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Estátuas humanas em semáforos de Maputo para alegrar e fugir a desemprego

Leonardo Mendes, estudante de 22 anos, pinta 'estátuas humanas' que expõe em semáforos da capital moçambicana para alegrar o dia de motoristas e peões, atividade que abraçou, também, para fugir ao desemprego.

Estátuas humanas em semáforos de Maputo para alegrar e fugir a desemprego

© Lusa

Lusa
13/10/2025 05:00 ‧ há 4 horas por Lusa

"Isso muda o dia das pessoas", diz à Lusa Leonardo Mendes, fundador do grupo de estátuas humanas "Sem Limites X", composta por seis pessoas, pouco depois de pintar um casal de estátuas, prateadas, expostas no semáforo da avenida Mao Tse Tung, centro de Maputo.

 

Com a arte, o jovem quer melhorar o dia dos moçambicanos, enquanto consegue moedas atiradas às cestas junto das estátuas por condutores e peões, que ajudam a custear despesas da universidade e de casa.

"Procuro também sustentar os meus estudos e dar um pequeno contributo em casa com a arte que faço. Somos dois em casa, (...) o pouco que eu faço na rua consegue ajudar", aponta, referindo que, por dia, consegue quase 2.000 meticais (26 euros), acompanhado do irmão mais novo, a fazer o mesmo.

Para aprender e para garantir o seu contributo na arte, preservando os seus direitos como criança, e atuando em pequenos eventos, diz.

Logo pelas 07:00 (06:00 em Lisboa), as estátuas humanas tomam as avenidas de Maputo, mantêm a pose firme sobre uma caixa improvisada e têm próxima ou na mão uma cesta ou peneira onde deverão ser depositadas as moedas.

Os jovens mantêm-se imóveis por cerca de seis horas, até ao intervalo do almoço. Uns em todos dourados, outros prateados, verdes, azuis e amarelos, para não cansar a vista de quem aprecia.

"O meu pensamento, como representante do grupo, é tentar inovar a arte e a estátua humana para não cansar as pessoas e não deixar isso morrer, levar para mais além", acrescenta Leonardo.

Do outro lado da cidade está Bernardo Miguel, 25 anos, imóvel na avenida Salvador Allende, um dos vários semáforos em que já posou, com a peneira esticada e o número de telemóvel anotado na caixa de cerveja dourada que suporta o seu peso todos os dias.

Sem nenhuma formação académica, Bernardo deposita a sua fé na arte, enquanto pensa em alternativas de rendimento para realizar o sonho de ter casa própria.

"Eu estou pensando em fazer negócios, não parar nesse lado de estátua, não. (...) Vou levar roupas, vender nos mercados (...). Sentar em casa também não é solução", diz à Lusa Bernardo Miguel, pintado de prata e com uma bengala na mão, enquanto varia as poses.

Bernardo consegue ganhar pelo menos 700 meticais (9,24 euros) por dia, numa atividade que considera perigosa, mas "prefere arriscar".

"A pessoa pode parar para levar o meu número para negociações de eventos, outras coisas por aí, assim, festinhas", refere o jovem, que se iniciou na atividade durante as manifestações que se seguiram às eleições de outubro de 2024.

Nesta arte importa a criatividade para conquistar um admirador, visão que diante de Alice, de 19 anos, que ocupa a mesma avenida do Bernardo, mas num outro semáforo, não passou despercebida, esta distinguindo-se com a cor verde.

De bailarina a humorista, na busca por emprego, Alice descobriu as estátuas humanas após convite de um amigo. Hoje, enquanto se apronta nas traseiras de um prédio, sonha em levar o negócio para fora de Moçambique.

"Saí e não gostei. De todos os trabalhos, o que gostei é isso", conta Alice Mussa, enquanto estende a peneira para uma condutora que abriu o vidro do carro para depositar dinheiro.

Conta à Lusa que está a juntar moedas para renovar o passaporte e emigrar para a África do Sul, para exercer a mesma atividade naquele país.

"O meu sonho é ter o meu trabalho e sair nos países estrangeiros (...) Para mim vai significar uma coisa muito grande. Tipo, hoje em dia, você vê, quando estou parada aqui, a pessoa vem me ver, [e diz] 'oi, mulher estátua, oi, estátua humana'. Fico feliz também", diz Alice, referindo que consegue ganhar cerca de 1.000 meticais (13,2 euros) por dia.

Com parte de um espelho partido na mão, uma esponja, batom, Alice transforma-se todos os dias numa estátua verde e expõe-se nas ruas de Maputo.

"Escolhi a cor verde, porque ainda não vi. Já decidi ter uma cor diferente. Sim, ser uma mulher verde", diz, esclarecendo que nunca teve problemas de pele por conta da tinta aplicada.

As estátuas humanas são ainda uma novidade para Maputo, uma iniciativa vista como "ganha-pão" e alternativa ao desemprego por Lucas Zimba, 36 anos, que depositou na cesta 100 meticais (1,32 euros).

 "Eu dei dinheiro por ver a iniciativa. (...) Então, com a iniciativa deles, vai incentivar muita gente, muitas pessoas, que não têm ideia do que fazer para poder ganhar o seu pão", diz o homem, que precisou fugir da entrevista para atender um cliente na sua banca improvisada de venda de peças artesanais, que há quatro anos sustenta a sua família para também "evitar roubar telemóveis nas ruas".

As estátuas admitem insegurança da atividade, mas continuam intactas todos os dias nos semáforos de Maputo e só fogem em dias de muito sol e chuva, temendo cair e aleijar-se.

Leia Também: Moçambique mantém preço de referência de castanha de caju em 45 meticais

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