Numa entrevista à imprensa do Vaticano, publicada na segunda-feira por ocasião dos dois anos do ataque do movimento islamita palestiniano Hamas contra Israel, o cardeal Pietro Parolin afirmou que "qualquer plano que envolva o povo palestiniano nas decisões sobre o seu futuro e permita o fim deste massacre, libertando os reféns e pondo fim à morte diária de centenas de pessoas, será bem-vindo e apoiado".
O chefe da diplomacia do Vaticano considerou ainda que o ataque do Hamas "foi desumano e injustificável" e que "os atacados" -- Israel -- "têm o direito de se defender, mas mesmo a autodefesa deve respeitar o parâmetro da proporcionalidade".
"Infelizmente, a guerra resultante teve consequências desastrosas e desumanas", lamentou.
"Corremos o risco de nos habituarmos a esta carnificina! É inaceitável e injustificável reduzir seres humanos a meras vítimas colaterais", acrescentou Parolin.
A posição mereceu uma imediata condenação das autoridades israelitas.
A embaixada de Israel junto do Vaticano considerou que a entrevista "corre o risco de minar os esforços para acabar com a guerra em Gaza e contrariar o crescente antissemitismo", numa mensagem na rede social X.
"Embora sem dúvida bem-intencionada", a entrevista "foca-se nas críticas a Israel, ignorando a persistente recusa do Hamas em libertar reféns ou parar a violência", referiu.
Para as autoridades israelitas, "o mais preocupante é o uso problemático da equivalência moral onde ela não tem lugar".
"Por exemplo, a aplicação do termo 'massacre' tanto ao ataque genocida do Hamas em 07 de outubro quanto ao legítimo direito de Israel à autodefesa", acrescentou.
A embaixada alegou que "não há equivalência moral entre um Estado democrático que protege os cidadãos e uma organização terrorista que tenta matá-los" e pediu que "declarações futuras reflitam esta importante distinção".
A embaixada de Israel e o Vaticano já tinham tido momentos de tensão no passado devido a algumas palavras do Papa Francisco, que morreu em 21 de abril passado.
Hoje, o Papa Leão XIV defendeu o secretário de Estado das críticas da embaixada israelita, afirmando que Parolin transmitiu "a opinião da Santa Sé".
"Prefiro não comentar, mas o cardeal expressou muito bem a opinião da Santa Sé a este respeito", referiu o chefe da Igreja Católica, ao deixar o palácio na cidade romana de Castel Gandolfo (centro).
No dia em que se assinala o segundo aniversário dos ataques do Hamas em Israel, a 07 de outubro de 2023, o Papa sublinhou que "foram dois anos muito dolorosos".
"Há dois anos, com esse ato terrorista, mais de 1.200 pessoas morreram", disse o Papa, acrescentando: "Fala-se de 67.000 palestinianos que também foram mortos" desde então.
"É preciso reduzir o ódio, recuperar a capacidade de diálogo e procurar soluções para a paz", pediu.
Por outro lado, o papa lamentou os atos de antissemitismo.
"A existência -- não sei se estão a aumentar -- de atos de antissemitismo é verdadeiramente preocupante", disse aos jornalistas.
"Devemos proclamar a paz, o respeito pela dignidade de todas as pessoas", acrescentou.
Leão XIV indicou que na primeira viagem ao exterior, à Turquia e ao Líbano, tem como objetivo enviar uma mensagem de paz para o Médio Oriente.
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