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Professor de antifascismo dos EUA muda-se para Espanha após ser ameaçado

No passado domingo, Mark Bray, enviou um e-mail a todos os seus estudantes, informando-os de que as suas aulas passariam a ser exclusivamente online. Desde setembro, o professor disse já ter recebido três ameaças de morte.

Professor de antifascismo dos EUA muda-se para Espanha após ser ameaçado

© Isaiah Vazquez/Getty Images

Carolina Pereira Soares
08/10/2025 19:23 ‧ há 2 horas por Carolina Pereira Soares

Mundo

EUA

Um professor de história da Universidade de Rutgers, nos Estados Unidos, mudou-se para Espanha após receber ameaças de morte de apoiantes do presidente norte-americano Donald Trump.

 

No passado domingo, Mark Bray, enviou um e-mail a todos os seus estudantes, informando-os de que as suas aulas passariam a ser exclusivamente online.

“Dado que eu e a minha família não nos sentimos seguros na nossa casa, de momento, vamos viver na Europa este ano”, afirmou na nota, citada pelo The Washington Post. “Genuinamente, estou chateado por não poder passar tempo convosco na sala de aula”.

Bray ensina na Universidade de Rutgers desde 2019, dando cadeiras focadas em terrorismo, direitos humanos, Alemanha moderna e comunismo. Nos últimos anos, no entanto, tem recebido mais atenção pelo seu trabalho no ramo do antifascismo.

Mas a mais recente vaga de descontentamento para com o professor, começou em setembro deste ano, quando Bray foi citado por vários meios de comunicação, a criticar a ordem executiva do presidente norte-americano que designava a Antifa uma “organização de terrorismo doméstico”.

A Antifa é constituída por vários pequenos grupos de esquerda, que defendem a oposição ao fascismo, por todos os meios necessários, nomeadamente, a exposição pública de nazis e protestos contra a extrema-direita.

Online, os apoiantes de Donald Trump fizeram-se ouvir, criticando fortemente a posição de Bray, e considerando-o um “professor de terrorismo doméstico”, enquanto outros partilhavam a sua morada nas redes sociais.

Desde o dia 26 de setembro, o professor disse já ter recebido três ameaças de morte, incluindo uma que ameaçou assassiná-lo em frente aos seus alunos, durante uma aula.

A situação culminou com o grupo de estudantes conservadores, Turning Point USA, fundada pelo falecido Charlie Kirk, a criar uma petição onde exigia que a universidade demitisse Bray, dizendo que o professor era um risco para a segurança dos estudantes.

Em declarações ao The Washington Post, Mark Bray considerou que o assédio por parte de membros da extrema-direita exemplifica o ambiente criado pela administração de Trump de repressão de todas as opiniões e estudos que não sigam a mesma linha. Um ambiente, que defende, é um risco para a saúde do sistema de educação superior norte-americano.

“Tem havido um ataque concertado às universidades”, afirmou Bray. “E eu sinto que isto é uma faceta disso: fazer com que os professores que realizam pesquisas sobre movimentos de protesto não se sintam seguros para partilhar as suas pesquisas ou ensinar sobre temas que a administração não gosta”, defendeu.

Apesar disto, Bray espera regressar em breve aos Estados Unidos - e à sala de aula. Até lá, as suas aulas vão ser pré-gravadas, para que os estudantes as vejam mais tarde, quando lhes for mais conveniente. Isto, tendo em conta também que a diferença horária entre os Estados Unidos e Espanha é de seis horas.

“Eu tenho esperança de que vou regressar e também - e digo isto enquanto professor de história - que, um dia, iremos olhar para trás para este momento e pensar nele como uma história cautelar sobre o autoritarismo”, disse.

A administração atual dos Estados Unidos tem levado a cabo uma reforma nas universidades norte-americanas, ameaçando cortar o apoio federal às instituições, caso não sigam as exigências do governo.

Exemplo disso, é a Universidade de Harvard, que se recusou a acatar todas as ordens e que, por isso, teve, momentaneamente, o apoio cortado.

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Para além disto, e segundo a Fundação para os Direitos Individuais e de Expressão, há cada vez mais professores a receberem ameaças devido aos seus ensinamentos e investigações - à semelhança do que aconteceu com Mark Bray.

Zack Greenberg, que presta aconselhamento jurídico à fundação, revelou que temas como a etnicidade e o género tendem a gerar mais discórdia.

“Muitas destas alegações são apenas oposições, mal disfarçadas, à pedagogia e ensinamento dos professores - ao conteúdo das suas aulas”, afirmou Greenberg. “Temos o direito de ensinar coisas que podem ser controversas.”

Greenberg alerta ainda que o descontentamento existente está a erodir, cada vez mais, os princípios do país de liberdade de expressão na educação superior.

Leia Também: Estudo indica Trump como principal disseminador de desinformação nos EUA

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