Na lista anunciada destaca-se o regresso ao Governo de dois leais ao Presidente, Emmanuel Macron: Roland Lescure, que foi titular da Indústria de 2022 a 2024, agora nomeado para a Economia e Finanças, e Bruno Le Maire, que sucederá a Lecornu como titular da Defesa, depois de ter desempenhado as funções de ministro da Economia entre 2017 e 2024.
No novo Governo mantêm-se alguns "pesos pesados" do executivo de Bayrou, como os ministros do Interior, Bruno Retailleau, líder dos Republicanos, assim como Jean-Noël Barrot, que prossegue com a pasta da Europa e dos Negócios Estrangeiros, e o 'macronista' Gérald Darmanin, à frente do Ministério da Justiça.
Lecornu optou igualmente por manter a antiga primeira-ministra Élisabeth Borne na Educação Nacional, Ensino Superior e Investigação, e outro antigo primeiro-ministro, que também tinha sido resgatado para o gabinete de François Bayrou em dezembro passado, Manuel Valls, para os assuntos do Ultramar.
Rachida Dati, responsável pela Cultura, Catherine Vautrin, pelo Trabalho, Saúde e Solidariedade, Agnès Pannier-Runacher, pela Transição Ecológica, e Annie Genevard, na Agricultura, manter-se-ão igualmente nos seus cargos, segundo a composição do Governo lida hoje pelo secretário-geral do Palácio do Eliseu, Emmanuel Moulin, e disponível no 'site' do Governo francês.
Amélie de Montchalin e Philippe Tabarot, que desempenharam funções de 'ministros delegados' no Governo de Bayrou, vão assumir as pastas das Contas Públicas e dos Transportes, respetivamente.
Para o Planeamento Territorial, Descentralização e Habitação, Lecornu escolheu Éric Woerth, antigo ministro das Contas Públicas na era de Nicolas Sarkozy, recentemente absolvido no julgamento por financiamento ilegal da Líbia da campanha do ex-Presidente, em 2007. Woerth era o tesoureiro da campanha.
Entre os novos nomes contam-se Marina Ferrari, como ministra do Desporto e Juventude, e Naïma Moutchou, que assume a pasta da Função Pública, Inteligência Artificial e Transformação Digital.
No total, a lista anunciada inclui 16 ministros titulares, cinco deles ministros de Estado (Borne, Valls, Darmanin, Retailleau e Le Maire), e ainda dois 'ministros delegados': o deputado Mathieu Lefèvre, que ficará responsável pelas relações com a Assembleia Nacional francesa, e Aurore Bergé, que acrescentará o cargo de porta-voz do Governo às suas funções anteriores de titular da Igualdade.
A equipa governamental deverá ficar completa nos próximos dias.
Da oposição, as primeiras reações foram rápidas, tanto da esquerda como da extrema-direita, que criticaram a continuidade de Lecornu e a nomeação de Le Maire, prevendo nova queda do executivo, sem pactos com outros partidos, nem apoio parlamentar que ultrapasse um voto de desconfiança, que os opositores de Macron ameaçam apresentar.
"A eleição deste mesmo Governo, temperado com o homem que levou França à bancarrota, é patética. Estamos sem palavras", disse a ultradireitista Marine Le Pen, que tem pressionado por eleições antecipadas, na sua conta no X, referindo-se à nomeação de Bruno Le Maire e à situação das contas públicas francesas, quando deixou o cargo de ministro da Economia em 2024.
Sébastien Lecornu é o quarto primeiro-ministro nomeado no último ano por Emmanuel Macron, depois de o seu antecessor ter sido deposto pelo parlamento dividido pelas propostas de cortes na despesa pública.
O impasse político tem raízes na decisão de Macron de dissolver a Assembleia Nacional, em junho de 2024, e partir para eleições, que goraram as expectativas de fortalecer a sua aliança centrista pró-europeia. O resultado foi uma câmara baixa do parlamento fragmentada, sem um bloco político dominante, nem capacidade de estabelecer alianças.
A economia francesa, uma das maiores do mundo e a segunda maior da União Europeia, enfrenta um défice e uma dívida pública crescentes.
Lecornu enfrentará o primeiro teste na terça-feira, quando discursar na Assembleia Nacional, para apresentação do programa do Governo e das linhas do orçamento para 2026.
Na sexta-feira, Lecornu disse que não usará o poder constitucional especial para forçar a aprovação de um orçamento no parlamento sem votação, como fizeram os seus antecessores imediatos, optando por um acordo com os deputados de esquerda e de direita, com o objetivo de evitar uma moção de censura.
No sábado, porém, o líder do Partido Socialista, Olivier Faure, alertou para a possibilidade de uma nova moção de censura, que derrubaria o Governo, "se a situação não mudar".
Desde a nomeação de Lecornu, há pouco mais de três semanas, sindicatos e organizações sociais mobilizaram protestos em todo o país, incluindo o encerramento da Torre Eiffel, na quinta-feira, numa ação contra os cortes esperados nas despesas com serviços públicos.
A primeira reunião do Governo francês hoje anunciado realiza-se na segunda-feira, às 16h00, presidido por Emmanuel Macron.
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