"O livre comércio acabou, está morto", afirmou Lombard durante uma intervenção numa cimeira sobre competitividade organizada pela revista Politico em Paris.
Segundo o antigo governante, França e Europa devem "acordar" para o facto de EUA e China estarem a recorrer a práticas comerciais desleais e a afastar-se das regras da Organização Mundial do Comércio (OMC).
"Este novo mundo é muito mais brutal", advertiu. "Se a Europa não se proteger, entre o 'dumping' chinês e as tarifas norte-americanas, desapareceremos", observou.
Lombard defendeu que a UE deve adotar uma "visão mais nacionalista" nas suas relações comerciais com Washington e Pequim, e estar preparada para aplicar medidas mais duras contra ambas as potências.
Entre os exemplos positivos, saudou o plano da Comissão Europeia para impor restrições à importação de aço -- setor onde a China lidera em várias categorias de produto -- e apelou a medidas semelhantes para proteger a indústria química europeia.
"Temos de fazer à China o que ela nos fez durante 40 anos: obrigá-la a investir aqui e a transferir tecnologia", afirmou.
No que respeita aos Estados Unidos, Lombard considerou que a UE deve estar disposta a assumir riscos e retaliar contra medidas comerciais da administração de Donald Trump, sublinhando que é "dever da Europa" pôr fim a esse tipo de comportamento.
A posição do ex-ministro francês vai ao encontro da linha tradicional de Paris, defensora de uma política comercial europeia mais firme. O Governo francês terá manifestado ceticismo em relação ao acordo comercial concluído entre a UE e os EUA em julho.
A Comissão Europeia ameaçou inicialmente recorrer ao chamado Instrumento Anti-Coerção -- conhecido como a "bazuca comercial" -- para bloquear o acesso de produtos, serviços e investimentos norte-americanos ao mercado europeu. No entanto, o mecanismo nunca chegou a ser acionado.
A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, acabou por voar para a Escócia para assinar o acordo com Donald Trump, um gesto amplamente criticado em França como uma cedência a Washington.
"Donald Trump só entende a força", disse na altura o então ministro do Comércio francês, Laurent Saint-Martin, à rádio pública France Inter. "Devíamos ter mostrado maior capacidade de retaliação. O acordo teria sido diferente", apontou.
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