O apelo da UNRWA, sediada em Amã, na Jordânia, e presentemente impedida por Israel de entrar na Faixa de Gaza para distribuir ajuda humanitária, surgiu no dia em que se completam dois anos sobre o ataque de proporções sem precedentes do movimento islamita palestiniano Hamas a território israelita, a 07 de outubro de 2023, que fez cerca de 1.200 mortos e 251 reféns, e da subsequente guerra de Israel no enclave costeiro, que já fez mais de 67.000 mortos -- incluindo mais de 20.000 crianças - e quase 170.000 feridos, na maioria civis.
"Ao completarem-se dois anos desde o começo deste pesadelo, volto a pedir a libertação de todos os reféns e prisioneiros palestinianos e um cessar-fogo imediato", declarou o comissário da agência especializada da ONU, Philippe Lazzarini, sublinhando que "as armas devem calar-se em todo o lado".
Apelou também para "o fornecimento, sem restrições, de ajuda humanitária essencial, em grande escala, a Gaza, também através da UNRWA" e pediu igualmente "responsabilidade e justiça para que todos os responsáveis pelas atrocidades cometidas a 07 de outubro e depois dessa data prestem contas".
"Não há outra saída para este abismo e este caos", sustentou Lazzarini, insistindo, numa mensagem publicada na rede social X, que desde 07 de outubro de 2023 a realidade para "demasiadas pessoas" é de "profunda e imensa dor, sofrimento e angústia".
"Em Gaza, durante dois longos anos, a população só conheceu destruição, deslocações, bombardeamentos, medo, morte e fome", afirmou.
"Cessar-fogo já", escreveu, horas depois de o secretário-geral da ONU, António Guterres, ter também emitido um apelo no mesmo sentido, enquanto decorrem contactos indiretos, mediados pelo Egito, para um possível acordo de cessar-fogo.
Dois anos de guerra de Israel na Faixa de Gaza fizeram também milhares de desaparecidos, soterrados nos escombros e espalhados pelas ruas, e mais alguns milhares que morreram de doenças e fome, causada por mais de dois meses de bloqueio de ajuda humanitária e pela posterior entrada a conta-gotas de mantimentos, distribuídos em pontos considerados seguros pelo Exército, que regularmente abre fogo sobre civis famintos, tendo até agora matado pelo menos 2.600 e ferido mais de 19.000.
Há muito que a ONU declarou o território em grave crise humanitária, com mais de 2,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" e "o mais elevado número de vítimas alguma vez registado" pela organização em estudos sobre segurança alimentar no mundo, mas a 22 de agosto emitiu uma declaração oficial do estado de fome na cidade de Gaza e arredores.
Já no final de 2024, uma comissão especial da ONU acusara Israel de genocídio em Gaza e de usar a fome como arma de guerra, situação também denunciada por países como a África do Sul junto do Tribunal Internacional de Justiça, e uma classificação igualmente utilizada por organizações internacionais de defesa dos direitos humanos.
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