A refém mais nova do Hamas, capturada a 7 de outubro de 2023, na altura, com apenas três anos, teve esta semana o seu primeiro dia de aulas.
De mochila cor-de-rosa às costas, e agora, já com cinco anos, a pequena Avigail Idan iniciou o seu percurso escolar.
“Ela estava tão entusiasmada”, contou a tia, e mãe adotiva, Leron Mor, à Reuters, recordando que a sobrinha fez e desfez a mala na noite anterior, vezes sem conta, em preparação para o primeiro dia de aulas. “Ela estava simplesmente a brilhar”, disse, com a sua voz embargada.
“No dia-a-dia, ela é uma criança normal, igual a todos os outros - e isso é o que lhe dizemos constantemente”, revelou Leron. “Gosta de dançar, de trabalhos manuais, de brincar com os irmãos e irmãs. Ela é uma criança muito feliz”, garantiu.
Os pais de Avigal não estão presentes neste marco da sua vida, nem estarão nos próximos: foram mortos no ataque do Hamas no sul de Israel, o mesmo que fez refém a criança, que se tornou a prisioneira mais nova do grupo.
“Sempre que há um evento importante, é agridoce”, confessou Leron. “Estamos felizes por eles, mas sabemos o quanto eles sentem falta da mãe e do pai e o quão importante era eles estarem aqui.”
© Schneider Children's Medical Center of Israel/Handout via REUTERS
Avigail foi libertada dois meses depois do ataque, durante um curto período de tréguas. A criança foi entregue aos tios, por quem foi adotada, mais tarde, assim como os seus dois irmãos. Agora, vivem com os tios e com as três crianças deles.
“O primeiro ano foi sobre sobrevivência, muito recente e dolorosa. Mas este ano, tem sido um passo em frente”, afirmou a irmã de Smadar, a mãe de Avigail.
“De certa forma, ainda estamos naquela manhã de 7 de outubro. Mas estamos a fazer o nosso melhor para continuar em frente, olhar para o futuro e para vivermos felizes”, disse.
O incidente ainda é - e, provavelmente, sempre será - um tópico sensível para Avigail, que, aliás, faz questão de deixar limites muito bem definidos no que a isso toca.
“Ela é uma rapariga muito esperta e forte”, disse Zoli, tio da menina. “Se ela não se sentir confortável com alguém a fazer-lhe perguntas, ela diz: ‘Para, eu não quero falar sobre isso’”.
E, por enquanto, os tios garantem que ela não tem de falar sobre isso se não quiser: “Quando ela for mais velha e se quiser dar uma entrevista, essa é uma decisão dela. Mas por agora, ela ainda nem seis anos tem. Deixem-na ser uma criança”.
No dia do ataque, membros do Hamas invadiram o abrigo onde a família de Avigail estava escondida. Smadar foi baleada e acabou por morrer. Os restantes conseguiram fugir, mas o pai das crianças foi também atingido, e morreu ainda com Avigail nos braços.
Os irmãos da ex-refém correram de volta para casa, onde ficaram escondidos durante horas. Avigail esgueirou-se por entre os membros do grupo palestiniano, e fugiu para a casa de uma amiga. Lá, acabou por ser raptada com a mãe da amiga e dois dos irmãos.
Só uma semana depois é que a família de Avigail soube que a criança de três anos estava na Faixa de Gaza, onde celebrou o seu quarto aniversário, antes de ser libertada em novembro de 2023.
© Schneider Children's Medical Center of Israel/Handout via REUTERS
A 7 de outubro o Hamas atacou, mas o conflito remonta a 1948
O ataque de 7 de outubro de 2023, levado a cabo pelo Hamas, fez mais de 200 reféns e 1.200 mortos.
O grupo palestiniano governa, de forma autocrática, a Faixa de Gaza desde 2006, quando foi eleito por uma população que vive há longas décadas um conflito com Israel. Aliás, desde a formação do Estado israelita, em 1948 (como resultado da II Guerra Mundial e da perseguição a judeus), têm existido diversos confrontos armados, levando à morte de milhares.
A guerra declarada por Israel a 7 de outubro de 2023 em Gaza para "erradicar" o Hamas - horas após um ataque a território israelita com cerca de 1.200 mortos e 251 reféns - fez, até agora, pelo menos 67.173 mortos (incluindo mais de 20.000 crianças) e 169.780 feridos, na maioria civis, segundo números atualizados das autoridades locais, que a ONU considera fidedignos.
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