Já durante o dia de hoje foram usados pelas forças de segurança gás lacrimogéneo e granadas atordoantes para dispersar os milhares de manifestantes que enchem as ruas da capital Antananarivo, mas após o apelo à desobediência de um contingente militar para que forças armadas, forças militarizadas e policiais não disparassem contra os civis em protesto vários grupos de soldados juntaram-se aos manifestantes, constatou uma equipa da agência noticiosa francesa AFP no local.
As manifestações de hoje na capital e em vários outros pontos da ilha de Madagáscar, na costa oriental de África, são as maiores desde que há já mais de duas semanas se iniciaram os protestos da população contra o poder político no país.
"Fechem os portões e aguardem as nossas instruções. Não obedeçam mais a ordens vindas dos vossos superiores. Apontem as armas aos que vos ordenam atirar contra os vossos irmãos de armas, porque não serão eles que vão cuidar da nossa família se morrermos", declararam os soldados do contingente militar do CAPSAT (Corpos do exército e do pessoal dos serviços administrativos e técnicos, num vídeo divulgado hoje.
O novo ministro das Forças Armadas, numa conferência de imprensa hoje, apelou à calma dos militares e pediu-lhes que privilegiem o diálogo.
O Alto-Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk, apelou na sexta-feira às autoridades de Madagáscar para "cessarem o recurso a uma força desnecessária" nos protestos, que já causaram várias mortes.
Milhares de manifestantes, instigados pelo movimento 'Gen Z' (jovens nascidos entre 1997 e 2012), reuniram-se novamente na quinta-feira em Antananarivo, capital de Madagáscar, país que tem sido, nas últimas duas semanas, palco de um movimento de protesto nascido de frustrações com os cortes incessantes de água e eletricidade, que se transformou numa contestação mais ampla, nomeadamente dirigida contra o Presidente, Andry Rajoelina, de 51 anos.
Pelo menos 22 pessoas foram mortas nas manifestações e cerca de 100 ficaram feridas, de acordo com um balanço da ONU de 29 de setembro, números que são "errados" segundo declarou, quinta-feira, o chefe de Estado.
Após um tom conciliador e a demissão do Governo, o Presidente infletiu ao nomear um militar como primeiro-ministro, assim como três novos ministros: das Forças Armadas, da Segurança Pública e da Polícia.
Inspirados pelas recentes mobilizações juvenis em países como o Quénia e o Nepal, estes protestos são os piores que a ilha vive há anos e o desafio mais sério que Rajoelina enfrenta desde a sua reeleição em 2023.
Andry Rajoelina foi eleito em 2018 e reeleito em 2023 numa votação boicotada pela oposição e ignorada por mais de metade dos eleitores inscritos.
Em reação às nomeações no Governo esta semana, mais de 200 organizações da sociedade civil malgaxe manifestaram quinta-feira as suas preocupações sobre a possibilidade de uma governação militar no país.
Também na quarta-feira, o secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou às autoridades do país para que cumpram o direito internacional dos Direitos Humanos durante os protestos.
Apesar das riquezas naturais, Madagáscar continua a ser um dos países mais pobres do mundo e quase 75% da população vivia abaixo do limiar da pobreza em 2022, segundo o Banco Mundial.
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