Numa reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU pedida por Caracas para abordar o destacamento militar sem precedentes dos Estados Unidos nas Caraíbas, o embaixador russo, Vasily Nebenzya, avaliou que a postura norte-americana ameaça diretamente a paz e a segurança regional e internacional.
Nebenzya contestou as alegações de Washington, que tem justificado os ataques a embarcações venezuelanas com o combate ao tráfico de drogas, e indicou tratar-se de "propaganda" e de um "enredo perfeito para um filme de sucesso de Hollywood, no qual os americanos mais uma vez salvam o mundo".
"Essas alegações são completamente desprovidas de fundamento. O Escritório da ONU sobre Drogas e Crime nem sequer considera a Venezuela um centro de tráfico de drogas, visto que 87% da cocaína chega aos Estados Unidos através do Oceano Pacífico, ao qual a Venezuela não tem acesso", afirmou o diplomata russo.
As tensões entre Washington e Caracas aumentaram ainda mais quando, em 02 de setembro, o Governo de Donald Trump anunciou ter atingido uma embarcação suspeita de transportar drogas em águas internacionais no Mar das Caraíbas Meridional.
Segundo as autoridades norte-americanas, 11 pessoas foram mortas nesse ataque.
Com base em informações divulgadas pelas autoridades norte-americanas, foram realizados ataques aéreos adicionais contra embarcações que alegadamente transportavam droga nos dias 15, 16 e 19 de setembro, e novamente a 03 de outubro, indicou hoje a ONU na reunião.
No total, essas operações terão resultado em 21 mortes.
"Washington recentemente (...) alegou ter provas irrefutáveis de que as embarcações pertenciam a cartéis de drogas. No entanto, a comunidade internacional não tem como verificar isso, pois os suspeitos nunca foram detidos ou acusados, e a carga que supostamente transportavam foi destruída", afirmou Nebenzya.
"Por outras palavras, as embarcações que transportavam pessoas foram simplesmente abatidas em alto mar sem julgamento, seguindo o princípio do 'disparar primeiro', e agora pedem-nos que acreditemos retroativamente que havia criminosos a bordo", acrescentou, acusando Washington de uma flagrante violação do direito internacional e dos direitos humanos.
O diplomata russo denunciou ainda uma "campanha descarada de pressão política, militar e psicológica" dos EUA sobre "o Governo de um Estado independente, com o único propósito de mudar um regime desfavorável" a Washington.
Também o embaixador chinês junto à ONU afirmou que as "operações de execução unilaterais e excessivas dos EUA" violam o direito à vida e outros direitos humanos básicos e representam uma ameaça à liberdade e à segurança da navegação.
"Opomo-nos ao uso ou ameaça de força nas relações internacionais e à interferência de forças externas nos assuntos internos da Venezuela, sob qualquer pretexto", frisou Fu Cong.
O embaixador chinês instou os EUA a cessarem imediatamente essas ações para evitar uma maior escalada e "a não usarem a desculpa do combate ao narcotráfico para pôr em risco a segurança da navegação dos países".
Por sua vez, o diplomata norte-americano John Kelley insistiu que Donald Trump usará todo o poderio dos EUA para enfrentar e erradicar os cartéis de drogas, independentemente de onde operem.
Os EUA acusam o Presidente venezuelano de liderar o Cartel dos Sois e recentemente aumentaram a recompensa por informações que levem à captura de Nicolás Maduro para 50 milhões de dólares (cerca de 43 milhões de euros).
Kelley acrescentou que as ações e políticas do "regime ilegítimo de Maduro" representam uma ameaça extraordinária tanto para a região quanto para a segurança nacional dos EUA.
Já o embaixador venezuelano afirmou que este é um conflito fabricado exclusivamente pelos EUA e que avança para uma escalada perigosa.
Nesse sentido, Samuel Moncada antecipou que, "a muito curto prazo", será perpetrado um ataque armado dos EUA contra a Venezuela e apelou ao Conselho de Segurança para que use dos meios necessários para evitar um agravamento ainda maior da situação.
Moncada alegou ainda que os Estados Unidos estão desesperados para controlar as fontes de petróleo venezuelano
"Se a Venezuela não tivesse petróleo, a ameaça militar iminente não existiria", defendeu.
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