficial dos serviços de inteligência militar, atualmente especialista em assuntos palestinianos no Centro Moshe Dayan da Universidade de Tel-Aviv, salienta que "a maioria dos israelitas não está convencida com este argumento de que foi devido às festas", inclinando-se para "considerações políticas", "talvez relacionadas com o seu receio dos Haredim", partidos ultraortodoxos.
A Turquia, apoiada por países árabes, afirma, por sua vez, ter pressionado para impedir a presença do chefe do executivo israelita na cimeira, indicou à AFP uma fonte diplomática turca.
"Por iniciativa do presidente [Recep Tayyip] Erdogan e graças aos esforços diplomáticos da Turquia, com o apoio de outros líderes, Netanyahu não participará da reunião no Egito", comentou com alegria esta fonte.
A Turquia, próxima dos líderes políticos do Hamas, participou nas negociações com o movimento palestiniano em Doha, ao lado do Qatar e do Egito, e pretende desempenhar um papel na aplicação e na monitorização do cessar-fogo em Gaza.
O Iraque, que não reconhece Israel, também ameaçou retirar-se da cimeira "se Netanyahu participasse", revelou à AFP Ali al-Mousawi, conselheiro do primeiro-ministro iraquiano.
Segundo este responsável, "a parte egípcia ouviu e informou Netanyahu que ele não poderia ser recebido, o que levou ao cancelamento da sua participação" na cimeira. "Há aqui muitos países que não reconhecem Israel, alguns entraram em pânico, não queriam a fotografia com ele", explicou um membro de outra delegação em Sharm el-Sheikh. "Portanto, ele [primeiro-ministro israelita] recuou", concluiu.
"Acho que havia muitos líderes que isso colocava numa situação difícil e, por isso, penso que foi melhor agir assim", comentou por sua vez o presidente Macron antes da sua partida, sublinhando que "as coisas foram muito bem organizadas".
"Penso que o presidente Trump gosta de fazer operações. Eu tenho um pouco o mesmo temperamento. Compreendo muito bem", concluiu Macron.
Leia Também: "Brasil não tem um problema com Israel. Tem com Netanyahu"