"O tribunal e o júri condenam Husamettin Dogan a 10 anos de prisão" com acompanhamento sociojudicial com "providência cautelar de 5 anos", anunciou o presidente da instância judicial, Christian Pasta.
O homem, de 44 anos, pai e operário, foi o único que recorreu da sentença em que mais de 50 homens foram também considerados culpados de agressão sexual e violação sob submissão química.
Husamettin Dogan tinha sido condenado em primeira instância a nove anos de prisão.
A sentença foi proferida após quase três horas de deliberação e quatro dias de audiências neste novo julgamento, emblemático dos temas de violência sexual, consentimento e administração de produtos químicos.
Dogan alegou durante os primeiros três dias da audiência que foi "enganado" por Dominique Pelicot, ex-marido da vítima, a quem descreveu como um "manipulador".
De acordo com a sua versão, pensava que Pelicot tinha obtido o consentimento da mulher, o que já foi negado no primeiro julgamento, que terminou em dezembro de 2024.
"É claro que Giséle Pelicot não consentiu isso", disse hoje o procurador Dominique Sié, apontando Dogan como totalmente responsável por um crime de violação agravada cometido em junho de 2019 na cidade de Mazan, no sul da França.
O procurador recordou que a mulher aparece imóvel nos vídeos e que tanto os peritos que compareceram no julgamento como outros arguidos descartaram que tenha havido qualquer consentimento, relatou a estação televisiva Franceinfo.
O Ministério Público pediu, neste recurso, uma pena de 13 anos de prisão, o mesmo que no primeiro julgamento, em que 51 homens foram condenados por agressão sexual e violação de Gisèle Pelicot, sem o seu conhecimento, tendo como principal culpado o ex-marido, que assumiu a pena máxima de 20 anos de prisão.
Neste julgamento, o Ministério Público apontou a evolução nula de Husamettin Dogan, que continua a negar a violação apesar dos 14 vídeos de cerca de meia hora no total que provam o crime.
Gisèle Pelicot também repreendeu Dogan na quarta-feira por se apresentar como uma "vítima" de Dominique Pelicot.
"Vítima de quê? A única vítima nesta sala sou eu. Assuma a responsabilidade pelas suas ações e pare de se esconder atrás da sua cobardia", afirmou.
Apesar de uma noite de violação estar agora a ser julgada, este caso é apenas parte do que a vítima sofreu durante quase uma década.
Dominique Pelicot administrava altas doses de comprimidos para dormir e ansiolíticos à mulher, diluídos em comida, fazendo com que ela entrasse pouco depois num sono profundo - à beira do coma, segundo os especialistas. Era então que ele e os outros homens aproveitavam para cometer os crimes.
Todos os atos foram registados em centenas de fotos e vídeos que Dominique Pelicot fez, com o conhecimento dos outros abusadores, que às vezes levantavam um polegar para cima em frente à câmara, enquanto a mulher estava completamente inerte.
[Notícia atualizada às 16h56]
Leia Também: MP quer aumentar condenação para 12 anos de violador de Gisèle Pelicot