"A grande diferença [entre o primeiro e o segundo mandato de Donald Trump] tem a ver com as pessoas que estão à volta do presidente", afirmou Anne Applebaum, sustentando que, depois da segunda eleição, o presidente "só atraiu para trabalhar com ele pessoas interessadas em mudar radicalmente o sistema político americano".
Para a jornalista depois de os anteriores apoiantes de Trump, "republicanos que acreditavam num determinado conjunto de ideia" se terem afastado "e até falado contra ele", após a eleição de 06 de janeiro o presidente dos Estado Unidos só tem a seu lado "pessoas que, por diferentes razões ( políticas, económicas, religiosas), planearam como iriam mudar o sistema político e estão a cumprir essa agenda".
As mudanças nos Estados Unidos, na Europa e em vários países do mundo foram o mote para a escritora e jornalista falar de "medos" na última mesa do Fólio, em Óbidos, numa conversa que passou pelo medo de as autocracias tomarem o lugar das democracias.
Se ainda vamos a tempo de evitar esse medo na Europa, foi a questão colocada a Raquel Vaz-Pinto, oradora na mesma mesa de autores, onde defendeu que "não temos que ser tão fatalistas".
Se por um lado a preocupação de que "a próxima geração tenha menos oportunidades" está "a reforçar os populismos", a escritora e académica defende que a resposta passa por "ir para a rua e fazer tudo o que estiver ao nosso alcance para lutar pela nossa democracia liberal".
E nesse campo, lembrou "estarmos integrados na União Europeia é uma vantagem",afirmou, sublinhando as vantagens de "termos um comunidade de outros países que partilham as mesmas ideias, com algumas exceções notáveis, neste momento".
Esta foi a segunda mesa de autores das 15 que integram a programação do Fólio Autores, depois de durante a tarde a escritora sul-coreana Cho Nam-joo ter estado à conversa com a académica finlandesa Iida Turpeinen, sob o tema"Existência".
Cho Nam-joo, que disse ao público do Folio escrever para retratar "a realidade de uma mulher, com um trabalho e uma vida normal" no seu país, assumiu na conversa que a literatura pode contribuir para mudar o mundo, mas que a sua opção é "deixar fluir" e tentar mudar "um pouquinho cada dia, com as escolhas".
Já Iida Turpeinen que na sua obra relaciona as ciências com a literatura, defendeu que, num momento em que há políticos a contestar o conhecimento científico e países as invadirem outros "é muito perigo" deixar de fazer escolhas. "Gostava de ver mais entusiasmo em acreditar que somos capazes de mudar as coisas", concluiu.
O Fólio, que decorre em Óbidos até ao dia 19, conta nesta edição com três laureados com o prémio Nobel da Literatura: a bielorrussa Svetlana Aleksiévitch, o sul-africano J. M. Coetzee e o húngaro László Krasznahorkai, entre mais de 460 iniciativas, incluindo mais de uma centena de conversas entre autores e o público, 15 mesas de autor, tertúlias, seminários, lançamento de livros, concertos e entregas de prémios.
Organizado pelo município de Óbidos, em parceria com a empresa municipal Óbidos Criativa, a Ler Devagar e a Fundação Inatel, o Fólio realiza-se desde 2015 na vila classificada como Cidade Criativa da Literatura pela UNESCO.
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