Na passada quinta-feira, a flotilha humanitária que rumava a Gaza, com quatro portugueses a bordo, foi intercetada pelas autoridades israelitas.
Os ativistas que pretendiam fazer chegar ajuda a Gaza foram detidos, tendo regressado no domingo à noite a Portugal, onde foram recebidos sob um forte aparato no aeroporto de Lisboa.
À chegada, a líder bloquista Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e ainda Miguel Duarte e Diogo Chaves denunciaram os maus-tratos de que terão sido alvo às mãos de Israel.
Relatos, porém, desmentidos ao Notícias ao Minuto pela Embaixada de Israel em Portugal. “As alegações relativas aos maus-tratos infligidos aos detidos da frota Hamas-Sumud são mentiras descaradas. Todos os direitos legais dos detidos são plenamente respeitados”, garante Yonatan Gonen, chefe de Missão desta Embaixada.
Recorde-se que Mariana Mortágua contou que, durante os quatro dias em que os portugueses estiveram detidos numa prisão isrealita, viram "camaradas a ser espancados" e estiveram "várias horas algemados". Os ativistas relataram ainda que passaram “fome e sede”.
Já a Embaixada de Israel em Portugal assegura que “Israel envidou todos os esforços possíveis para garantir a segurança dos passageiros da frota, durante todo o percurso”.
Embarcação Sumud pretendia "servir o Hamas"?
Relativamente à interceção da flotilha humanitária, a Embaixada de Israel insiste que a embarcação Sumud pretendia “servir o Hamas e criar provocação, em vez de entregar ajuda a Gaza”, e que “o bloqueio de Gaza por Israel é legal ao abrigo do direito internacional e que se trata de uma medida de segurança legítima para impedir a entrada de armas em Gaza por mar”, algo que se tornou mais “evidente na sequência do massacre de 7 de outubro de 2023 e da guerra que se seguiu”.
“É importante enfatizar a ligação da frota com a organização terrorista Hamas. A frota é abertamente apoiada pelo grupo jihadista Hamas. Esta foi uma iniciativa jihadista ao serviço da agenda do grupo terrorista. Aqui estão apenas alguns exemplos: Zaher Birawi, líder da frota e figura da Irmandade Muçulmana na Europa, foi fotografado várias vezes com o líder do Hamas, Ismail Haniyeh; Saif Abu Kishk, um agente do Hamas, que dirige a Cyber Neptune, uma empresa de fachada em Espanha, proprietária dos navios da frota que navegam para Gaza; Marouan Ben Guettaia e Wael Nawar, porta-vozes da frota, fotografados várias vezes com o chefe do Hamas na África do Norte, Youssef Hamdan", reforça Yonatan Gonen.
Prova disso, alega ainda o diplomata, é que a flotilha nunca aceitou as propostas de Israel para deixar ajuda humanitária noutro local por forma a ser entregue de forma pacifica em Gaza.
“A ’Frota Samud’ do Hamas recusou-se repetidamente a transferir qualquer ajuda que pudesse estar a transportar para Gaza através dos canais legais existentes. Israel propôs à frota Hamas-Sumud que descarregasse a ajuda na Marina de Ashkelon, em Israel, ou em qualquer porto de um país vizinho, de onde pudesse ser transferida pacificamente para Gaza. Israel também concordou com a proposta do governo italiano e do Papa de descarregar a ajuda no porto de Chipre e depois transferi-la para Gaza. No entanto, a frota recusou. Em vez disso, escolheu o caminho ilegal”, argumenta.
"Israel e Portugal continuam a ser países amigos"
Apesar do envolvimento de ativistas portugueses na flotilha humanitária, o chefe de Missão da Embaixada de Israel, garante que “Israel e Portugal continuam a ser países amigos”, que mantêm “uma boa e respeitosa relação”.
“Existe uma boa cooperação em vários campos, incluindo economia e inovação, da qual ambos os povos beneficiam”, defende o diplomata, convicto, ainda, de que a situação dos últimos dias não fragiliza a imagem do seu país.
Nesta senda, partilha que a Embaixada “recebeu milhares de mensagens de apoio”, as quais refletem, na sua opinião, “o entendimento de todos de que a flotilha violou a lei internacional” e não tinha como objetivo responder a “propósitos humanitários”.
Bloqueio da flotilha humanitária
Recorde-se que cerca de 50 barcos, que formavam o grupo, foram intercetados pela Marinha israelita ao largo da costa do Egito e da Faixa de Gaza entre quarta-feira e sexta-feira passadas.
A coordenadora do Bloco de Esquerda, Mariana Mortágua, a atriz Sofia Aparício e os ativistas Miguel Duarte e Diogo Chaves também foram detidos, mas regressaram na noite de domingo a Portugal.
Os detidos portugueses também denunciaram abusos e a falta de direitos dos prisioneiros nas prisões israelitas.
Para os organizadores da flotilha e para a Amnistia Internacional, um movimento que defende os direitos humanos, a detenção dos ativistas foi ilegal.
A guerra no Médio Oriente foi desencadeada pelos ataques liderados pelo grupo islamita palestiniano Hamas em 7 de outubro de 2023, há precisamente dois anos, no sul de Israel, sendo que a retaliação israelita já provocou mais de 65.000 mortos.
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