Numa sequência de mensagens nas redes sociais, o líder cubano Miguel Díaz-Canel afirmou ser "vergonhoso" atribuir este prémio a Machado, "uma pessoa que instiga a intervenção militar na sua terra natal e, nos últimos anos, protestos de rua em que pessoas foram queimadas vivas".
"A politização, o preconceito e o descrédito do Comité Norueguês do Prémio Nobel da Paz atingiram limites inimagináveis", afirmou Díaz-Canel, cujo regime tem sido ele próprio alvo de críticas em relatórios periódicos do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas, nomeadamente pela repressão de protestos e situação de presos políticos.
O regime comunista de Cuba e a Venezuela de Nicolás Maduro, herdeiro político de Hugo Chávez, tornaram-se aliados regionais, ideologicamente próximos e tendo como inimigo comum os Estados Unidos.
Alvo de um embargo internacional prolongado, Havana depende do regime de Maduro para adquirir petróleo e combustíveis refinados, entre outros bens.
"Rejeitamos firmemente esta manobra política que tenta isolar a Venezuela e minar a sua liderança bolivariana, liderada pelo seu Presidente legítimo, Nicolás Maduro", declarou o presidente.
María Corina Machad foi impedida de concorrer às últimas eleições: em janeiro de 2024, o Supremo Tribunal de Justiça a proibiu de ocupar cargos públicos durante 15 anos.
As autoridades eleitorais venezuelanas declararam Maduro vencedor das eleições de julho de 2024, contra uma coligação da oposição de que fazia parte o partido de Corina Machado, mas nem este bloco nem grande parte da comunidade internacional reconheceram os resultados, que consideraram viciados.
O Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que está repleto de apoiantes de Maduro, declarou-o vencedor das eleições horas após o fecho das urnas. Mas, ao contrário das eleições presidenciais anteriores, as autoridades eleitorais não forneceram contagens detalhadas dos votos.
Entretanto, a principal coligação da oposição recolheu folhas de cálculo de 80% das urnas eletrónicas do país, publicou-as 'online' e disse que os registos de votação mostravam que González ganhou as eleições com o dobro dos votos de Maduro.
O governo ignorou os apelos à transparência vindos de dentro e de fora da Venezuela e a Assembleia Nacional (Parlamento), controlada pelo partido no poder, enviou a Maduro um convite para a sua cerimónia de tomada de posse.
O candidato da oposição, Edmundo González, deixou a Venezuela em setembro de 2024 para se exilar em Espanha depois de ter sido emitido um mandado de detenção no âmbito de uma investigação sobre a publicação dos cadernos de contagem de votos, enquanto Machado passou à clandestinidade.
Dezenas de governos, incluindo os Estados Unidos, reconheceram González como o vencedor das eleições.
Os protestos pós-eleitorais, de grande escala, foram reprimidos com violência e milhares de detenções, tendo a ONU apelado a uma comissão de inquérito internacional por suspeitas de abusos de direitos humanos por parte das autoridades.
Também hoje, a plataforma de oposição Conselho para a Transição Democrática em Cuba (CTDC) manifestou a sua "profunda alegria" e reconheceu a "firmeza e perseverança" da líder venezuelana.
"María Corina demonstrou uma liderança inequívoca com firmeza e perseverança, unindo a oposição venezuelana num projeto comum", afirmou o CTDC em comunicado.
O Comité Nobel Norueguês atribuiu esta manhã o Nobel da Paz 2025 à opositora venezuelana Maria Corina Machado, ex-deputada da Assembleia Nacional da Venezuela entre 2011 e 2014.
Corina Machado foi premiada "pelo trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e pela luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia", explicou o comité.
Nascida em 1967, na Venezuela, Maria Corina Machado é uma das principais vozes da oposição democrática ao regime de Maduro, e chegou a ser a candidata favorita à vitória nas presidenciais de julho de 2024.
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