"Esta noite, as forças armadas do Emirado islâmico levaram a cabo com sucesso represálias contra as forças de segurança paquistanesas ao longo da linha Durand, em resposta a repetidas violações e ataques aéreos ao território afegão pelo exército paquistanês", disse à AFP o porta-voz do Ministério da Defesa talibã Enayatullah Khwarizmi.
"Esta operação terminou à meia-noite, mas, se o adversário voltar a violar o território afegão, as nossas forças armadas estarão prontas para defender o território e reagirão com firmeza", advertiu.
No início da noite de sábado, responsáveis talibãs das províncias de Kunar, Nangarhar, Paktia, Khost e Helmand, todas situadas na linha Durand, que delimita a fronteira entre o Paquistão e o Afeganistão, confirmaram à AFP a ocorrência de "violentos confrontos".
"As forças talibãs começaram a usar armas ligeiras e depois artilharia pesada em quatro pontos da fronteira", referiu à agência de notícias francesa um alto responsável de Peshawar, em Khyber-Pakhtunkhwa, província paquistanesa fronteiriça com o Afeganistão.
As forças paquistanesas "responderam com fogo intenso e abateram três drones quadricópteros afegãos suspeitos de transportar explosivos", acrescentou.
O chefe da diplomacia iraniana, Abbas Araghchi, apelou aos vizinhos Afeganistão e Paquistão para que "demonstrassem contenção", salientando que "a estabilidade nas relações" entre os três "contribui para a estabilidade regional".
O Ministério dos Negócios Estrangeiros saudita também exortou os dois países a "evitarem qualquer escalada e dialogarem para acalmar as tensões".
A escalada começou na quinta-feira, quando duas explosões ocorreram na capital afegã e uma terceira no sudeste do país.
No dia seguinte, o Ministério da Defesa talibã atribuiu esses ataques ao Paquistão, acusando o vizinho de ter "violado a sua soberania".
Islamabade não confirmou ser o responsável, mas pediu a Cabul que "parasse de abrigar no seu território os talibãs paquistaneses [TTP]".
Este movimento - formado em combate no Afeganistão e que reivindica a mesma ideologia que os talibãs afegãos - é acusado por Islamabade de ter matado centenas de soldados paquistaneses desde 2021.
Nos últimos meses, os militantes do TTP intensificaram a campanha de violência contra as forças de segurança paquistanesas nas zonas montanhosas fronteiriças com o Afeganistão.
No sábado, o movimento reivindicou ataques mortíferos no noroeste do país, que causaram a morte de 23 pessoas.
Estes ocorreram na sexta-feira, não muito longe da fronteira com o Afeganistão, na província de Khyber Pakhtunkhwa, matando forças de segurança e três civis.
Para Islamabade, são os talibãs afegãos, de volta ao poder em Cabul desde o verão de 2021, que estão a promover o ressurgimento do TTP.
Um relatório do Conselho de Segurança das Nações Unidas publicado no início deste ano notava que o TTP "foi sem dúvida o grupo extremista estrangeiro no Afeganistão que mais beneficiou" do regresso dos talibãs afegãos, "que acolheram e apoiaram ativamente" o movimento.
Mas Cabul nega veementemente e rejeita a acusação, assegurando que o Paquistão apoia grupos terroristas, incluindo a filial regional do grupo Estado Islâmico (EI).
Na quinta-feira, o ministro da Defesa paquistanês, Khawaja Muhammad Asif, declarou ao parlamento que as múltiplas tentativas para convencer os talibãs afegãos a cessarem o apoio ao TTP fracassaram.
"A nossa resposta poderá causar danos colaterais. Todos terão de assumir as consequências, incluindo aqueles que dão abrigo" a estes militantes, disse.
O ano de 2024 foi o mais mortífero para o Paquistão em quase uma década, com mais de 1.600 mortos nesta violência, principalmente soldados.
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